O comando da Petrobras está revendo todas as variáveis sob sua gestão diante da deterioração do cenário nas últimas semanas, o que inclui a disparada do dólar, queda do petróleo e rebaixamento da nota de risco de crédito.
As medidas em estudo devem ser discutidas pela diretoria nesta semana e vão se somar aos cortes já anunciados, como o plano de reduzir despesas administrativas em US$ 12 bilhões de 2015 a 2019, o que inclui diminuição de gastos com cursos, viagens, taxi etc.
Nesta linha, a empresa lançou na quinta-feira um plano que prevê redução de 25% na jornada e salários dos funcionários da área administrativa. A demissão de terceirizados também está na pauta.
A despesa de pessoal total da Petrobras – incluindo os funcionários das plataformas – supera R$ 30 bilhões por ano e consome aproximadamente 7,5% da receita bruta da companhia. Cálculos feitos pelo Valor indicam que, na média entre 2007 e 2011, esse gasto representava 6,4% das vendas, o que significa que uma volta a esse patamar proporcionaria economia de R$ 4,4 bilhões por ano.
Mas os cortes não devem se resumir a gasto com pessoas, como se nota com os anúncios recentes de renegociação e até mesmo rescisão de contratos com fornecedores de sondas de exploração.
Tirando matéria-prima, os principais gastos da empresa são com materiais, serviços, fretes, aluguéis e outros. Só que essa linha de despesa vem crescendo nos últimos três trimestres, em vez de diminuir, tendo somado R$ 62 bilhões em 12 meses, ou 15,4% da receita bruta. Se conseguisse retornar ao padrão visto entre 2011 e 2013, quando o peso era de 13,4%, a empresa economizaria R$ 8 bilhões.
Já que não consegue controlar o câmbio, a cotação do Brent nem o rating do Brasil, o principal foco da companhia neste momento será o corte de gastos. Segundo uma fonte graduada, a Petrobras passará por um processo de redução de custos e despesas de proporção sem precedentes no passado.
Existe o reconhecimento de que um processo de corte de despesas como esse deve sofrer resistência interna de funcionários, mas a leitura da alta administração é de que não existe alternativa para a companhia neste momento.
Quando Aldemir Bendine assumiu a presidência da companhia junto com a nova diretoria e o novo conselho, havia o entendimento de que o cenário poderia piorar, e por isso a administração acelerou o processo de captação de recursos por meio de dívida. Apesar do custo maior de alguns empréstimos, as medidas reforçaram a liquidez e deixaram a empresa com pouco mais de R$ 90 bilhões em caixa em junho, ante um saldo de R$ 70 bilhões na virada do ano.
Agora, o entendimento é de que a deterioração do quadro foi maior que a imaginada e que a empresa não pode ficar parada.
Em maio, quando o plano de investimento foi anunciado – com um corte de US$ 200 bilhões para US$ 130 bilhões em cinco anos -, usou-se como premissa um dólar a R$ 3,10. Na sexta-feira, a moeda fechou em R$ 3,87.
Conforme relato de uma segunda fonte da administração da companhia ao Valor, há muita resistência corporativa para se aceitar mudanças administrativas que têm sido propostas, mas é preciso entender que a estatal terá que diminuir para se manter competitiva.
Conforme noticiou a agência Reuters na quinta, a revisão do plano de negócios da empresa, documento onde a estatal informa sua estratégia de investimentos e de venda de ativos para os próximos cinco anos, também deve ser necessária, diante da mudança de variáveis-chave usadas na sua elaboração. Mas este processo está em uma etapa inicial e ainda vai precisar passar pela diretoria e conselho da empresa, o que significa que nenhum anúncio nesse sentido deve ocorrer no curtíssimo prazo.
Na visão dos analistas, as condições atuais de preço de Brent e taxa de câmbio não permitem que a empresa gere fluxo de caixa positivo com investimentos anuais de US$ 26 bilhões, considerando ainda a necessidade de se pagar juros e dividendos, se houver lucro.
Mesmo nessa situação crítica, em que nem mesmo os cortes de gastos devem assegurar queda da dívida líquida, que deve superar cinco vezes a geração de caixa, a fonte da Petrobras diz que nenhuma mudança de estrutura de capital, como uma nova capitalização, está em discussão no momento.
Conforme relato de uma segunda fonte da administração da companhia ao Valor, há muita resistência corporativa para se aceitar mudanças administrativas que têm sido propostas, mas é preciso entender que a estatal terá que diminuir para se manter competitiva.