O presidente do Estaleiro Atlântico Sul (EAS), Harro Ricardo Burmann, participou ontem a reunião de boas-vindas aos funcionários pedindo o empenho de cada um para que o empreendimento consiga cumprir os cronogramas e brigar pela manutenção dos contratos de navios com a Transpetro. O executivo confirmou o recebimento de duas cartas da estatal sugerindo a rescisão de contratos, mas afirmou que a empresa vai brigar amigavelmente e judicialmente para manter a carteira de encomendas. Este ano, o EAS terá que entregar três navios para cumprir, no prazo, a conclusão dos dez primeiros petroleiros Suezmax. Harro insistiu na melhoria da produtividade para que os acionistas continuem apostando no empreendimento e aportando recursos. No próximo dia 27, aliás, será realizada uma assembleia geral extraordinária para discutir um aporte de R$ 340 milhões pelos investidores.
Harro começou seu discurso dizendo que fez um passeio de bicicleta pelo estaleiro e constatou a falta de preenchimento dos quadros que marcam os indicadores de produção. “Nós não vamos permitir que a gente se desvie do padrão. Muitos de vocês estavam de férias quando entregamos o terceiro navio de 2015. Foram quatro navios em 13 meses. Esse ano não podemos ter uma meta menor do que três navios. Esse é o nosso desafio. A metade do navio oito já está vindo da china e a gente tem que acelerar o nove e o dez”, disse. Além do desafio da produtividade, o presidente do EAS falou da necessidade de defender a carteira de encomendas. No final do ano passado, a Transpetro encaminhou cartas ao estaleiro sugerindo a rescisão dos contratos de 11 embarcações.
“Por enquanto nossos contratos estão vigentes. Recebemos as cartas (da Transpetro) e nossos advogados responderam. O estaleiro não vai fechar em 2016, porque temos carteira para até 2018. O risco que existe é para frente e vai depender de cada um de vocês. A nova administração da Transpetro mudou de postura e estão nos multando por atraso e retendo pagamento. Em dezembro tivemos R$ 32 milhões retidos. Isso significa uma folha de pagamento nosso. A única maneira de compensar retenções e multas é vocês nos ajudarem a produzir mais”, reforçou o executivo, dizendo que 2015 foi o melhor ano da história do estaleiro, do ponto de vista da produtividade.
Acionistas
No próximo dia 27, os acionistas Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e a japonesa IHI Corporation se reúnem em assembleia geral extraordinária para discutir um novo aporte financeiro na empresa. A proposta é aumentar o capital social em R$ 340 milhões, por meio da emissão de ações ordinárias, nominativas e sem valor nominal. “Esse estaleiro só vai operar se os acionistas continuarem aportando dinheiro aqui”, disse Harro. A preocupação tem razão de ser. No ano passado, os aportes chegaram a R$ 500 milhões e o sócio japonês se recusou a aportar valor equivalente a sua participação de 33% no capital do EAS e foi necessário que os demais sócios cobrissem a diferença. O Atlântico Sul fechou 2015 com uma dívida de R$ 1,2 bilhão com instituições bancárias (principalmente BNDES) e de R$ 2 bilhões com fornecedores.
O ano também começou com mais demissões no EAS. O Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco estima em 40 o número de desligados no setor de comissionamento, que operava com 210 funcionários. Com mais essas dispensas, sobe para 2.740 o total de desempregados nos últimos 16 meses. “O presidente tentou tranquilizar os funcionários e disse que o governador Paulo Câmara está brigando para que o EAS não perca suas encomendas”, diz o presidente do SindMetal, Henrique Gomes, preocupado com as demissões.