BRASÍLIA – A Petrobras deve passar por um enxugamento na sua estrutura do comando, disse nesta quarta-feira o presidente da empresa, Aldemir Bendine, em depoimento à CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados. “Me causou estranheza o fato de haver 50 gerentes executivos que não têm responsabilidade estatutária. Isso contribui para que a tomada de decisões na empresa não seja feita de forma mais conclusiva”, disse. Segundo ele, a proposta de mudança será analisada na próxima reunião do Conselho de Administração.
Apesar das mudanças já realizadas, Bendine disse que a Petrobras ainda está em fase de transição quanto à mudança na governança. “É lógico que é necessário que o modelo de diretoria de governança evolua”, afirmou, em resposta a questionamentos feitos pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ). Ele contou também que havia um questionamento sobre o tratamento inadequado das denúncias levadas à ouvidoria da empresa. “Isso já foi corrigido, e um novo canal de denúncias deve entrar em vigor entre 30 e 60 dias”, afirmou. “Estamos em fase de transição, melhor que no passado, mas ainda não o ideal”, acrescentou.
Novo modelo
O presidente da companhia disse que está sendo buscado um modelo de gestão operacional efetivo e reforma de governança para mitigar situações vividas no passado e que dê mais conforto em decisões tomadas.
“O modelo anterior não foi suficiente para se evitar essa situação de escândalo. Propomos então um modelo mais blindado, mais seguro, que privilegie decisões colegiadas, e não pessoais. Atacamos um problema que está na raiz da (operação) Lava Jato, que eram decisões pessoais na empresa”, avaliou.
Além da melhoria na gestão e da governança da empresa, ele listou mais três pontos vitais para a recuperação da empresa e o enfrentamento dos desafios com o preço baixo do barril de petróleo e a dívida alta. “Estamos priorizando os investimentos, com 82% do total, na área de produção e exploração de petróleo, que é a principal atividade da empresa.”
Em segundo lugar, Bendine disse que a estatal trabalha na redução de gastos operacionais. “A Petrobras tem de se adequar a um cenário mais realista, revendo todos os processos para reduzir custos. Nossa meta é reduzir custos gerenciáveis do plano de negócios em até US$ 12 bilhões nos próximos anos.”
O terceiro ponto citado por ele é a redução da dívida e a garantia da viabilidade financeira da empresa. “As captações no mercado financeiro permitiram melhoria na dívida, com prazos mais longos e juros mais baixos. Só o escalonamento de dívida deste ano, esses movimentos já feitos, garantiram uma economia de US$ 3,8 bilhões este ano.”
Bendine disse que a Petrobras tem capacidade de produzir petróleo por 19 anos sem novas descobertas. “Isso coloca a Petrobras em uma das melhores posições no mundo. Podemos privilegiar a produção, mas sem abandonar a exploração, é claro”, completou.
Corte de gastos
Às voltas com novas denúncias de corrupção e com o caixa corroído por dívida em dólar, a Petrobras anunciou neste mês o segundo plano de corte de gastos deste ano. No último dia 5, informou que vai deixar de investir US$ 11 bilhões e que no dia a dia vai gastar US$ 7 bilhões a menos. O novo plano veio três meses depois de Aldemir Bendine, presidente da petroleira, ter anunciado o primeiro plano de negócios para os próximos cinco anos de sua gestão, que já trazia uma queda de investimento de 37% em relação ao que havia previsto sua antecessora, Graça Foster. Passou a valer a cifra de US$ 130 bilhões.
A equipe técnica da Petrobras está hoje concentrada no trabalho de reavaliar contratos e adiar alguns projetos. Apenas um afretamento de sonda chega a custar US$ 500 mil por dia. Na tentativa de rever o valor, a companhia, agora, está disposta a prolongar o prazo dos contratos e estender o período de pagamento. Em compensação, quer pagar menos. Já no lado do corte de custos operacionais, o foco está em reduzir o número de trabalhadores terceirizados.