Em depoimento a esta coluna, o presidente do Sindicato Nacional da Construção Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha, alertou para o atual desemprego e o risco de elevação desses níveis, a curtíssimo prazo, caso o governo não consiga dar continuidade à construção de navios-sonda. Frisou que o total de 28 unidades caiu para 18 e que pelo menos esse nível deve ser mantido, sob pena de agravamento da questão social. A manutenção de pelo menos 18 navios-sonda no país depende de se viabilizar uma fórmula para continuidade da Sete Brasil, empresa responsável por essas contratações e que já deve US$ 1,5 bilhão aos estaleiros.
Frisou Rocha que os navios da Transpetro – através de Promef I e II – e a encomenda de barcos de apoio – via Prorefam – estão assegurados, com contratos em pleno vigor.
Em breve, se terá de pensar em adição de novas encomendas, mas esse problema poderá ser adiado para 2016. A urgência atual se dá em relação aos navios-sonda.
Dados oficiais do Sinaval indicam que o setor terminou 2014 com 82 mil empregos diretos e, agora, já houve 10 mil demissões e, portanto, os estaleiros empregam 72 mil pessoas.– Se não houver confirmação dos contratos dos navios-sonda, em poucos meses os estaleiros terão demitido cerca de 40 mil pessoas – destacou Rocha. Nesta quarta-feira, o dirigente mostrará o problema em comissão da Câmara dos Deputados e, na quinta-feira, terá encontro com o ministro do Trabalho, Manoel Dias. Líderes metalúrgicos participarão dessas reuniões.
Rocha explicou que o setor está com urgências financeiras. Alguns estaleiros de capital estrangeiro, como Jurong e Brasfels, de Cingapura, têm usado recursos próprios para manter suas estruturas em pleno funcionamento, mas isso não pode se prolongar. Os japoneses participam do capital de estaleiros – caso de Toyo, no gaúcho EBR, e da Ishikawajima, no pernambucano OAS – e um grupo de lideranças empresariais daquele país está no Brasil, mantendo contatos com o governo, preocupado com o futuro do segmento.
Rocha tem encontrado boa receptividade no governo, principalmente na posição da presidente Dilma Rousseff a favor do conteúdo local, e manteve entendimentos positivos com o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. Lembrou que, em sua mais recente reunião, o Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante aprovou créditos de R$ 1,5 bilhão. O dirigente citou que não se deve retornar à década de 1990, quando os estaleiros quebraram e, ao fim de longa investigação, o governo constatou que todos os navios foram entregues e não foram constatadas irregularidades. Por fim, concitou o governo a não ouvir o canto da sereia dos afretamentos, ou seja, optar por usar unidades estrangeiras, quando o déficit de fretes anual já supera US$ 20 bilhões.
– Mesmo na atual crise, o conteúdo local tem de ser mantido, para garantir absorção de tecnologia e empregos industriais a partir da riqueza do petróleo – disse Rocha.