Encomendas, modernização da frota e aumento da produção de óleo e gás animam fornecedores de eletroeletrônicos

  • 16/12/2025

A encomenda de novas embarcações a estaleiros brasileiros, a necessidade de modernização da frota e o aumento da produção de petróleo e gás nos campos do pré-sal e do pós-sal animam os fornecedores de produtos eletroeletrônicos e de serviços de suporte a eles. No caso das encomendas de novas embarcações, o otimismo com aumento das vendas de componentes vem sobretudo do anúncio da Petrobras de que pretende contratar, até o ano que vem, 52 embarcações. O investimento, em torno de R$ 30 bilhões, inclui barcos de apoio para atender às necessidades surgidas com o aumento da produção de óleo e gás offshore, principalmente no Campo de Búzios, na Bacia de Santos.

O anúncio do número de embarcações a serem encomendadas pela empresa, feito em maio pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, representou revisão para cima da estimativa anterior da estatal, que era de contratar 48 novos navios. Além disso, ela informou que as exigências de participação brasileira nas construções serão de 45% a 65%. Também será exigida redução de 20% a 30% nas emissões de gases do efeito estufa.

Além das exigências anunciadas pela presidente da Petrobras, outro fator que anima os fornecedores de equipamentos eletroeletrônicos é a necessidade de modernização das frotas, principalmente no segmento de apoio marítimo à produção de óleo e gás offshore. As embarcações deverão operar com sistemas atualizados de detecção de vazamentos de óleo e de ação rápida para contê-los e para a retirada do produto do mar, além do monitoramento de ondas em atividades de apoio e em redução de emissões de gases o efeito estufa, entre outros.

Alexandre de Carvalho, diretor de Vendas e Desenvolvimento de Negócios da Belga Marine, grupo brasileiro que representa diversos segmentos de equipamentos eletroeletrônicos para a indústria naval e de offshore, explica que a expectativa de aumento de vendas no setor é principalmente para barcos de apoio a plataformas. “São embarcações com mais tecnologia embarcada, como as de suporte a mergulho. São barcos de suporte a emergência, que devem estar sempre a postos para atuar.”

Entre os segmentos em alta para utilização nas  operações offshore, o executivo da Belga Marine cita os de detecção de vazamento de óleo e para sua contenção. Ele explica que a exigência desses componentes passou a ser feita pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) principalmente depois que um grande incidente do tipo atingiu a costa brasileira, no Nordeste e no Sudeste, em julho de 2019.

Segundo Carvalho, a exigência resultou em encomendas aos fornecedores, principalmente para equipar barcos de apoio a plataformas, já que ela não engloba os navios cargueiros. “Nos cargueiros não é exigido porque não é regulamentado”, explica Alexandre de Carvalho.

A Belga Marine informou que, como consequência da exigência do Ibama e do aumento da produção de petróleo e gás, a empresa tem registrado aumento de encomendas de sistemas de monitoramento de óleo derramado e de controle ambiental. No caso, os da norueguesa Miros fornecidos por intermédio da representante brasileira, que combinam sensores de alta precisão com integração em nuvem, o que, explica a empresa, garante mais agilidade na ação de controle e limpeza.

A companhia tem registrado crescimento também na procura por monitoramento a partir de drones e por sistemas de gerenciamento digital, automação e controle, impulsionado, por exemplo, pelos sistemas de automação de tanques. “Esse movimento acompanha a retomada de projetos offshore e o endurecimento das exigências regulatórias”, informou Carvalho.

Segundo ele, a Belga Marine é hoje uma das principais fornecedoras, através das empresas que representa, de equipamentos de controle e ambiental e de monitoramento de possíveis vazamentos de óleos, com presença em 90% das plataformas e entre 55% e 65% nas embarcações de apoio. Carvalho explicou que, além de fornecer e instalar os equipamentos, a empresa dá suporte às operações com pessoal próprio formado no Brasil e especializado em treinamentos nas sedes dos fabricantes.

Outro segmento em que a empresa atua intermediando compras e em que têm sido registradas consultas e encomendas é o dos equipamentos voltados ao aumento da eficiência energética e da redução da pegada de carbono. Segundo a Belga Marine, esses dispositivos usam tecnologias baseadas em inteligência artificial e machine learning e têm sido considerados essenciais para otimizar desempenho e reduzir o consumo energético a bordo de plataformas e de embarcações.

A empresa prevê potencial de aumento de vendas também de equipamentos para monitoramento de ondas e condições do mar em atividades de apoio a plataformas, incluindo as que exigem a ação de mergulhadores. Segundo a companhia, é registrada demanda crescente por dados metoceânicos em tempo real e por ferramentas avançadas de previsão de ondas e estado de mar, para dar mais previsibilidade e segurança aos trabalhos.

Alexandre de Carvalho explicou que ainda há empresas que trabalham a partir da previsão do tempo, mas nem sempre os dados são totalmente confiáveis, mas já existem tecnologias mais eficientes, inclusive com uso de Inteligência Artificial. Segundo ele, o uso de sistemas mais precisos traz ganhos para as embarcações e para as equipes que trabalham em apoio às plataformas porque evitam o que classificou como “falsos positivos”, quando dados sobre potenciais riscos levam à suspensões temporárias de atividades, mas não se confirmam.

Por isso, explica o diretor da Belga Marine, a expectativa é de que haja aumento de vendas nesse segmento, não só por causa das encomendas de novas embarcações, que deverão sair dos estaleiros já com equipamentos mais modernos e com tecnologias mais atualizadas, mas também pelo avanço da modernização das frotas de apoio já em operação. Isso porque os dispositivos garantem, além de mais eficiência operacional, mais segurança para os mergulhadores. “Estamos fazendo esforço ativo para vender os equipamentos que fazem controle mais rígido”, conta.

Otimista com o potencial de aumento do fornecimento de equipamentos eletroeletrônicos para as indústrias naval graças às encomendas de novas embarcações, notadamente as anunciadas pela Petrobras, ele acredita que a exigência de índices mínimos de conteúdo local exigidos pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) não vai afetar o setor. Segundo Carvalho, esses percentuais serão atingidos na produção da estrutura das embarcações, com o material usado pelos estaleiros e com uso de mão de obra. “A instalação dos equipamentos é feita na fase próxima da entrega das embarcações, a dois a seis meses antes da conclusão das obras e depois perto da prova de mar”, explica.

Por isso, a previsão da Belga Marine de início de recebimento de consultas para comissionamento das embarcações que serão encomendadas a partir de 2026 é para daqui a um ano ou mais. Carvalho espera que os pedidos comecem em 2026 e se concentrem no período de um ano e meio a dois anos.

Ele informou que espera aceleração do processo nos próximos anos, principalmente de venda de equipamentos para barcos de apoio e estruturas de exploração de óleo e gás que serão necessários para atender à exploração de óleo e gás na Margem Equatorial, que chamou de nova fronteira. E também ao aumento da produção nas regiões onde já há exploração, incluindo a Bacia de Campos, onde foi encontrado recentemente mais um poço com potencial para exploração. “Nossa expectativa é dobrar o faturamento em cinco anos”, diz.

Outra empresa brasileira representante de fornecedores estrangeiros de equipamentos eletroeletrônicos para a indústria naval e de offshore que prevê crescimento dos negócios é a Vision Marine, que atua no segmento de dispositivos de monitoramento e de segurança de navegação, entre outros. É esperado, por exemplo, aumento de vendas no segmento de detecção de vazamentos.

A empresa brasileira representa no Brasil a Rutter, que fabrica no Canadá radares especializados. Alexandro Vieira Henriques, consultor de negócios da empresa, lembra que esse tipo de equipamento, por ser exigido no mercado offshore, em navios de apoio que trabalham ligados às plataformas de exploração, tem potencial de aumento de vendas para atender às novas encomendas e ao aumento da produção prevista.

Henriques esclarece que os radares para monitoramento de possíveis vazamentos são usados também em plataformas e navios-plataformas, além dos barcos de apoio, geralmente de menor porte.  Segundo ele, os dados coletados pelos radares são compartilhados em nuvem, pela Internet, o que facilita a reação em caso de ser registrado algum problema.

Os radares, informa o consultor de negócios da Vision Marine, são capazes de identificar vazamento até em embarcações que navegam em raio próximo de onde estão instalados. Mas a preocupação maior do monitoramento é com as conexões e sistemas de extração de óleo dos poços, nos quais o risco de vazamento é maior porque estão diretamente ligados à produção. Por isso, prevê cada vez mais demanda nos próximos anos.

Outro segmento visto com potencial de vendas é o de propulsão a hidrojatos que, além de aumentar a potência dos motores, permitem melhores condições de manobras. Eduardo Cavadas, analista de Desenvolvimento da Vision Marine, explica que os equipamentos terão que ser instalados nas novas embarcações porque são exigidos pela Petrobras em operações de apoio com mergulhos, para dar mais segurança aos mergulhadores.

Ele explica que os propulsores fornecidos pela empresa são fabricados pela neozelandesa Hamilton Jet e, além do uso por embarcações de apoio, são ideais para barcos que operam em águas com calado pequeno, incluindo os da navegação interior, “Em lâminas d’água menores são mais eficientes que os motores de popa.” Além disso, explica o executivo, os dispositivos são usados também em barcos da Polícia Federal em patrulhamentos em áreas ribeirinhas e pela praticagem. Por isso, informou Cavadas, esse mercado vem crescendo a cada ano, e as vendas chegam a 40 unidades por mês.

A empresa tem expectativa de mais encomendas também de agulhas giroscópicas que operam em rede e são mais fáceis de instalar. Segundo Alexandre Viera Henriques, esses são equipamentos ligados à segurança e usados tanto em embarcações comerciais como nas militares.

Outro produto apontado pela Vision Marine com forte potencial de vendas são os compressores de ar de partida fabricados pela empresa norueguesa Sperre Marine. Nesse caso, segundo o consultor de negócios Flávio Nascimento, além da expectativa criada pelas novas encomendas, o incremento deve-se também à reposição em embarcações que já estão em operação. Os compressores são usados para dar partida no motor e para acionamento de outros dispositivos.

A empresa destaca ainda os sistemas de detecção de incêndio e de vazamentos de gás fabricados pela Consilium, empresa de origem sueca que tem filial nos Estados Unidos, e sistemas de tratamento de água e esgoto das embarcações, fornecidos pela também sueca Jowa, que têm que passar por revisão a cada cinco anos, serviço que é feito também pela Vision Marine.

O fornecimento de serviços é outro ponto em que a empresa tem potencial de aumento de mercado. A Vision Marine informou que seus técnicos são treinados diretamente pelas empresas fabricantes dos equipamentos e, por isso, estão aptos a atender a serviços de manutenção e atendimentos de emergência, inclusive em outros países. Os dispositivos que fornece estão presentes em embarcações de diferentes armadores e, em muitos casos, a empresa é procurada para serviços em navios de passagem pelo Brasil ou em países vizinhos.

A Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Offshore da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSENO/Abimaq) avalia que a retomada das encomendas do setor naval terá importância para todo o setor e tem potencial de gerar empregos qualificados e estimular toda a cadeia produtiva nacional, com o fornecimento de sistemas, equipamentos e soluções tecnológicas.

O presidente da entidade, Leandro Pinto, que também é diretor-geral da Anschütz, ressalta, no entanto, que, no momento, está faltando mão de obra especializada nos estaleiros para atender às demandas previstas. Ele garante que as empresas que fornecem os equipamentos estão preparadas. “Há uma demanda que está reprimida”, explica.

Ele afirmou que, para a execução dos projetos das embarcações e estruturas, os fornecedores terão que ter equipes nos estaleiros para dar suporte à instalação dos equipamentos e para o treinamento do pessoal da indústria, por causa das poucas encomendas em anos recentes. “´É difícil encontrar esse pessoal, como acontecia nos anos 1990, por exemplo”.

Pinto explicou que quando houve a retomada da indústria naval, já nos 2000, foi constatado esse gargalo de mão de obra especializada. Por isso, diz que é preciso que a retomada da construção de embarcações no Brasil tem que ser tratada como política de Estado e não apenas de governo e que é preciso estudar e adotar todas as medidas necessárias para que o Brasil mantenha sua indústria naval em atividade perene. Além disso, avalia que, para acompanhar o aumento da produção de navios e estruturas offshore no país, é preciso investir em formação de pessoal. “Seria preciso criar um programa de governo para formar mão de obra especializada”, diz.

Leandro Pinto explica que o aumento das encomendas vai demandar cada vez mais a necessidade de formação especializado e que, para que as empresas, inclusive as fornecedoras de equipamentos, invistam nessa formação será necessária a garantia de que a retomada da construção naval se transforme em processo contínuo. “Os fornecedores de equipamento têm condições de atender à demanda. Mas, para aumentar a oferta, têm que ter previsibilidade”, diz.

Fonte: Portos e Navios – Nelson Moreira
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