Plano de negócios da Petrobras será apresentado em até 40 dias diz Bendine

  • 29/04/2015

Segundo o presidente da estatal, a prioridade do plano de negócios a ser anunciado em breve são os investimentos em Exploração e Produção, que devem ser responsáveis por 80% do total. Ele disse que a expectativa é de investimentos de US$ 25 bilhões a US$ 29 bilhões por ano. Afirmou também que diante do estágio avançado das obras outra prioridade será a conclusão do trem 1 do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e do trem 2 da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

A Petrobras anunciará não apenas os investimentos, mas também os desinvestimentos. Ou seja, quais ativos devem ser vendidos. Aos parlamentares, Bendine ainda falou de outro desafio: a reorganização da companhia depois do escândalo. Será anunciado também um plano de governança corporativa com mitigação risco nos processos.

Desinvestimento

Bendine reafirmou que a estatal tem um plano de desinvestimento de US$ 13,7 bilhões, ou seja, venderá ativos nesse montante. Não revelou o que será vendido para não desvalorizar o preço. Mais uma vez não cravou que venderá participações de subsidiárias como a Transpetro ou a BR Distribuidora.

— Não estou dizendo que a gente vai abrir capital da Transpetro ou da BR Distribuidora, mas são fatos que a gente vai analisar sim.

No entanto, ele foi incisivo ao dizer:

— Esse plano de desinvestimento não resolve a questão de caixa. A empresa vai conviver sim com um nível de endividamento não salutar.

Para o presidente, a relação entre a geração de caixa e o endividamento tem de cair. Hoje, está em cinco vezes. A ideia é chegar a 2,5 vezas. Bendine, entretanto, frisou que isso não ocorrerá neste ou no próximo ano.

Pela fragilidade do caixa, ele diz que a hora é recuperar investimentos já feitos. E frisou que esse não seria um momento para entrar em novos leilões do pré-sal. No entanto, a estatal não tem essa prerrogativa. Pela lei, desenhada pela então ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff, a Petrobras é responsável por 30% da exploração além de ser a operadora de todos os leilões do pré-sal. Isso demanda investimento.

— Se houver um leilão hoje, entra com 30% além de ser operadora, se for para cumprir a lei, a gente participa. Vai gerar um aumento da dívida. Não seria neste ano muito salutar participar de um leilão. Não é viável começar vários projetos ao mesmo tempo.

Segundo Bendine, o ideal é tocar a exploração em poços já abertos. Ele ressaltou que neles a exploração está melhor que a maior projeção. Aos senadores, o presidente também admitiu que a empresa não vem cumprindo a política de conteúdo nacional por uma “situação momentânea”.

Ele descartou a possibilidade de a empresa receber um novo aporte do Tesouro para ampliar seu patrimônio e reduzir o endividamento.

— Nem pretendemos qualquer tipo discussão em relação a isso. Foi feita uma capitalização recente, em 2010. Então, não é a alternativa que acho mais correta agora. Não está nosso radar. Não temos nem um mínimo interesse em fazer qualquer processo de capitalização da empresa — afirmou o presidente da Petrobras.

Mudança no modelo de contratação

O presidente da Petrobras defendeu mudanças na forma como a Petrobras faz a contratação de obras e serviços. Afirmou discordar do modelo de contratação por convite, adotado amplamente pela companhia nos últimos anos. Bendine destacou que a companhia já faz a certificação de seus fornecedores e poderia, então, fazer concorrência entre todos eles.

— Não concordo com o modelo de licitação de carta-convite. Acho que gera riscos. Entretanto, a partir do momento que você tem um cadastro de fornecedores capacitados você pode fazer concorrência entre eles — afirmou.

Bendine disse que pretende fazer mudanças na governança da empresa para que as decisões sejam tomadas de forma cruzada entre as diversas áreas. A intenção é implementar o novo modelo de gestão por fases, começando pela cúpula da empresa.

— Não pretendo manter esse modelo, mas fazer um modelo e um mecanismo tomada de decisão, mais competitivo, democrático – disse.

Ele afirmou que o decreto 2.745 de 1998, que permite a contratação com critérios diferentes da lei de licitações, trouxe vantagem competitiva para a empresa. Afirmou que o problema da corrupção não está no decreto e que pode ser enfrentada pelas políticas de governança e mitigação de riscos.

Corrupção

Bendine foi duramente questionado sobre a corrupção na estatal pelo senador Ronaldo Caiado. Ele citou vários impactos das delações premiadas da Operação Lava-Jato nas contas da Petrobras. E ainda brincou que assim não seria mais uma petrolífera o melhor negócio do mundo. Bendine rebateu:

— Costumava ouvir no banco que o melhor negócio do mundo era um banco e o segundo melhor negócio, era um banco mal administrado. Isso me persegue.

— Não tenha dúvida que já foi um emprego melhor ser presidente da Petrobras — brincou o Garibaldi Alves (PMDB-RN) que também arrancou risadas dos presentes.

Caiado questionou como as perdas do balanço caíram de R$ 88 bilhões para cerca de R$ 50 bilhões. O parlamentar perguntou o motivo de uma gestão técnica como a de Graça Foster poderia errar tanto e como um executivo que não tem noção do mercado conseguiu reduzir quase pela metade o prejuízo.

Com um tom levemente acima do usado até então, Bendine admitiu que não é entendedor do mercado de petróleo, mas presidiu por seis anos o maior banco da América Latina. E, por isso, entende de balanço financeiro.

— Eu tenho um profundo conhecimento sobre o tema.

Poucos minutos antes, ele tinha defendido que a perda de R$ 6,2 bilhões era conservadora porque foi feita com a premissa que houve corrupção em todos os contratos com uma comissão de 3%, a média verificada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal nas investigações.

— Provavelmente não foram sobre todos os contratos, mas queríamos deixar de maneira conservadora um valor. A média mais conservadora foi 3%.

Além de enfrentar a inquisição de Caiado, Bendine teve de lidar com outros probleminhas na sua primeira audiência no Congresso Nacional como presidente da Petrobras. Inclusive os lapsos de parlamentares novatos. Entre eles, o senador Hélio José PSD-DF que arrancou risadas dos presentes quando chamou o convidado de “Mário Bentine”.

Refinarias do Ceará e Maranhã

O presidente da Petrobras informou que a companhia e suas coligadas têm 300 funcionários terceirizados e apenas 86 mil contratados de forma direta. Questionado por senadores sobre a proporção, defendeu a terceirização como uma boa forma de geração de empregos.

Bendine respondeu ainda a questionamentos de senadores dizendo que as refinarias do Ceará e do Maranhão estão descartadas pelo menos pelos próximos cinco anos. Afirmou que no caso do Ceará está em negociação a implementação de um centro de distribuição próximo à área em que se faria a refinaria como uma forma de mitigar os prejuízos para a região.

Números do balanço

Bendine justificou ainda as perdas balanço. Disse que o principal motivo foi a queda “brusca” do preço internacional do petróleo. Além disso, ele atribuiu ao câmbio o aumento do endividamento, mas ainda admitiu que houve erro de planejamento e de gestão de projetos.

Deixou claro, entretanto, que a nova diretoria responde apenas pelos atos após o dia 9 de fevereiro. Justificou a mudança da metodologia de cálculo das perdas de corrupção. A gestão de sua antecessora, Graça Foster, adotou a cifra de R$ 88 bilhões de baixas, mas não informou o valor relacionado com a corrupção. Já a de Aldemir Bendine calculou R$ 50,8 bilhões, sendo R$ 44,6 bilhões em função da desvalorização de ativos (com vários motivos, incluindo os desvios ) e R$ 6,2 bilhões somente com corrupção.

— Há uma divergência clara na avaliação. Estava sendo usado o valor justo de ativo — disse Bendine.

Em sua avaliação, o ideal é o que foi feito pela nova gestão: levar em consideração o que os ativos devem gerar nos próximos anos. Bendine ainda ressaltou para os senadores que o programa anunciado recentemente de R$ 30 bilhões tinha o objetivo de retomar a credibilidade da moeda e mostrar que a companhia é financiável.

— Queríamos chegar ao fim do ano com folga de caixa que não nos pressionasse muito.

O gerente executivo de desempenho empresarial, Mario Jorge da Silva, fez uma apresentação aos senadores dos principais números do balanço da companhia, que foi divulgado na semana passado. Ele destacou em sua exposição que a Petrobras teve um lucro bruto 15% maior do que o registrado no ano anterior, ressaltando que o prejuízo líquido deve-se à correção do valor dos ativos que foi realizada.

“O lucro bruto alcançou R$ 80,4 bilhões, um aumento de 15% em relação a 2013. O que o lucro bruto indica? É o resultado das operações da companhia, os custos operacionais, os produtos que comprou e revendeu. Esse conjunto trouxe resultado 15% superior. Porque o líquido foi negativo? Porque as despesas operacionais foram de R$ 101,8 bilhões. É nessa linha que ficam registrados os ajustes no valor dos ativos da companhia. E no ano de 2014 a companhia fez ajuste no valor dos ativos num total de R$ 50,8 bilhões”, afirmou.

Ele destacou como foi feita a contabilização das perdas com a corrupção e afirmou que os desvios ocorreram “fora da companhia”, mas foram resultado de pagamentos feitos a mais pela Petrobras a seus fornecedores. Por isso, ressaltou, era necessário retirar esse montante de R$ 6,2 bilhões do patrimônio da companhia. O gerente atribuiu o crescimento dos níveis de endividamento da empresa à queda do preço do petróleo no mercado internacional e à desvalorização do real frente ao dólar. Ressaltou que o desafio é reduzir o nível de endividamento nos próximos anos.

Fonte: O Globo – Eduardo Bresciani e Gabriela Valente
29/04/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: |