Estatal atrasa plano de negócios e revê crescimento da produção

  • 30/01/2015

A presidente da Petrobras, Graça Foster, admitiu ontem que a área de Exploração e Produção, “core business” da companhia, não será poupada pelos cortes nos investimentos nos próximos anos. Antes evasiva sobre o real impacto da Operação Lava-Jato sobre o E&P, a executiva falou explicitamente, pela primeira vez, em rever a curva de produção da petroleira e em diminuir esforços em exploração.

Debruçada sobre as pendências do balanço financeiro do terceiro trimestre de 2014, Graça admitiu também que deve atrasar a publicação do plano de negócios, que costuma ser apresentado pela petroleira, geralmente, no início do ano.

“Não há menor condição de apresentar plano de negócios 2015-2019 até fevereiro, março ou abril. Supomos que em junho, no fim do primeiro semestre, teremos mais certeza sobre variáveis como câmbio, preço do petróleo e informações relativas à Operação Lava-Jato”, afirmou a executiva, durante teleconferência com investidores.

O mote do plano é reduzir a necessidade de captações. A Petrobras, segundo Graça, trabalha para não precisar ir ao mercado este ano e contratar o mínimo de dívidas possível em 2016 e 2017.

O fluxo de caixa da petroleira começa o ano com saldo positivo de US$ 25 bilhões, enquanto o saldo final é estimado entre US$ 8 bilhões e US$ 12 bilhões. A expectativa é investir este ano entre US$ 31 bilhões e US$ 33 bilhões e gerar caixa operacional de US$ 28 bilhões a US$ 32 bilhões.

A revisão dos investimentos, segundo Graça, é necessária não somente devido às restrições ao mercado de crédito, mas também diante do cenário de queda dos preços do petróleo e desdobramentos da Operação lava-Jato sobre a disponibilidade de fornecedores no mercado.

Graça destacou que o aumento da curva de produção continuará na lista de prioridade da companhia, mas que o cenário pede maior seletividade dos projetos da área. “A essência do novo plano de negócios é a revisão do crescimento nos próximos anos”, completou.

Para o diretor de E&P, José Formigli, o aumento da produção de petróleo não pode ocorrer em detrimento da rentabilidade. “Não vamos buscar pura e simplesmente uma meta de produção que não tenha boa margem positiva”, defendeu o diretor.

A queda dos preços do petróleo, segundo o executivo, exigirá adaptações em projetos existentes e “testará” a rentabilidade dos novos projetos. “Estamos procurando alternativas como otimizações de layout de alguns projetos”, disse Formigli.

Uma das adaptações vem sendo feita em Marlim Sul, na Bacia de Campos. A companhia vai descontinuar o FPSO Marlim Sul e reconectar os poços da área em outras unidades com capacidade disponível. A intenção, segundo o diretor de E&P, é reduzir o opex de projetos sem impactar a produção líquida da companhia.

Formigli, no entanto, afirmou que não há nenhum indicativo que os preços mais baixos do barril mudam os planos da companhia com relação ao pré-sal. “A Petrobras vem tendo hoje resultados melhores, de produtividade por poço maior. A economicidade está melhor do que a prevista”, completou Formigli, que destaca que o ponto de equilíbrio para os investimentos no pré-sal é de US$ 45 por barril.

Para este ano, a meta da companhia é aumentar a produção em 4,5%, para uma média de 2,125 milhões de barris/dia. O resultado será puxado pelo crescimento da produção em plataformas conectadas no ano passado, como os FPSOs Cidade de Ilhabela e Mangaratiba, e pela entrada em operação da P-61, em fevereiro, e do FPSO Cidade de Itaguaí, no quarto trimestre. O início da operação desses projetos deve compensar as perdas com paradas programadas para manutenção em plataformas, que devem reduzir em mais de 50 mil barris diários a produção este ano.

Na área de exploração, Graça confirmou que a companhia prevê reduzir a carteira de investimentos exploratórios ao mínimo. “Eu diria que [a Petrobras] vai ter que ser de uma seletividade imensa ao avaliarmos se vale a pena participar [de novos leilões de exploração]”, disse Formigli.

No refino, a companhia optou pela descontinuidade dos projetos Premium I e II, que geraram uma baixa contábil da ordem de R$ 2,7 bilhões no balanço do terceiro trimestre de 2014, e não tem prazo para a conclusão do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e do segundo trem da refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco.

Ainda no refino, Graça disse que a Petrobras vai manter os preços da gasolina e do diesel em 2015, apesar da redução do preço do petróleo no mercado internacional. Segundo a executiva, a diferença entre os preços dos combustíveis no mercado interno e externo é “extremamente importante” para o caixa da companhia nos anos de 2015 e 2016.

 

Fonte: Valor Econômico — André Ramalho e Rodrigo Polito

 

30/01/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: |