Gasto da Petrobras com importações de combustíveis deve subir 24% este ano para mais de R$ 18 bi

  • 26/05/2014
Novas plataformas da Petrobras

2013

Janeiro FPSO Cidade de São Paulo Campo de Sapinhoá
(Pré-sal na Bacia de Santos)
120 mil bpd
Fevereiro FPSO Cidade de Itajaí Campo de Baúna,
Bacia de Santos
80 mil bpd
Junho FPSO Cidade de Paraty Campo de Lula 120 mil bpd
Novembro P-63 Campo de Papa-Terra 140 mil bpd
Dezembro P-55 Campo de Roncador 180 mil bpd

2014

Março P-58 Campo de Parque das Baleias 180 mil bpd
Maio P-62 Campo de Roncador 180 mil bpd

2014/2º semestre – plataformas previstas para iniciar operações:

P-61 Campo de Papa-Terra,
interligada à TAD
140 mil bpd
FPSO Cidade de Mangaratiba Campo de Lula / Iracema 150 mil bpd
FPSO Cidade de Ilhabela Campo de Sapinhoá 150 mil bpd
Fonte: ANP e Petrobras

 

RIO — O aumento do consumo de combustíveis, estimado pelo mercado em cerca de 4% neste ano, vai se traduzir em mais gastos com as importações de derivados, principalmente de gasolina e diesel. Segundo projeções feitas pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), os custos com a compra desses produtos podem subir 24,5% em relação ao ano passado. O montante pode chegar a US$ 18,8 bilhões, maior que os US$ 15,1 bilhões de 2013, já descontados os cerca de US$ 4,5 bilhões referentes às compras externas de 2012 contabilizadas apenas no ano passado.

O Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) estima que a demanda por gasolina e óleo diesel crescerá 4%, mesmo nível do ano passado. O diretor do CBIE, Adriano Pires, diz que a expectativa é que as importações de derivados somem 462,2 mil barris por dia, 23,3% a mais que os 374 mil barris médios por dia de 2013. O consumo total de combustíveis deve ficar em 2,3 milhões de barris por dia, contra 2,2 milhões de barris um ano antes.

Se por um lado a expansão das importações de derivados ainda pesará nas contas da Petrobras, por outro o aumento de 7,5% na produção de petróleo esperado para este ano vai melhorar a geração de caixa da estatal. E para alcançar essa meta, considerada “agressiva” pelo mercado, a Petrobras vem trabalhando desde o ano passado para a instalação de 11 novas plataformas.

Segundo a Petrobras, as 11 unidades, que começaram a ser instaladas em janeiro de 2013 e serão concluídas até o fim deste ano, ampliarão a capacidade instalada em 1,3 milhão de barris de petróleo por dia. Esses novos sistemas produzirão até dezembro mais de 650 mil barris de petróleo por dia. A estatal adiantou que somente os campos do pré-sal atingirão a produção recorde de 500 mil barris médios por dia neste ano, chegando a picos de 600 mil barris diários. O recorde de produção no pré-sal, de 470 mil barris diários, foi registrado no último dia 11.

— Pode ser que a Petrobras consiga atingir o aumento da produção previsto, de 7,5%, o que vai significar, na realidade, a produção voltar aos patamares de 2011, de cerca de 2 milhões de barris por dia. O governo conta com esse aumento da produção para melhorar o caixa da companhia, para compensar a falta de reajuste de preços dos combustíveis — explica Pires.

Especialistas lembram ainda que a Petrobras também tem investido para aumentar a capacidade de refino. Eles citam a primeira unidade da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que tem início de operação prevista para o fim deste ano, com capacidade de refinar 115 mil barris de petróleo por dia. Segundo Ernani Filgueiras, gerente executivo de Abastecimento e Petroquímica do IBP, os investimentos são essenciais para equilibrar o aumento no consumo nacional de combustíveis.

— O ritmo de crescimento vai continuar na mesma proporção do ano passado, quando as vendas da gasolina subiram 4,2% e as do diesel, 4,6%. As importações vão continuar crescendo em 2014 e em 2015. Só com a entrada das novas refinarias é que haverá uma redução nesses volumes. Abreu e Lima vai produzir diesel e já começa a plena carga — diz Filgueiras.

Para Alísio Vaz, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), a venda será impulsionada este ano pelo aumento da demanda por gasolina, diesel e óleo combustível:

— No caso da gasolina, haverá aumento das vendas por causa dos novos carros zero, que devem ter uma desaceleração, mas ainda assim vão ter alta. O diesel está associado à agricultura; e os óleos combustíveis, às térmicas.

Segundo o Plano Estratégico 2030 da Petrobras, somente a partir de 2019 é que o Brasil caminhará para a autossuficiência em derivados, com a entrada da primeira unidade do Comperj (RJ) e da segunda unidade de Abreu e Lima, além de parte das novas refinarias no Nordeste, ainda em licitação.

Meta agressiva de aumento de produção: 7,5%

A meta de aumento de 7,5% da produção para este ano vem sendo classificada como agressiva por parte dos especialistas. No primeiro trimestre deste ano, a produção atingiu 1,922 milhão de barris por dia, alta de 1% em relação ao mesmo período do ano passado e queda de 2% em relação ao quarto trimestre de 2013. Alexandre Calmon, sócio da área de óleo e gás do Veirano Advogados, diz que o crescimento só será possível se não houver nenhum tipo de problema operacional.

— Crescer 7,5% é claramente uma meta agressiva. Se não houver contrapontos, é factível. Mas há muitas variáveis, como as condições do meio ambiente. Manter o cronograma é como os estádios para a Copa: quanto mais fica em cima (da data de entrega), menor é a margem para administrar imprevistos. Além disso, imprevistos podem acontecer, pois esse é um negócio de risco — destaca Calmon.

Por sua vez, a economista Paula Barbosa, especialista em óleo e gás, não acredita que a produção de petróleo cresça 7,5% neste ano. No entanto, ela reconhece o esforço que a companhia vem fazendo para aumentar a produção:

— O mercado viu com bastante apreço o esforço que vem sendo feito pela gestão atual para reduzir custos, otimizar a produção em campos antigos e aumentar a produção. Mas acredito que, na melhor das hipóteses, a produção neste ano aumentará em torno de 4%.

A economista lembrou que imprevistos sempre ocorrem, como atraso na entrega de equipamentos e problemas inesperados em sistemas e plataformas.

— É claro que a gente quer que a Petrobras atinja suas metas, e está realizando ações boas, como o aumento da produtividade em alguns campos na Bacia de Campos. Mas a meta deste ano é ver um céu de brigadeiro em um céu que está com nuvens escuras — afirma Paula.

Já o professor Edmar Fagundes, do Grupo de Economia da Energia, do Instituto de Economia da UFRJ, acredita que a Petrobras vai atingir o objetivo de crescimento deste ano, pois a companhia vem trabalhando em ritmo acelerado desde o ano passado. O desafio, segundo ele, é atingir a meta de produção de 3,2 milhões de barris por dia em 2018.

— Acredito que, com todos esses sistemas que estão sendo colocados em operação, com a interligação de um número cada vez maior de poços com alta produtividade, como os do pré-sal na Bacia de Santos, ela (Petrobras) conseguirá aumentar a produção neste ano. Mas creio que o desafio maior é depois, saltar de cerca de 2 milhões para 3,2 milhões de barris diários a partir de 2018 — destaca.

PDV pode comprometer novos projetos

Para o ex-diretor da Petrobras Wagner Freire, a produção crescerá em 2014, mas menos do que o projetado pela empresa. Segundo ele, o plano de demissão voluntária (PDV) pode dificultar o gerenciamento de novos projetos:

– Apesar de ter ótimos diretores, a dificuldade é o gerenciamento de seus projetos. Com o PDV, em dois anos haverá menos profissionais. E isso pode levar a dificuldades.
André Donha, diretor da KPMG no Brasil, também ressalta a questão operacional como fator determinante para permitir o aumento da produção:

– As paradas programadas, que vêm sendo feitas, são essenciais e já estão incluídas no cronograma da empresa. Essa programação é justamente para evitar as paradas corretivas, que são as piores e afetam a produção.

Já Claudio Duhau, analista da corretora Ativa, prevê que a produção apresentará melhora nos próximos meses.

– Crescer 7,5% é muito difícil, mas dá para chegar. Acho que se crescer 6% neste ano o mercado já vai gostar bastante — diz Duhau.

Fonte: O Globo – Ramona Ordoñez e Bruno Rosa

 

26/05/2014|Seção: Notícias da Semana|Tags: , |