Comandante Moura citou, entre desafios, a necessidade de superar o momento de estagnação no fornecimento de empresas nacionais para a indústria local.
A assinatura do contrato para construção das fragatas Tamandaré abre novas perspectivas de fornecimento indústria nacional de equipamentos navais. O gerente do programa de fragatas classe Tamandaré (PFCT), capitão de mar e guerra Roberto Marcelo Moura dos Santos, disse que são oportunidades possíveis, mesmo com a baixa demanda da construção naval brasileira nos últimos anos. Ele ressaltou que essa indústria vem de um passado recente de atendimento a projetos da indústria offshore, cujos requisitos tecnológicos se aproximam dos militares devido ao emprego cada vez maior de componentes comerciais nos projetos das forças armadas.
O comandante Moura citou como desafio superar o momento de estagnação no fornecimento de empresas nacionais para a indústria local. Ele também elencou a necessidade de a indústria obter certificação e classificação capazes de fazer frente aos desafios de tecnologia do produto e do seu processo produtivo e de sua catalogação. Para o gerente do PFCT, ter êxito nessa missão também passa por melhorar o serviço pós-venda, penetrando nos canais de venda de estaleiros e na cadeia de suprimento do produto, assim como nos canais de venda internacionalizados.
A construção dos navios da classe Tamandaré será realizada no Brasil com expectativa de taxas de conteúdo local acima de 30% para o primeiro navio e de 40% para os demais, conforme contrato assinado com a Marinha. A avaliação final do cumprimento dos percentuais de conteúdo local será realizada pela Empresa Gerencial Projetos Navais (Emgepron), subsidiada pelos dados fornecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As quatro fragatas serão construídas pela sociedade de propósito específico (SPE) Águas Azuis no estaleiro TKMS Brasil Sul (antigo Oceana), em Itajaí (SC). A SPE é formada pela thyssenkrupp Marine Systems, Embraer Defesa & Segurança e Atech.
A força naval considera que a imposição de índices de conteúdo local relativamente elevados para as fragatas, levando em conta que os sistemas de armas e comunicações são predominantemente importados, correspondem a uma parcela considerável do custo total, abrindo boas oportunidades para a indústria de navipeças. As perspectivas advindas das necessidades de sobressalentes catalogados internacional para manutenção do ciclo de operação dos navios representam perspectiva de participação sustentável do parque nacional.
O comandante Moura observa uma tendência atual de terceirização da produção dos estaleiros acarreta maior coparticipação da cadeia de suprimento no processo produtivo das embarcações. “Estaleiros priorizam os fornecedores conforme sua criticidade relativa ao impacto nos lucros e riscos de fornecimento na maior parte dos casos a qualidade e os custos envolvidos, incluindo logísticos, predominam como fator de peso”, analisou, nesta quinta-feira (22), durante o webinar ‘Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro apresenta seus projetos’, promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Ele acrescentou que a estratégia de associação em arranjos produtivos locais (APLs), ou clusters, se mostra alternativa viável para a mobilização dos agentes envolvidos e direcionamento dos esforços político para o atendimento e inclusão maior e mais sustentável da indústria nacional na cadeia de suprimento das novas fragatas.
Moura destacou que, além do índice de conteúdo local, a participação da indústria nacional nesse projeto se dará pela transferência de tecnologia (sistemas CMS – de gerenciamento de combate e IPMS – de gerenciamento de plataforma integrada). Os dois sistemas são desenvolvidos pela Atech (grupo Embraer), com apoio da alemã Atlas Elektronik e a canadense L3 Mapps. “Atech e a Marinha do Brasil serão capacitadas a conduzir manutenções corretivas, adaptativas e evolutivas desses sistemas ao longo do ciclo de vida das fragatas”, afirmou.
Moura frisou que as oportunidades que surgem para indústria de navipeças no apoio logístico integrado e gestão do ciclo de vida decorrem de contribuições de curto prazo e na prospecção de soluções de longo prazo. O gerente do PFCT explicou que cerca de 20% do custo total do ciclo de vida é despendido durante a fase de concepção, desenvolvimento e produção, restando cerca de 80% do custo total ciclo de vida para fase de operação e apoio logístico.
Segundo o comandante Moura, a gestão do conteúdo local amplia o potencial da participação do conteúdo local no sentido de apresentar ganho de escala produtiva, não associada somente à escala de demanda nesse ciclo de obtenção, mas à sua manutenção ao longo do ciclo de operação. Ele lembrou que a catalogação é uma obrigação contratual estabelecida pelas partes, devendo incluir a classificação de fornecedores, divididos em: influentes, estratégicos, não-críticos e gargalos.