O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) opera em um “plano de sobrevivência”, disse ontem o presidente da companhia, Harro Burmann, em discurso a trabalhadores, durante a cerimônia para viagem inaugural do petroleiro André Rebouças e batismo do navio Marcílio Dias, no Complexo Portuário de Suape, em Ipojuca (PE).
Sem as encomendas da Sete Brasil, o EAS está completamente dependente de um contrato de R$ 7 bilhões com a Transpetro, para a construção de 22 petroleiros. Desse total, cinco já foram entregues – considerando a unidade lançada ontem – e outros cinco estão em construção. “Mais do que nunca, agradecemos à Transpetro pela confiança e pelo cumprimento do contrato”, ressaltou Burmann.
Trajando macacão como os demais empregados, o executivo, que assumiu a companhia em junho do ano passado, foi enfático ao destacar o momento difícil da empresa: “Estamos passando por muitas dificuldades e temos muitos desafios pela frente. Cada um que trabalha aqui sabe. É, como chamamos, nosso plano de sobrevivência”, disse no evento, que contou a presença da presidente Dilma Rousseff e do presidente da Petrobras, Aldemir Bendine.
O EAS vive a maior crise financeira desde sua implementação em 2005. Sem receber por uma carteira de encomendas feitas pela Sete Brasil – empresa que gerencia encomendas de sondas da Petrobras -, cortou 1,4 mil funcionários ou 30% do seu quadro desde outubro. O estaleiro avalia ter US$ 1 bilhão a receber da Sete por pedidos feitos a fornecedores que não foram honrados, conforme já noticiou o Valor.
De acordo com fontes, os recursos em caixa somam menos de R$ 200 milhões.
Nesse cenário, Burmann agradeceu ao suporte “intempestivo” dos acionistas Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e um grupo de investidores japoneses liderados pela IHI Corporation. No fim de 2014, eles aportaram R$ 50 milhões na empresa e não se descarta novo investimento de R$ 100 milhões no curto prazo para honrar os compromissos que estão próximos do vencimento. “Agradeço [aos acionistas] pelo suporte financeiro concedido a essa empresa, mesmo diante de perdas milionárias, sem retorno nenhum pelo investimento feito”, disse, aos aplausos das centenas de operários.
Segundo o presidente do EAS, o navio Marcílio Dias, batizado ontem, será entregue em agosto e a previsão é que outro fique pronto ainda em 2015. Para o próximo ano, a expectativa é que mais dois petroleiros sejam entregues, dessa vez com conteúdo 100% nacional. “Os navios 9 e 10, por decisão dessa diretoria e em parceria com a Transpetro, serão 100% fabricados no Brasil. Será 100% de obra brasileira, mantendo os empregos em Pernambuco e não no exterior.”
Ele pediu ainda à presidente Dilma Rousseff e à Petrobras o aumento nos números de encomendas, pelo Programa de Modernização da Frota (Promef), voltado para renovação da carteira de navios da Petrobras. “O apoio do governo ao EAS é vital para a superação dos deságios e a continuidade da companhia, com a concessão de novas encomendas, pois possuímos estrutura e gente capacitada.”
De acordo com Burmann, o foco do EAS no momento de crise é o corte de custos e a melhora da produtividade. O executivo ressaltou que o navio André Rebouças, lançado ontem ao mar, foi construído com 4 milhões de horas-homem, metade do tempo dos primeiros petroleiros produzidos pelo estaleiro. Para os navios 9 e 10, a serem entregues no próximo ano, a ideia é que sejam dispendidas 2 milhões de horas-homem.