O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), com sede em Ipojuca (PE), fechou 2014 com prejuízo consolidado de R$ 329,6 milhões. O resultado negativo mais do que dobrou em relação ao prejuízo de R$ 149,6 milhões registrado em 2013. Embora a receita da construção naval do estaleiro tenha atingido R$ 1,9 bilhão em 2014, com crescimento de cerca de 29% em relação ao ano anterior, os custos da atividade somaram R$ 1,85 bilhão, com alta de cerca de 33% sobre 2013.
Ao mesmo tempo, as despesas gerais e administrativas e outras despesas operacionais cresceram 15%, saindo de R$ 190,9 milhões em 2013 para R$ 219,4 milhões no ano passado. O balanço do EAS mostra também que o estaleiro fechou 2014 com aumento do prejuízo operacional. O prejuízo operacional do estaleiro antes do resultado financeiro e impostos sobre o lucro, que havia sido de R$ 10,6 milhões em 2013, subiu para R$ 167 milhões no ano passado.
Já o caixa do estaleiro caiu de R$ 473,1 milhões em 2013 para R$ 267,7 milhões no ano passado. E a dívida líquida do EAS cresceu 28% saindo de R$ 1,75 bilhão em 2013 para R$ 2,24 bilhões no ano passado. Segundo o balanço, o EAS não conseguiu atingir o índice de cobertura do serviço da dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano passado e, como resultado, pagou um juro mais caro nos financiamentos.
Segundo o balanço, o estaleiro precisa manter um índice de cobertura do serviço da dívida maior ou igual a 1,2. Pelo contrato com o BNDES, se o índice de serviço da dívida ficar abaixo de 1,2 haverá redução dos juros de 5% para 4,1% ao ano. Em 2014, a taxa de juros cobrada pelo BNDES ao EAS foi de 5% pelo fato de o estaleiro não ter atingido o índice.
No balanço, o EAS afirmou ter realizado investigações internas, conduzidas por especialistas independentes, que não confirmaram o envolvimento da empresa na Operação Lava-Jato, que apura denúncias de corrupção e desvio de recursos da Petrobras. No balanço de 2014, a empresa fez referência ao fato de ter sido citada em um dos depoimentos da Lava-Jato por supostas irregularidades em contratos com a Petrobras. Em depoimento, o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, afirmou que teria havido pagamento de propina de 1% na construção de sondas de perfuração de poços de petróleo contratadas pela Petrobras com a empresa Sete Brasil.
A Sete Brasil contratou estaleiros nacionais para construir as unidades. Entre eles o EAS, que em fevereiro informou à Sete o rompimento unilateral do contrato de construção de sete sondas por força de atrasos nos pagamentos.
No balanço, o EAS informou que no fim de março assinou contrato com a Sete que permitiu começar negociações para resolver as disputas relacionadas ao término dos contratos das sondas. O encerramento dos contratos de construção das sondas pelo EAS teve o objetivo, segundo o estaleiro, de evitar prejuízos ainda maiores à companhia e seus fornecedores, permitindo ajustar sua estrutura a uma nova realidade de fluxo de caixa.
O EAS afirmou ainda que caso não sejam retomados os contratos para a construção das sondas, terá que renegociar contratos com fornecedores. Embora diga acreditar em uma solução para o caso, o EAS indicou que vai buscar seus direitos caso o acordo não seja possível: “Caso não seja acordada solução amigável, a companhia poderá adotar as medidas cabíveis com o objetivo de alcançar o cumprimento das obrigações pela Sete.” O auditor externo, a Deloitte, fez ênfase em seu parecer sobre a disputa, lembrando que as demonstrações financeiras não incluem qualquer ajuste relacionado ao tema.