Na reta final das obras de construção dos três últimos petroleiros aframax encomendados pela Transpetro, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) busca alternativas para manter suas atividades a partir de 2019. Controlado pela Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, a companhia não vê perspectivas de novos contratos para cascos de plataformas, após a flexibilização da política de conteúdo local, mas mira oportunidades para fornecer navios de cabotagem (navegação entre portos marítimos de um mesmo país, sem se distanciar da costa) no curto prazo.
O presidente do EAS, Harro Burmann, disse que o mercado de cabotagem pode servir como uma “ponte para o futuro”, ao garantir encomendas por pelo menos mais dois anos. Segundo ele, no entanto, independentemente de fechar novos negócios até outubro, a empresa deve reduzir sua força de trabalho entre dezembro e janeiro. Hoje, a companhia emprega 3,3 mil trabalhadores no complexo industrial de Suape (PE).
“Com qualquer cenário vai ter redução da mão de obra”, afirmou o executivo, que participou ontem do seminário “O Futuro da Indústria Naval”, realizado pelo Valor, com o patrocínio do EAS, no Rio.
Burmann conta que outubro é o limite para que a empresa consiga garantir novas encomendas para 2019 e, assim, dar condições para negociar um “layoff ” com seus funcionários. Ele acredita que, no curto prazo, a demanda potencial é de oito navios de cabotagem.
Segundo o executivo, há conversas em andamento, mas o destravamento da construção de navios de cabotagem no país depende de uma solução para entraves na garantia de financiamento de armadores.
“Se conseguirmos quatro navios por ano, manteríamos os níveis de emprego de hoje. Se [fecharmos novos] projetos até outubro, conseguimos dar seguimento [às atividades do estaleiro] no ano que vem”, afirmou.
Outra oportunidade de negócio que o EAS acompanha de perto é o de serviços de manutenção e reparos de navios, a chamada docagem, e os navios aliviadores (que escoam a produção de petróleo das plataformas). A Transpetro, subsidiária da logística da Petrobras, por exemplo, pretende contratar estaleiros para a realização de 17 operações no ano que vem. Os contratos de docagem, no entanto, custam em média US$ 1 milhão, muito abaixo de um contrato para construção de plataforma, na casa de bilhão.
O executivo criticou as mudanças nos percentuais de conteúdo local para novos contratos, reduzidos para 25% para plataformas. “Sem política de conteúdo local ninguém vai fazer nada aqui [no Brasil]”, disse o executivo.
Segundo Burmann, mesmo os índices de 40%, adotados para plataformas para contratos vigentes, não atendem ao pleito do estaleiro, uma vez que nas novas regras não há obrigatoriedade de construção de cascos no país. “E o que gera emprego é fazer casco”, disse.