Setor naval de Niterói em crescente evidência

  • 15/06/2014

Em pleno crescimento, estaleiros da cidade seguem produzindo a todo vapor e os trabalhadores pressionam empresas por melhores salários

O setor de construção naval historicamente é considerado um dos segmentos relevantes na economia de Niterói. Nos últimos 10 anos, as novas demandas por explorações de petróleo e a criação do Programa de Modernização e Extensão da Frota (Promef) do Governo Federal foram determinantes para revitalização do segmento na cidade, assim como, em diversos pólos pelo Brasil. Com investimentos na ordem de R$ 11, 2 bilhões, na encomenda de 49 navios e 20 comboios hidroviários, o Promef acentuou o crescimento da Indústria Naval brasileira garantindo a recuperação da produção, gerando renda e investimentos em mão de obra nacional. E diante desse cenário, Niterói se tornou área estratégica para os investidores. 

É na cidade das “Águas Escondidas” – significado indígena para a palavra Niterói – que a construção naval vem caminhando e dando o compasso para o restante do País, sendo uma das principais referências para as demais regiões e contribuindo para recuperação do segmento. Atualmente, das 50 empresas associadas ao Sindicato da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), 13 estão presentes em Niterói. Somente os cinco maiores estaleiros do município: Aliança, Mauá, Vard, Brasa e Renave, são responsáveis pela geração de cerca de 10 mil empregos diretos. Além desses estaleiros, as empresas do segmento: Enaval, Naproservice, UTC Engenhaira, Equipemar e Dockshore constituem juntas outro expressivo bloco de contratantes. 

Localizado na Ponta da Areia, o estaleiro Mauá foi responsável pela construção de quatro dos seis navios entregues na primeira etapa do Promef: Celso Furtado (2011), Sérgio Buarque de Holanda (2012), Rômulo de Almeida (2013) e José Alencar (2014), segundo dados da Sinaval. Com 183 metros e capacidade para transportar 56 milhões de litros combustíveis, o José Alencar, entregue em janeiro deste ano, custou cerca de R$ 160 milhões e gerou mais de quatro mil empregos. Para próxima etapa do programa está prevista a construção de mais oito embarcações pelo estaleiro Mauá, na ordem de R$1,4 bilhão. Além dessas contratações, de acordo com os dados da Sinaval, entre 2013 e 2014, o estaleiro possuía na carteira de encomendas 15 itens entre navios de produtos e navios de petroleiro Panamax. 

Na Avenida do Contorno, a Renave contém uma tabela enxuta de encomendas previstas de 2013: a construção de quatro navios para transporte de marítimo. Já o estaleiro Aliança possuí duas encomendas do mesmo segmento, e a Vard, na Ilha da Conceição outros cinco. Por fim, a Brasa contém entre os serviços, a integração e construção de módulos para embarcações. Embora as empresas não divulguem dados referentes ao faturamento, sabe-se que o cenário para os próximos meses é de aquecimento do setor. As novas demandas de exploração do setor petroleiro, no caso do Campo de Libra, trará novos desafios para a logística de transporte e distribuição ao seguimento. 

Se de um lado o setor de construção naval dá sinas de que há ventos favoráveis ao investimento no setor, por outro, o sindicato patronal segue pressionado em função da negociação do contrato de trabalho da categoria com os trabalhadores. Entre março e maio deste ano, metalúrgicos de diversos estaleiros da cidade eclodiram o estado de greve a fim de forçar o sindicato das empresas a cederem aos reajustes de salários e vale-alimentação. Entre os pedidos encontram-se aumento salarial de 12%, R$ 400 de vale-alimentação sem descontos, ajuda de custo para filhos, revisão dos planos de saúde e pagamentos de horas extras, entre outros pedidos. 

“É uma injustiça muito grande contra nós. Fui demitido injustamente por não concordar com a proposta apresentada pela empresa. Não vamos nos intimidar com isso. Temos nossos direitos e vamos lutar pela demissão injusta dos nossos colegas”, ressalta o encanador Ailton de Oliveira, 64 anos. 

De acordo o Sindicato Nacional das Indústrias de Construção Naval (Sinaval), nos últimos anos, o órgão tem encontrado dificuldade de negociação, uma vez que ocorre uma mobilização paralela ao sindicato. 

“As negociações este ano ocorrem num momento de pleno emprego na indústria naval, com entregas programadas de navios e plataformas de petróleo que não podem atrasar, o que de fato aumenta o poder de negociação dos trabalhadores. Ocorrem também num momento em que a produtividade precisa ser aumentada para ampliar a competitividade em relação a estaleiros internacionais”, esclarece o presidente da Sinaval, Ariovaldo Rocha. 

Empregos gerados

Os estaleiros brasileiros empregam diretamente 78 mil pessoas e geram mais 300 mil empregos na rede de fornecedores de equipamentos e serviços, dos quais cerca de 30 mil estão presentes no Estado do Rio de Janeiro, que juntamente com o Rio Grande do Sul lidera como um dos maiores empregadores. A expectativa do Sinaval é que nos próximos três anos sejam gerados mais 40 mil empregos, portanto, em 2017 o setor deve somar cerca de 120 mil empregos diretos. Já o total de indiretos deva alcançar 800 mil.

O olhar sobre os acontecimentos do ano de 2013 mostra que a indústria da construção naval brasileira está em fase consolidação. No último ano foram entregues, em 2013: 6 plataformas de produção; dois navios do Promef; 21 navios de apoio marítimo; 10 rebocadores portuários e 44 barcaças de transporte fluvial, um volume Record em entregas de navios e plataformas. 

A construção naval não é medida individualmente pelo IBGE, nos números das contas nacionais que estabelecem os critérios de cálculo do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB). O IBGE está em processo de mudanças de critérios para cálculo do total da produção brasileira, estimada ano passado em R$ 4,7 trilhões. 

No cenário internacional, um estudo da Global Marine Trends 2030 prevê um forte crescimento do setor marítimo. Na linha de frente desses investimentos estará a China. A expectativa da pesquisa é que o setor comércio mundial salte dos atuais nove bilhões para 19 bilhões de toneladas anuais.

 

Fonte: O Fluminense – Chailon Conceição