A pesca é uma importante atividade econômica, que garante emprego, renda e segurança alimentar para a maioria das nações. As grandes potências globais miram cada vez mais os proventos alimentares do mar, investindo em tecnologia e sustentabilidade.
No Brasil, o setor da pesca industrial iniciou nos anos 60, até aquele momento a pesca era predominantemente artesanal. A partir de então, através da política de incentivos fiscais à pesca e a cadeia de processamento, desenvolveu-se preferencialmente com foco no mercado externo.
Em 1964, a frota pesqueira industrial de Santa Catarina era composta por cerca de 48 embarcações que operavam com 490 pescadores. Em 2019, o Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (SINDIPI) contava com mais de 447 embarcações associadas, somando mais de 3.500 pescadores que tiram seu sustento dessa atividade na região.
A predominância da frota nacional ainda é de barcos de madeira e com pouca tecnologia empregada. Foto: Itajaí Naval.
No entanto, o nível tecnológico das embarcações pesqueiras é um ponto crítico para o setor da pesca industrial regional, com a frota atual estando completamente defasada. A falta de inovação tecnológica e equipamentos mais eficientes, a longo prazo, resulta em altos custos de operação e redução da produtividade em todo o setor.
Quando comparamos com pesqueiros de países vizinhos como a Argentina, Chile e Peru, o Brasil encontra-se muito atrasado no desenvolvimento de pesqueiros eficientes e lucrativos. Atualmente, a grande maioria das embarcações em operação na costa brasileira foram construídas na década de 80 e 90, muitas delas ainda em madeira.
Uma das grandes barreiras para a modernização do setor pesqueiro é a falta de investimento em pesquisa por maior eficiência e ainda o alto custo de construção e reparo da embarcação.
Embarcação para o transporte de pescados vivos que deve entrar em operação ainda este ano Chile. Nossos vizinhos seguem investindo alto em tecnologia e renovação de frota. Imagem: Naviera Orca Chile.
Porém, essa realidade pode e deve começar a mudar em breve. Nos últimos anos, armadores brasileiros estão identificando oportunidades no mercado europeu e asiático, aproveitando o alto valor das moedas estrangeiras. A expectativa é que o mercado de exportação possa reacender a construção e modernização da frota pesqueira nacional.
Já trilhando esse árduo caminho, dois armadores catarinenses estão construindo duas embarcações do tipo “Barco-Fábrica” na região de Itajaí, com projeto e construção local. Serão embarcações pioneiras para o setor de pesca nacional, agregando muita inovação e qualidade ao produto final.
Seguindo uma tendência global, as novas embarcações com fábricas a bordo terão a capacidade de realizar a captura do pescado, processá-lo e embalá-lo em câmaras frigoríficas, realizando a descarga do produto já pronto para transporte ao comércio.
Projeto de Barco-Fábrica desenvolvido em Santa Catarina. É possível ver o espaço reservado a bordo para o processamento do pescado. Imagem: Wesley Giovanella Bento.
Obviamente o caminho ainda é longo, com muitas barreiras a serem vencidas, mas aos poucos a pesca industrial brasileira terá que seguir o mesmo caminho que muitos outros países já traçaram. Apenas com a modernização da frota pesqueira e o desenvolvimento da construção naval para este segmento, será possível agregar qualidade ao produto, incentivar o consumo interno do pescado e entrar no mercado estrangeiro, tornando o Brasil uma potência pesqueira.
Wesley é Engenheiro Naval formado pela Universidade Federal de Santa Catarina, sendo o aluno destaque UFSC-2016 concedido pelo ABS Brasil (American Bureau of Shipping Brasil). Através da Naval Norte Engenharia e Assessoria, projetou duas embarcações do tipo “Barco-Fábrica”, até então um conceito inédito na construção naval regional. Com forte conhecimento no setor pesqueiro, Wesley atualmente presta assessoria para armadores e estaleiros, do projeto até a manutenção e certificação de embarcações pesqueiras.