Nota técnica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) avalia cenários para transição energética no setor

  • 03/09/2025

O crescimento do setor, embora abaixo do potencial pleno da indústria, demonstra a resiliência da fonte eólica como uma das principais da matriz brasileira.

Com crescimento acelerado e inovação tecnológica, o setor eólico brasileiro avança rumo à liderança global, apostando na energia offshore (produzida em parques eólicos em alto-mar), digitalização e sustentabilidade como motores de uma nova era energética.

Em um cenário marcado pela urgência da transição energética e pelo compromisso com fontes mais limpas e sustentáveis, a energia eólica ganha destaque. Com turbinas que transformam o vento em eletricidade, essa fonte renovável vem se consolidando como uma das apostas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e diversificar a matriz energética.

No Brasil, o crescimento é impulsionado pelas condições favoráveis do Nordeste e pelo investimento contínuo no setor. No mundo, países como China, Estados Unidos e Alemanha lideram a expansão e inovação tecnológica. Este panorama revela os desafios e oportunidades de um setor que movimenta bilhões e aponta para um futuro mais verde.

De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), até julho de 2025, o Brasil alcançou a marca de 35,165 GW de capacidade instalada em fase de operação e teste. Isso representa mais de 1.143 parques eólicos, com um total de 11.999 aerogeradores espalhados por 12 estados. A concentração se dá especialmente no Nordeste, com destaque para Bahia e Rio Grande do Norte.

“O setor eólico brasileiro tem avançado de forma consistente na adoção de inovações tecnológicas e operacionais voltadas à eficiência dos empreendimentos, sobretudo os de grande porte”, afirma Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica. Ela explica que o país já opera com turbinas de última geração, torres mais altas, rotores de maior diâmetro e potência, o que permite captar ventos mais constantes e aumentar o fator de capacidade dos parques.

Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica | Foto:Divulgação

 

A digitalização é um diferencial competitivo. “Estamos usando sensores, inteligência artificial e manutenção preditiva para antecipar falhas, reduzir custos e aumentar a disponibilidade dos ativos”, diz Elbia. Modelos meteorológicos e  de previsão também contribuem para maior previsibilidade da geração, facilitando a integração com o sistema elétrico nacional.

Offshore

Entre os grandes movimentos do setor está a entrada do Brasil na energia eólica offshore, com geração feita em alto-mar. “O marco legal já foi estabelecido com a aprovação da Lei nº 15.097/2025”, explica Elbia. A próxima etapa, segundo ela, é a complementação regulatória, que está sendo conduzida pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com foco em critérios para seleção de áreas, metodologia de cessão e definição de limites.

O interesse do mercado é crescente: mais de 100 projetos já foram submetidos ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), totalizando 247 GW de potência em análise ambiental. “Isso mostra o apetite dos investidores, que aguardam o lançamento dos leilões de cessão de áreas para tirar os projetos do papel”, diz a presidente da ABEEólica. O país também já discute três projetos-piloto nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, e o primeiro deles, localizado no Nordeste, já recebeu licença prévia do órgão.

Com um potencial estimado de 700 GW em energia eólica offshore, sem considerar áreas de águas profundas, o Brasil se posiciona como uma das futuras potências nesse segmento.

Paralelamente, uma nova demanda começa a ganhar força: os data centers movidos a energia renovável. “A crescente digitalização da economia, o avanço da inteligência artificial e das aplicações em nuvem estão impulsionando a busca por infraestrutura de alto desempenho. O Brasil reúne condições únicas para atrair esses empreendimentos, oferecendo energia limpa, abundante e competitiva”, afirma Elbia.

Brasil

No ranking mundial, o Brasil ocupa a 5ª posição em capacidade instalada de energia eólica onshore (produzida em terra), segundo o Global Wind Report 2025, fruto do potencial eólico elevado, da competitividade da fonte e da estruturação do setor nas últimas duas décadas.

No segmento offshore, o país continua no estágio inicial, com expectativas de instalação comercial a partir de 2030, dependendo das regulamentações. “Podemos aprender muito com os países líderes. A China, por exemplo, alia inovação tecnológica à forte coordenação estatal. Os Estados Unidos investem em regulação clara e expansão da infraestrutura de transmissão. Já a Europa se destaca pelo pioneirismo em energia eólica offshore e integração de mercado”, avalia Elbia.

No caso brasileiro, além de adotar as melhores práticas internacionais, ela acredita que é preciso investir em pesquisa e fortalecimento da cadeia produtiva. “A energia eólica pode ser um dos pilares de uma nova fase industrial no Brasil, conectada com o mundo e com foco em sustentabilidade e inovação”, conclui.

Perspectivas

Mesmo diante de alguns gargalos logísticos e incertezas regulatórias, o setor projeta crescimento. A previsão da ABEEólica é de mais de 2 GW em nova capacidade instalada em 2025. Esse ritmo, embora abaixo do potencial pleno da indústria, demonstra a resiliência da fonte eólica como uma das principais da matriz brasileira.

A geração de empregos também acompanha essa expansão. A estimativa é de que mais de 23 mil postos de trabalho, diretos e indiretos, sejam criados neste ano. A cadeia produtiva envolve da fabricação de componentes aos serviços de engenharia, construção, transporte, operação e manutenção, dinamizando a economia, sobretudo no interior do Nordeste.

Para que o setor continue avançando de forma sustentável, Elbia destaca dois pilares: infraestrutura de escoamento e segurança regulatória. “O setor elétrico cresce quando o país cresce. Precisamos de uma política industrial verde, que estimule a modernização produtiva e o fortalecimento da demanda por eletricidade limpa”, afirma.

Fonte: Folha de Pernambuco
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