Os créditos contra construtoras já somam R$ 490 milhões, espalhados em diversos empreendimentos, conforme informações da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Cerca de metade são máquinas entregues e não pagas, outros 50% são equipamentos que estão no pátio das fabricantes.
Quase dez meses depois da reunião que tinham marcada com a Graça Foster e que não aconteceu, fabricantes de máquinas e equipamentos continuam a carregar valores a receber de contratadas da Petrobras. Embora a dívida não seja da estatal, a entidade vem, desde o início do ano, buscando soluções com a empresa, uma vez que os equipamentos foram encomendados para projetos da Petrobras.
Até então, as empresas que fizeram as encomendas alegavam estar dependendo de pagamento da Petrobras para repassar os valores. Após meses, Prata diz que algumas devedoras já admitiram terem recebido os recursos para pagar fornecedores. O problema é que eles foram direcionados para os projetos, com expectativa das empresas de que aditivos seriam firmados e mais dinheiro entraria para quitar os débitos.
Diante da dificuldade das fabricantes, a entidade estabeleceu uma sala de crise para fazer o mapeamento dos recebíveis entre as associadas e levantar estratégias de cobrança. No início do ano, a Abimaq conseguiu uma reunião com a então presidente da Petrobras, Graça Foster. No dia em que o encontro estava marcado, porém, ela deixou o comando da estatal.
Com Aldemir Bendine no comando, foi definido um porta-voz para tratar do assunto com a Abimaq. A primeira mensagem recebida dava conta de que a Petrobras não tinha como tomar decisões sem antes ter seu balanço auditado publicado e seu plano de investimentos traçado.
Uma vez resolvidas essas questões, Prata diz que o ponto agora reside na decisão de quais projetos da estatal continuam e quais serão adiados ou cancelados. De acordo com Prata, a Engevix, uma das empresas devedoras, aprovou com a Petrobras a criação de uma conta vinculada para acertar os pagamentos de fornecedores. A conta, porém, ainda não foi criada.
No caso do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a Abimaq deve se unir à prefeitura de Itaboraí (RJ) e a entidades comerciais e sindicatos locais para pressionar a Petrobras a dar continuidade à obra e aos pagamentos.
Foi adotada a mesma estratégia utilizada em Rio Grande (RS) para a retomada da construção das plataformas P-75 e P-77 no estaleiro Honório Bicalho pelo consórcio QGI (Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás) no meio do ano.
Embora os valores possam parecer pequenos, é um setor formado principalmente por pequenas e médias empresas, algumas das quais desenvolveram-se no rastro dos projetos da Petrobras.
Com a inadimplência das construtoras, somada aos cortes de investimentos da Petrobras e ao cenário macroeconômico mais difícil, a situação dos fabricantes de bens de capital mecânicos para o segmento de óleo e gás vem se deteriorando.
A ordem do dia é sobreviver. Conteúdo local e outras questões estruturais para o setor, hoje, são discussões consideradas “de luxo”. Esse foi o sentimento expresso entre executivos que se reuniram no início da semana passada na sede da Abimaq para discutir o futuro dos fabricantes no atual cenário do setor de óleo e gás.
Não se fala em retomada de demanda. Se em 2014 pensava-se em um horizonte de 12 meses, agora o sentimento é de que qualquer previsão está sujeita a falhar, dependendo do que ocorrer no ambiente político.
Para Prata, o consenso entre quem olha para as perspectivas deste ano e de 2016 é que a situação tende a piorar antes de melhorar. “A crise política está refletindo no humor do mercado, que congela planos, congela investimentos.”
O faturamento da indústria fornecedora de máquinas e equipamentos para o segmento registrou queda de 55% até setembro deste ano, conforme o presidente do conselho setorial. Ele explica que, no mercado de máquinas para exportações, a queda até setembro já é de 90%. E a situação ainda pode piorar até o fim do ano, quando os negócios ficam parados.
O leilão da 13ª rodada de exploração de blocos de petróleo realizado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), que poderia gerar demanda, foi “o símbolo do fracasso, com resultado muito pífio”, diz. A disputa ocorreu em outubro.
Neste ano, a Petrobras já anunciou que os investimentos devem ficar cerca de US$ 2 bilhões abaixo dos US$ 25 bilhões inicialmente projetados. E este número já era fruto de um corte significativo anunciado pela empresa no processo de revisão do plano de investimentos. Na opinião de Prata, o patamar de desembolsos da empresa ainda deve cair para uma faixa entre US$ 15 bilhões e US$ 18 bilhões ao ano.
A Petrobras foi procurada para comentar o assunto, mas não retornou ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.