O Brasil está com o pé no freio, mas a construção naval – majoritariamente em razão das encomendas de óleo e gás – continua acelerando. A economia deverá ter expansão, este ano – segundo o boletim Focus, que é o sentimento de agentes privados colhido pelo Banco Central – de apenas 1,24%, mas os números dos estaleiros serão bem melhores. Informa o presidente do Sindicato Nacional da Construção Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha, que o aumento de produção deverá ser de 15%. Além disso, o setor espera se beneficiar de ganho de 15% na produtividade, medido pela redução do volume homem/hora por tonelada, que deverá se situar em 200 no fim do ano.
Hoje, o total de empregos diretos é de 79 mil, esperando-se atingir 100 mil em meados de 2015. Em geral, os técnicos multiplicam por cinco para calcular os empregos indiretos, mas Rocha acha que poderia ser por seis: “Os empregados e suas famílias têm atendimento médico privado. Acredito que esse contingente de pessoal demanda serviços das empresas que atendem ao setor”, diz, com entusiasmo. Além de muitas expansões, estão sendo ultimados três novos estaleiros: Wilson, Sons, no Rio Grande do Sul; Jurong (de Cingapura), no Espírito Santo; e Enseada, na Bahia, dos grupos Odebrecht/UTC/OAS/Kawasaki.
Em barcos de apoio, a Petrobras deverá se aproximar em breve de 130 barcos contratados, próximo, portanto, à meta anunciada, de 146 barcos. Nesse caso, a contratação não é direta – como a feita pela Transpetro, de 46 navios – mas a estatal escolhe os operadores por licitação e estes grupos privados encomendam os barcos aos estaleiros. O presidente do Sinaval elogiou declaração do representante dos armadores – Bruno Lima Rocha, presidente do Syndarma – de que o país precisa ter sua própria marinha mercante. “Não faz sentido navios brasileiros se limitarem a 2% ou 3% do comércio gerado”, acentua Rocha. Sobre um dos pontos criticados, que é o preço do navio, explica Rocha:
– Não se pode mentir. Tudo no Brasil é mais caro, da energia elétrica ao ferro e ao cimento. Graças ao Fundo de Marinha Mercante, podemos competir em preço com Europa, Estados Unidos e Japão, mas não com a China. Além disso, nenhum economista do mundo sabe se o subsídio chinês é de 1% ou de 200% do preço de cada produto, pois lá não há democracia nem imprensa livre.
Rocha qualifica comentários de que a política de conteúdo nacional poderia ser substituída por importações como um balão de ensaio. Frisa que, exceção feita a sondas, o conteúdo nacional varia de 45% a 70% nos estaleiros, sendo de 62% em navios, conforme dados do Fundo de Marinha Mercante. O Sinaval está preparando um documento para os presidenciáveis, no qual mostrará os benefícios da política de conteúdo local. Em 2003, os estaleiros mal tinham 5 mil empregados, e hoje a realidade é diferente. Atrasos na entrega também ocorrem em Cingapura e China, e os estaleiros sabem que, a médio prazo, terão de exportar e ser competitivos para crescer. Para Rocha, o desemprego de 6 mil pessoas em um local como Angra dos Reis (RJ) – como ocorria em 2002 – não é simples dado econômico, mas tem um efeito social devastador na comunidade.