A pandemia do novo coronavírus, que já atingiu 213 países, infectou cerca de 1,8 milhões de pessoas e levou a óbito 112 mil pessoas no mundo até esta data, também atingiu o nosso País. Estamos neste momento em isolamento social, para evitar o colapso do nosso sistema de saúde.
Temos que aproveitar este momento, em que estamos em um ritmo menos acelerado que o usual, para refletirmos sobre o presente, o passado e o futuro do País e de sua indústria.
O processo de globalização se constitui pelo modo como os mercados de diferentes países e regiões interagem, negociando mercadorias e aproximando pessoas.
Costumes, tradições, itens de culinária e produtos típicos de determinada localidade passam a estar presentes em outros lugares totalmente diferentes. Isso acontece graças à troca de informações e à liberdade que a globalização pode proporcionar.
A quebra de fronteiras gerou uma expansão capitalista, onde foi possível realizar transações financeiras e expandir os negócios – até então restritos aos mercados internos – para mercados distantes, de países desenvolvidos ou emergentes.
No Brasil, a globalização trouxe efeitos positivos, tais como o acesso a produtos e serviços a preços mais acessíveis e o incremento da exportação de commodities, entre outros produtos, mas os malefícios também foram grandes: houve uma desindustrialização do País, sob o argumento de que os preços cobrados pelas indústrias brasileiras eram muito caros em comparação, principalmente, aos preços asiáticos, gerando uma grande perda de postos de trabalho no Brasil e, em consequência, contribuindo para o empobrecimento da população.
Mas o pior sintoma da globalização estamos sentindo neste momento de crise do Covid-19. A desindustrialização fez com que o Brasil ficasse extremamente dependente dos países asiáticos, no que diz respeito à compra de equipamentos de proteção individual para as equipes de saúde, bem como dos hoje famosos respiradores para o atendimento de pacientes internados em estado crítico. O mundo está disputando ferrenhamente esses equipamentos e os países mais ricos usam não só o dinheiro como a sua influência para obter esses equipamentos, em detrimentos de países em desenvolvimento como o Brasil. Estamos em uma guerra sem regras, na qual a globalização mostra seus efeitos de forma muito cruel.
Temos certeza de que vamos passar por esse momento e muito em breve poderemos voltar à normalidade, mas o mundo não será mais o mesmo – haverá um maior empobrecimento de todas as pessoas de todas as classes sociais, e com certeza teremos mais desemprego no País, independentemente da vontade das autoridades.
Especialistas do mercado dizem que podemos comparar a crise atual com a grande depressão de 1929, que causou altas taxas de desemprego e quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como uma redução drástica na produção industrial, nos preços de ações negociadas nas bolsas de valores mundiais e em, praticamente, todos os indicadores que medem a atividade econômica dos países do mundo.
Precisamos aprender com as lições do passado para podermos superar as crises do presente e avançar rumo a um futuro melhor. Neste sentido, o exemplo dos EUA naquela crise pode servir de parâmetro para a retomada de nossa industrialização. Naquele momento crítico, foi feito um pacto entre governo, indústria e consumidores para a criação de empregos para a população afetada. Os órgãos governamentais foram direcionados para a tarefa urgente de planejar, administrar e empregar, direta ou indiretamente, milhares de trabalhadores para construção de aeroportos, escolas, hospitais, pontes e represas. Estes projetos federais forneceram milhões de empregos aos necessitados.
Trazendo essa experiência para a indústria de construção naval brasileira, entendemos que, por ser esta uma indústria que gera muita mão de obra, podemos ajudar o País a superar a crise. Para isso são necessárias algumas poucas providências, como, por exemplo, seguirmos o exemplo do Japão, que tem ajudado as empresas nacionais a produzir naquele país, em substituição aos produtos adquiridos da China. No nosso caso, isso significa que deveríamos voltar a produzir no Brasil embarcações e plataformas para produção de petróleo e gás natural, como os FPSOs, com um índice de conteúdo local de, pelo menos, 40%, para podermos gerar empregos não só na indústria naval como, também, em sua extensa cadeia produtiva, e utilizarmos a Petrobras como instrumento de indução na geração de empregos, pelo retorno à prática da contratação no País, que foi desenvolvida ao longo dos anos desde sua criação e que deixou de ser observada por suas últimas administrações.
Ou pensamos na geração de empregos nessa parceria entre a indústria e governo ou continuaremos, por muito tempo, a ter que socorrer a população com uma renda mínima emergencial para sua subsistência em momentos de crise como a que estamos vivenciando. Isso é uma questão de escolha. Façamos a escolha certa, para o bem de nosso País.
Rio de Janeiro, 14 de abril de 2020
Ariovaldo Rocha