Se o clima político é de nervosismo, o mesmo pode-se dizer do relacionamento entre Petrobras e fornecedores. Nesta sexta-feira – ou alguns dias após – sairá o novo plano de investimentos da Petrobras. O mercado prevê que, em relação ao de 2014-2018, o plano de 2015-2019 deverá apresentar redução de 35% a 40% nos investimentos da empresa. Isso, obviamente, levará fornecedores de todos os tipos e portes a sofrer para se adaptarem ao novo orçamento da estatal. Antes mesmo do anúncio, há muitas divergências na praça. Os fornecedores se queixam de que a estatal, em plena vigência dos contratos, está chamando a todos para renegociar, com reduções pedidas em torno de 15%. É claro que o barril do óleo caiu, e a Petrobras tem certa razão, mas os industriais revelam que a inflação está em alta e que subiram os custos de energia elétrica e de todos os itens importados. Muitas vezes, o pedido da emblemática companhia não pode ser aceito pela indústria subsidiária, o que causa atritos.
Fontes da construção naval não escondem suas preocupações. Afirmam que a Petrobras quer quitar as faturas com 45 dias após a comprovação dos gastos, e os empresários afirmam que, no atual ambiente de juros altos, esse atraso gera enormes problemas. Algumas empresas chegaram a estudar cancelamento de contratos em vigor, mas ninguém pôs isso no papel. Uma queixa direta dos estaleiros ocorre em relação aos bancos do setor, especialmente Caixa e Banco do Brasil e, em menor tom, ao BNDES. Afirmam que há casos de contratos assinados, com todas as garantias – que são de 130% do valor das obras – e, ainda assim, BB e Caixa adiam decisão, mesmo sendo o dinheiro do Fundo de Marinha Mercante (FMM) e não recursos próprios.
Houve boatos sobre interrupção dos 46 navios encomendados pela Transpetro, através do Promef, mas não foram confirmados, pois as multas sobre a estatal seriam enormes. Há insatisfação dos estaleiros em relação à não-admissão, pela Transpetro, de reajustes nos contratos, comprovados por alta nos insumos. Fala-se que a Transpetro quer vender sua frota antiga, o que é visto como algo inaceitável, pois os navios velhos têm valor de venda irrisório, mas prestam inestimáveis serviços, ao levar óleo para todo o país. O setor de barcos de apoio a plataformas já se queixou de que a Petrobras deixou de fazer novas licitações para contratar barcos e não renovou contratos de oito anos de armadores que esperavam a manutenção do serviço, diante da crescente necessidade de aumento de produção nacional de petróleo, principalmente por causa do pré-sal. As fontes rezam para que, ao cortar custos, a Petrobras tenha bom-senso e não faça como o dono de charrete que, para economizar, vendeu seu cavalo.
Com a crise na Sete Brasil, a maior preocupação dos estaleiros era com os 29 navios-sonda encomendados. Diante de gestões bem encaminhadas, líderes do setor acreditam que sejam mantidas no país 19 unidades, sendo sete para a capixaba Jurong, seis para a fluminense Brasfel, quatro para o estaleiro Enseada (BA) e possivelmente dois navios-sonda para o gaúcho Ecovix. Nesse caso, houve ingerência da presidente Dilma para se chegar a entendimento, ainda não assegurado, mas bem encaminhado. Preocupa o setor, no entanto, o fato de que a construção dos 46 navios para a Transpetro pode se tornar gravosa, se o grupo Petrobras não admitir reajustes devidos a aumentos comprovados do Custo Brasil.