O setor do petróleo e gás é acostumado a viver crises. Detentor de grandes lucros, no Brasil a indústria extrativa do petróleo responde por 12% do PIB nacional, bem como por um quarto do PIB da segunda maior economia do país – a fluminense, de onde se extrai cerca de dois terços da produção de petróleo e gás em águas profundas. Apenas sob a responsabilidade da Petrobras, que emprega algo em torno de 85 mil trabalhadores diretos, estão em processo de implantação mais de US$ 200 bilhões em investimentos, conforme as estimativas de seu Plano de Negócios.
Para as receitas tributárias ordinárias do Brasil, a estatal contribuiu, anualmente, com R$ 100 bilhões, e desse montante, 30% corresponde aos royalties e participações especiais. O montante equivale a 11% da Receita Bruta do Tesouro Nacional. A indenização petrolífera corresponde a 15% do orçamento do Estado do Rio de Janeiro e mais da metade das fontes de financiamento das municipalidades onde a produção de petróleo se concentra.
A cadeia produtiva de óleo e gás vai do poço ao posto de gasolina e envolve segmentos industriais importantes, como o da construção naval, a revenda de combustíveis, as refinarias, e tem uma íntima relação com o setor automobilístico de carga e passageiros que movimenta renda, empregos e impostos.
Dois movimentos simultâneos geram muita instabilidade no segmento, nos dias atuais, e tendem a frear o surgimento de novos projetos e investimentos, com reflexos na geração de empregos de boa remuneração e alto nível de exigência de escolaridade e produtividade. Me refiro à crise política relativa ao processo de auditoria nas contas da Petrobras e seus desperdícios na implantação de plantas industriais em estados no Nordeste e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que colocam em xeque a credibilidade e prejudica as negociações da estatal com seus parceiros.
Outro fato é a forte redução da cotação internacional do petróleo, oriunda da sobra de óleo no mercado internacional como decorrência da oferta crescente da produção no Oriente Médio e Estados Unidos e, concomitante, queda da demanda chinesa – como reflexo de uma economia mundial crescendo lentamente.
Um petróleo cotado na faixa dos US$ 75 por barril, como estima a Agência Internacional de Petróleo, ainda não afeta a exploração da crescente produção na camada pré-sal, cujo custo está estimado entre US$ 50 e US$ 55 por barril. Entretanto, exige uma produção cada vez maior de forma acelerada, de modo a recuperar os custos dos financiamentos contratados para viabilizar os pesados investimentos no setor.
Na geopolítica do petróleo, a redução de preços prejudica fortemente países como Rússia, Irã, Venezuela e Nigéria e representa um alívio nas contas de nações européias, ou Japão, China e outros países asiáticos que dependem da importação de óleo e gás para incrementar suas economias.
Os países árabes possuem alta reserva com custo de extração muito baixo e podem conviver com quedas de preços por um período razoável. Os Estados Unidos, com sua tecnologia do “shale gas”, reduziu muito sua dependência do exterior e aposta na queda dos preços, como forma de fortalecer a retomada da economia mundial.
As expectativas dos investidores, em relação à Petrobras, são de forte desconfiança.
De modo tal que o valor de mercado que atingiu US$ 430 bilhões, em fins de 2008, revela-se nestes dias de apenas US$ 170 bilhões, embora a empresa possua reservas provadas de 16 bilhões de barris. Como podemos observar, um quadro de valoração real muito aquém das enormes potencialidades da estatal.
Fica nítido, em primeiro lugar, que o sistema de financiamento das campanhas em nosso país necessita de novas regras e novas bases. Em paralelo, a alta gerência do setor petrolífero brasileiro, diante de uma conjuntura tão adversa, necessita esforçar-se de modo a reverter este quadro de desconfiança que ronda um dos segmentos de relevância estratégica na oferta de energia no Brasil e no mundo.
Ranulfo Vidigal é economista, mestre e doutorando em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ.
Fonte: Monitor Mercantil