Em entrevista à BE Petróleo, diretor Comercial da Techint, traça cenário para construção offshore no Brasil
Com o fim iminente da construção da P-76, a Techint corre contra o tempo para buscar novos contratos de construção offshore. Em entrevista à BE Petróleo, o diretor Comercial da empresa, Luís Guilherme de Sá afirma que a próxima oportunidade factível de trazer obras para o Brasil é Mero 2, que, nos seus cálculos, pode ter dez módulos feitos no país. “A discussão não pode se resumir a quanto custa construir aqui ou lá fora. É preciso ter uma visão estratégica de país”, diz o executivo.
Como vão as obras da P-76? Qual a previsão de conclusão?
Estão caminhando bem, tudo dentro do programado, com previsão de saída até o fim deste ano.
Como foi para a Techint fazer o carry-over do casco?
Foi um trabalho novo, uma grande oportunidade para podermos explorar os limites do que podemos fazer em nosso site. Porque o escopo inicial era a fabricação de 15 módulos e a integração e lifting de todos os 20 módulos que compõem a plataforma. Estávamos um pouco preocupados por ser um trabalho de estaleiro, mas performamos super bem.
Obras que são quase um tabu no Brasil…
Quando falam de conteúdo local de casco estão se referindo à construção de casco novo, que é um complicador por precisar de dique seco.
Nesse caso foi um casco convertido.
Sim, e os trabalhos não demandaram dique seco. Foram obras internas, com reforços adicionais, pintura dos tanques, ampliação do modo de acomodação e toda parte de conclusão da conversão que havia ficado pendente. Fizemos também um trabalho pioneiro no país que foi a instalação da boca de sino no mar com mergulhadores e metodologia desenvolvida aqui na Techint.
Olhando para frente, os FPSOs mais recentemente contratados (Mero 1 e Sépia) e ainda em licitação (Marlim 1 e 2 e Búzios) terão níveis bastante reduzidos de conteúdo local. Como você encara esse cenário?
Os afretadores têm nos procurado, mas as regras do jogo estimulam os afretadores a contratar os módulos e boa parte da integração no exterior. Então infelizmente sobra muito pouca coisa a ser feita no Brasil, levando ao esvaziamento da indústria nacional.
E como fica o canteiro da Techint no Pontal do Paraná?
Ficamos com know how acumulado e mão de obra qualificada na região na expectativa de um novo contrato. O que nos deixa mais otimistas são as futuras contratações respeitando as novas regas definidas pela ANP, que estabelece conteúdo local de 40% para os contratos existentes que firmaram os aditivos de conteúdo local.
Nesse caso as operadoras não poderão recorrer ao waiver.
Exatamente. A ANP fez um estudo muito sério e consultou a indústria, verificando as capacidades existentes e definindo com muito equilíbrio o ponto onde há um balanço entre a competitividade e um nível de ocupação adequado da indústria local.
Diversas petroleiras têm aderido aos aditivos. Isso dá uma tranquilidade à indústria de construção?
Esperança, não tranquilidade. Isso só virá com os contratos. O pacote de projetos que está na rua não dará escala. O que existe para nós é Libra [Mero] 2. A Petrobras tinha estabelecido duas alternativas de conteúdo local no edital. Como houve a definição de 40% pela ANP, acredito que vão respeitar. Já começamos a ser contatados [pelos afretadores] por Libra 2, o que é uma sinalização positiva.
Os afretadores já indicaram o escopo brasileiro?
Ainda não. Mas acreditamos que teremos um escopo razoável, algo em torno de dez módulos. A discussão não pode se resumir a quanto custa construir aqui ou lá fora. É preciso ter uma visão estratégica de país. Queremos um país que emprega engenheiro, mão de obra qualificada e desenvolve tecnologia ou um importador de produto acabado? Cada projeto de plataforma gera cinco mil empregos diretos e dez mil indiretos, fora o impacto nas famílias. Estamos falando de um universo de 50 mil pessoas.
Enquanto isso a Techint buscará projetos alternativos para manter o site?
Já avaliamos muitas opções, mas o que dá escala é a construção offshore. Módulo e integração é uma construção de alto valor agregado, que permite ao país desenvolver uma série de qualificações, diferentemente de construir um casco, que tem muito menos conteúdo tecnológico.