A nova política de reajuste de combustíveis da Petrobras deverá ser posta à prova nos próximos dias, caso o preço no barril de petróleo se consolide em patamar mais elevado, como quer a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Pelo mecanismo, em vigor desde outubro, a estatal passa a considerar as cotações internacionais para decidir, a cada mês, se reajusta ou não os combustíveis. O cartel anunciou, há dois dias, um corte de 3,26% na produção para tentar fazer os preços se firmarem em nível superior em relação ao atual, de US$ 45 e, no médio prazo, chegar a US$ 65.
Até o momento, a Opep tem conseguido o que busca. Os preços saíram do patamar de US$ 47 para US$ 54 em uma semana.
De 2010 a meados de 2014, o preço do petróleo seguiu em escalada, até atingir o pico de US$ 120. A partir daí, entrou em declínio, em parte devido à alta na produção mundial de óleo, tendo atingido patamares inferiores a US$ 30 em alguns dias deste ano.
Até outubro, a Petrobras não atrelava os preços internos à cotação do óleo e de derivados no exterior. Entre 2011 e 2014, essa decisão trouxe sérios danos a seu caixa. As perdas são estimadas em US$ 30 bilhões, ou R$ 100 bilhões, em valores atuais. Desde o fim de 2014, porém, a manutenção dos preços no Brasil apesar da queda das cotações internacionais causou o efeito inverso de trazer um caixa extra à empresa. Cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura estimam que a Petrobras tenha embolsado R$ 39,6 bilhões extras, de lá para cá.
Se a política de não alinhamento vinha sendo, nos últimos meses, bom para o caixa combalido da Petrobras, também trazia críticas à empresa pelo mercado, que lhe cobrava mais transparência. A nova administração da empresa apresentou a política de reajuste em outubro. Ato contínuo, os preços da gasolina e do diesel sofreram dois cortes desde então, enquanto os preços no exterior seguiam deprimidos.
Os cortes recentes não se deveram apenas ao fato de existir uma margem excessivamente positiva para a empresa, mas porque o preço elevado aqui, enquanto lá fora estava barato, levou distribuidoras concorrentes da BR a importar combustível. A Petrobras passou a perder mercado. A ociosidade das refinarias, já maior do que há dois anos por conta da crise econômica, aumentou ainda mais. A capacidade média usada caiu de 90% para 83% nos nove primeiros meses deste ano, em comparação a igual período ano passado.
Se o preço lá fora subir, a Petrobras teria de promover, por coerência e aderência à política, o reajuste dos derivados aqui na próxima revisão de preços, que deve acontecer nos próximos dias. Há uma série de fatores em jogo. A medida pode gerar pressão inflacionária, mais um problema para um governo que enfrenta forte crítica da sociedade e, até o momento, não conseguiu reverter a recessão. Foi exatamente o temor de inflação que levou o governo de Dilma Rousseff a impedir que a estatal represasse os preços quando o barril de petróleo estava nas alturas.
A empresa também teria de calibrar um reajuste para cima com o custo de oportunidade das distribuidoras concorrentes em importar derivados para vender no Brasil. Apesar dos cortes de outubro e novembro, os combustíveis no Brasil ainda estão caros em comparação ao mercado externo. A gasolina ainda se encontra 15,3% acima do preço externo, e o diesel, 12,5% superior.
O mercado quer ver, agora, se a promessa de seguir os preços internacionais, caso subam, e, por extensão, de ser mais transparente na política de combustíveis, vai ser seguida à risca, apesar do risco político, ou se vale sacrificar margens, e um pouco de sua imagem, para garantir a participação no mercado e, de quebra, evitar a impopularidade.