Já faz um ano que a Sete Brasil espera da Petrobras uma definição para seu futuro. Foi em uma reunião em setembro de 2014 que foram expostas aos sócios as dificuldades da empresa e a vontade da Petrobras de renegociar contratos. Hoje, apurou o Valor, a expectativa é que a estatal assine um termo de compromisso garantindo que fechará um contrato, ainda negociado. Sem esse “firme”, como se diz no jargão financeiro, não há financiamento ou novo sócio estratégico para a Sete.
A Sete nasceu há cinco anos para atender às necessidades da Petrobras no pré-sal. A petroleira buscou sócios privados: Santander, BTG Pactual e Bradesco BBI; e os fundos de pensão Petros, Previ, Funcef e Valia. Apesar da sociedade, na visão dos sócios, cada vez mais incomodados com a situação e com a perda de dinheiro, a petroleira sempre teve a Sete sob suas rédeas. E a Petrobras tem lidado com a empresa como se ela fosse mais um de seus próprios negócios.
Para fontes, a Sete era um excelente projeto, que sofreu com má-gestão e a corrupção, como relataram seus executivos na Lava-Jato. No final do imbróglio, 60% dos bilhões investidos deverão ser perdidos. A solução final, com a redução do número de sondas terá a venda de quatro delas com prejuízo.
Ainda que haja um acordo a contento de todos, o clima entre os sócios é dos piores. Um diretor de fundo de pensão ouvido pelo Valor diz que jamais voltará a participar de negócios de grande porte com a estatal. A questão dos bancos é mais complexa, devido ao relacionamento com governo e com a empresa, que domina o setor.
Desde a criação da Sete, a Petrobras sempre ditou o negócio, com a prerrogativa de indicar o presidente. Os sócios concordaram, pois o negócio foi feito sob medida para ela. O escolhido foi João Ferraz, à época, um executivo de carreira na petroleira, hoje reconhecido por, ao lado de outros indicados pela estatal, Eduardo Musa e Pedro Barusco, ser investigado na Lava-Jato. Eles já relataram a existência de corrupção na Sete.
Várias iniciativas de Ferraz desagradaram aos sócios. (Ver texto ao lado). Mas um verdadeiro entrave aconteceu quando Ferraz apresentou o plano de aumentar o projeto de sete para 28 sondas. Hoje, até mesmo desconfia-se que essa elevação esteja relacionada aos desvios na empresa
A Previ, apurou o Valor, não concordou com a expansão. Avaliou que a empresa mal começara e não seria adequado quadruplicar o projeto inicial logo de saída. A Previ cogitou não liberar mais recursos para a Sete. No entanto, a sociedade foi constituída através de um fundo de investimento em participações (FIP) que exige o comprometimento de capital. Se a Previ não liberasse os recursos e houvesse qualquer problema com a Sete, a fundação poderia ser responsabilizada pelo fracasso. A Previ liberou o capital comprometido, mas nem um centavo a mais nas novas capitalizações e teve sua fatia na Sete diluída de 9,9% para 2,3% ao longo dos anos. Outros sócios também não acompanharam as chamadas de capital e foi aí que o BTG elevou sua fatia pra 30%.
A Previ informa que investiu R$ 180 milhões no FIP Sondas em 2010, junto a outros sócios, para adquirir 9,9% de participação por considerar que o ativo apresentava boas chances de retorno. Quando o número de sondas cresceu o capital da empresa subiria de R$ 1, 8 bilhão para R$ 7,9 bilhões e a Previ, respeitando princípios de diversificação de riscos, não acompanhou os aportes e foi diluída.
Para a maioria dos sócios, entretanto, o aumento de sondas seria benéfico à empresa. Elevaria o retorno e o consequentemente os riscos, mas que julgavam mitigados – eles não contavam que a Petrobras se tornaria uma empresa imersa em problemas e que o BNDES não liberaria recursos.
Pouco antes do término do mandato de Ferraz, no ano passado, os sócios receberam um fax da Petrobras informando que ele deixaria a presidência e apresentando uma lista tríplice para o cargo, reforçando seu preferido, Luiz Carneiro. A indicação não agradou os sócios, nem pela forma nem pelo conteúdo. “Os sócios sequer sabiam que a Petrobras queria trocar o presidente. Foram avisados por fax. Embora alguns já estivessem incomodados com a gestão Ferraz, chegaram até mesmo a defender a permanência dele, pois não se troca de comando sem motivo. Não era com esse tipo de parceiro que gostaríamos de atuar. A Sete não é uma estatal, mas uma empresa de capital privado”, diz uma fonte.
As ressalvas a Carneiro se deviam ao fato de ter sido presidente da OSX de 2010 a 2012, quando assumiu a OGX. À época, Carneiro tinha processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em razão da derrocada do Grupo X. A preocupação dos sócios era com a oferta pública inicial de ações prevista para a Sete e se os possíveis investidores não questionariam a escolha do executivo. Carneiro, apurou o Valor, explicou aos sócios que não era o responsável pelos episódios envolvendo a OGX, mas foi para a berlinda após assumir a empresa com a saída de Paulo Mendonça. Foi recomendado a ele que contratasse uma auditoria para analisar a empresa para que a gestão ficasse dividida entre antes e depois dele. Essa auditoria não detectou irregularidade.
À época especulou-se que a mudança de indicação estaria atrelada à troca no comando da Petrobras, mas até hoje não se sabe se ela foi relacionada com a Lava-Jato. Quatro meses após ingressar na Sete, em setembro de 2014, Carneiro chamou os sócios e informou que, se nada fosse feito, ela não teria dinheiro para continuar funcionando. Em novembro de 2014, a Sete conseguiu empréstimo de R$ 980 milhões da CEF.
Quem esteve na reunião diz que a Petrobras mandou dois representantes, que chegaram atrasados. Naquele momento foi cobrado o empréstimo ponte do BNDES, que cobrou a assinatura pela Petrobras de um contrato em que a petroleira autorizava a cessão de afretamento das sondas em favor dos credores. A estatal alegava que a cessão só poderia ser feita no futuro; mas os credores exigiam que ela fosse feita de imediato, sob alguns condicionantes. O BNDES informa que essa discussão não teve influência no fato de o contrato de financiamento entre o banco e a Sete não ter sido assinado. Os recursos não teriam saído por conta da Lava-Jato. Foi nessa reunião que a Petrobras começou a afirmar que queria rever os contratos com a Sete diante da mudança de cenário para os preços do petróleo.
Fica cada dia mais claro que existe uma guerra dentro da Petrobras entre aqueles que defendem o conteúdo nacional e os que preferem encomendar as sondas no exterior, diante dos preços agora mais favoráveis à segunda opção.
Há um ano, portanto, os sócios privados tentam com a Petrobras uma solução para a Sete. Uma fonte afirma que o caso lembra um pouco o Grupo X, de Eike, que lançou empresas pré-operacionais da bolsa, mas com diferenças básicas. Primeiro, a Sete não foi para a bolsa – mesmo porque não deu tempo. Além disso, em vez de “expectativas”, a Sete possuía um “ativo fantástico”: contratos de longo prazo e boas taxas de retorno com a Petrobras. Porém, até hoje, os contratos não foram honrados apesar de o dinheiro já ter sido investido.
Petrobras, BTG, Santander, Bradesco, Valia e Funcef não concederam entrevista. A Sete diz que não fala sobre ex-executivos e que a eleição de Carneiro seguiu trâmites de governança e as passagens dele por OGX e OSX não foram óbices. A Petros informa que investiu na Sete porque o projeto apresentava boas perspectivas e expectativa de alta taxa de retorno. A Previ disse que o valor investido equivale a 0,1% (R$ 144 milhões) das reservas do Plano 1 e 0,6% (R$ 36 milhões) do PREVI Futuro.