Um dos efeitos da paralisação de dez dias dos caminhoneiros – categoria parou no último dia 21 de maio para exigir uma redução nos preços do óleo diesel – foi o pedido de demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, depois de dois anos no cargo. A mudança na estatal é vista com atenção pela indústria naval, já que a Petrobras é a principal demandante.
“Esperamos que o novo presidente, Ivan Monteiro, adote uma postura de diálogo. Vamos procurá-lo para conversar e assim demonstrar a importância que a indústria naval tem na geração de renda e empregos no Brasil”, afirma o vice-presidente do Sinaval, Sérgio Bacci.
O diretor da Ivens Consult, Ivan Leão, revela que o balanço de 2017 da Petrobras aponta perdas e aumento de despesas líquidas que somam R$ 4,532 bilhões nos projetos de construção naval no Brasil. As obras se referem a navios petroleiros e cascos de FPSO, em contratos com Eisa-PetroUM, Estaleiro Atlântico Sul, Ecovix-Engevix Construções Oceânicas, Enseada Indústria Naval e Estaleiro Rio Tietê.
Bacci discorda dos analistas que defendem a qualidade do ex-presidente da Petrobras enquanto gestor da companhia, para ele um bom gestor é aquele que escuta e tenta mediar situações. “Ele (Parente) radicalizou o ponto de vista dele com a intenção de resolver o problema de caixa da Petrobras e esqueceu que a empresa tem um papel fundamental para a economia brasileira e tudo que gira em torno da companhia”, diz.
Para ele, a política de preços adotada pelo então presidente da Petrobras foi inconsequente, uma vez que provocou o desabastecimento do País com a greve dos caminhoneiros e “forçou a mão” do já enfraquecido Governo Federal. “A conta quem paga no final é o conjunto dos brasileiros”, diz Bacci. Uma conta que já começa a surgir com a inflação oficial que acelerou 0,40% no mês de maio, em abril o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,22%, segundo informou na última sexta-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, já afirmou publicamente que a companhia vai aguardar os resultados da consulta pública aberta pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) com vistas a definir a periodicidade dos reajustes do preço da gasolina, antes de tomar uma decisão. Por enquanto, a Petrobras mantém a prática de reajuste diário do preço da gasolina.
Geração de empregos — O vice-presidente do Sinaval afirma que a entidade trabalha para reverter a situação iniciada à partir de 2014, na qual a Petrobras mudou a forma de contratação e passou a privilegiar a China nas demandas da companhia. O que ocasionou a queda na geração de empregos e comprometeu os estaleiros nacionais que atuam basicamente para atender a indústria de petróleo e gás.
“Uma comparação pertinente que tenho usado é que em 2014 a indústria naval empregava 82 mil pessoas de forma direta e a indústria automobilística, com todos os incentivos que não são poucos, empregava 136 mil pessoas. Diante disso, a pergunta que faço é: Se o número de empregos gerados no Brasil é parecido, por que a automobilística mantém os privilégios e a naval é jogada para o canto?”, diz Bacci.
Os esforços do Sinaval e a discussão do futuro da indústria naval estão na agenda da 15ª Marintec South America, principal evento da América do Sul dedicado aos setores da construção naval, manutenção e operações. O evento acontece de 14 a 16 de agosto, das 13 às 20 horas, no Centro de Convenções SulAmérica, Rio de Janeiro (RJ).
“A Marintec é extremamente importante para o setor naval”, salienta Bacci. Ele relembra que à época como diretor do Fundo da Marinha Mercante, foi o primeiro dirigente governamental a ajudar na formatação da 1º edição da feira. “A partir de então participei em todas as edições. Sentimos, nos últimos anos, que a retração do setor afetou a Marintec também, mas acredito na força do evento como fórum de discussão e apresentação de inovações para manter a indústria naval viva no Brasil”, finaliza vice-presidente do Sinaval.