Rio – Publicado o balanço financeiro de 2014, a diretoria da Petrobras parte agora para resolver outras pendências decorrentes da Operação Lava Jato, que investiga uma suposta corrupção na empresa. A petroleira começa a negociar com fornecedores dívida de R$ 400 milhões que, na verdade, não é sua, mas de empreiteiras denunciadas à Polícia Federal, que prestavam serviços a ela, segundo o diretor de Petróleo e Gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado. A expectativa dos fornecedores é de que a empresa assuma, ao menos, parte do pagamento para evitar que fornecedoras entrem em falência. Procurada, a Petrobras não se pronunciou.
Do total em atraso, R$ 250 milhões são referentes a produtos já entregues. A Abimaq pede que a Petrobras pague diretamente às construtoras de máquinas e equipamentos em vez de passar o dinheiro para as empresas de engenharia, em crise financeira desde que as denúncias vieram à tona, para que elas paguem os fornecedores. Para convencer a equipe liderada por Aldemir Bendine, argumenta que, sem uma solução de curto prazo, 45 empresas vão fechar as portas.
A diretoria da Petrobras recebeu da associação uma lista com nomes e valores devidos a cada fornecedor das empreiteiras. Algumas delas estão em uma situação mais crítica, porque têm a maioria da sua produção voltada exclusivamente ao setor de petróleo e gás e, por isso, são mais dependentes do funcionamento da estatal.
Além do pagamento atrasado, diz Machado, essas empresas convivem em um ambiente de baixa demanda, por causa da crise na Petrobras e também do espaçamento entre os leilões de petróleo e gás realizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A última vez que as petroleiras compraram concessões de áreas exploratórias e foram ao mercado para contratar bens e serviços foi em 2013. A rodada anterior havia sido cinco anos antes, em 2008.
O conteúdo local, regra do setor para que petroleiras contratem um porcentual mínimo na indústria local, é outra bandeira levantada pelos produtores de máquinas e equipamentos. Segundo Machado, essa é, na verdade, a principal preocupação atualmente, mais do que o desaquecimento do mercado. “Se houver um acompanhamento mais rigoroso do conteúdo local, a indústria pode investir mais, mesmo que Petrobras invista menos”, afirmou.
Mas o governo demonstra que a política de conteúdo local caminha para sentido exatamente oposto, de flexibilização. Em evento nos Estados Unidos, na última segunda-feira, 4, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, anunciou que poderão ocorrer mudanças nas regras de contratação de bens e serviços, mais favoráveis às petroleiras, que reclamam da dificuldade de contratar no Brasil.
A última palavra será da presidente Dilma Rousseff. Atualmente, segundo fontes, a ANP está reunindo argumentos dos dois lados – das petroleiras e fabricantes nacionais – para apresentá-los à presidente, a quem caberá definir possíveis mudanças de regras.