O mercado viu com preocupação o aumento do endividamento da Petrobras no primeiro trimestre, fruto das captações para honrar os investimentos, que em 2014 serão de US$ 40 bilhões. No primeiro trimestre a dívida líquida alcançou a marca de US$ 100 bilhões no fim de março. Com investimento elevado e sem contabilizar ainda o esperado aumento da produção, o reajuste nos preços da gasolina e diesel, atualmente com defasagem, é uma das questões mais importantes para o equilíbrio financeiro da companhia.
A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, não negou essa importância. Ela disse que os preços são uma questão importante que é discutida com o conselho de administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de forma “permanente, sistemática e padronizada”.
Segundo Graça, a “orientação” do conselho é que as correções sejam feitas, mas sem repassar volatilidade para o mercado, o que em si é dúbio. Isso porque deixa para a estatal a responsabilidade de prever quanto da variação de preços do petróleo e derivados no mercado internacional, assim como a taxa de câmbio, são permanentes ou fruto de mudança passageira.
Ao listar seus três desafios para 2014, a presidente da Petrobras mencionou o aumento da produção; o cumprimento do plano de investimentos controlando custos; e, no caso de existir defasagem de preços, a sua correção. Ela ponderou que a apreciação do real em relação ao dólar, de R$ 2,3 para R$ 2,2, trouxe os preços internos mais próximo da convergência. Mas não resolveu o problema.
“Enquanto não houver paridade plena temos de considerar o aumento de preço. Temos um limite de tempo para fazer isso, para que se possa passar para 2015 numa condição muito melhor”, afirmou Graça.
Ao detalhar essas condições, a executiva mencionou a produção, as despesas de capital (capex) controladas e maior capacidade de refino com a entrada do Nordeste em novembro, passando pelas compras de GNL no longo prazo. Graça também estimou que a Petrobras vai substituir 60% dos 8.298 funcionários que aderiram ao plano de demissão voluntária.
O Itaú BBA viu aí a deixa para projetar aumento de 4% para o diesel e para a gasolina após as eleições de outubro. Mas há um certo ceticismo depois que a companhia anunciou a adoção de uma fórmula, no ano passado, sem divulgar a sua metodologia. “Achamos difícil acreditar que o mercado dará credibilidade à diretoria para aprovar a implementação efetiva de uma fórmula depois da novela do ano passado”, escreveram os analistas Paula Kovarasky e Diego Mendes.
Já Luiz Carvalho e Filipe Gouveia, do HSBC, chamaram a atenção para o aumento da dívida líquida recorde, que chegou a 4 vezes a proporção de dívida líquida dividida pelo Ebitda (índice que mede quanto precisa produzir para pagar a dívida), o que aumentou a alavancagem total para 39%. Nesse nível, segundo eles, o grau de endividamento da Petrobras está “na fronteira” dos critérios para manutenção da empresa como grau de investimento pelas agências de classificação de risco. Os problemas apontados são a interferência negativa do governo, a alta alavancagem, o crescimento da produção abaixo da meta, a inexistência de uma política de preços eficaz e a baixa expectativa de uma redução dos investimentos.
Graça Foster afirmou que só em 2015 será possível reverter essa alavancagem, admitindo que se trata de algo difícil que precisará ser feito nos próximos quinze meses e que a empresa tem “a obrigação de fazer”. A executiva não fez a ligação, mas esse índice vai cair à medida que aumentar a produção e reduzir os prejuízos com a importação de combustíveis vendidos no Brasil com preço abaixo dos de aquisição.
Apesar de destacar entre os pontos positivos da Petrobras o tamanho de suas reservas provadas, o que garante o crescimento da produção no futuro, o Credit Suisse não espera nada que possa mudar o comportamento das ações. Para os analistas Vinicius Canheu e André Sobreira, no geral a Petrobras continua apresentando balanço apertado e precisando muito de aumentos de preço e da produção, o que até agora não aconteceu.
Os relatórios para clientes dos bancos mencionados destacam a expectativa de aumento da produção a partir de abril. A meta da companhia é de um aumento de 7,5% com margem de erro de 1% para baixo (o mais provável) ou para cima. Ontem a Petrobras anunciou o início da operação da plataforma P-62, instalada no campo de Roncador, na Bacia de Campos, o que é um bom sinal.
Sobre as denúncias de suborno a funcionários pela SBM, Graça disse que “não há fato ou documentos que evidenciem” pagamentos. A frase foi questionada por Fabio Fuzetti, da Antares Capital, gestora de recursos com ações da estatal. Ele questiona o resultado da investigação interna e a improbabilidade de um funcionário “passar recibo ou deixar evidências de suborno”.
Fonte: Valor Econômico – Cláudia Schüffner, Rodrigo Polito e Marta Nogueira | Do Rio