A Log-In – Logística Intermodal assinou um acordo para compra de dois navios porta-contêineres que serão serão construídos no estaleiro chinês Zhoushan Changhong International Shipyard. O valor da transação é de US$ 42,6 milhões para cada embarcação. Os valores serão pagos, segundo a empresa, “ao longo dos principais marcos contratuais até as entregas das embarcações”. Os navios terão uma capacidade nominal de 3.158 TEUs cada um e a previsão de entrega é de dezembro de 2023 e maio de 2024, respectivamente. As embarcações terão, cada uma, comprimento total de 199,98m e boca de 35,2m. A capacidade efetiva projetada de transporte das embarcações é 25% maior do que a capacidade do Log-In “Polaris” (foto abaixo, à esquerda), o navio mais moderno da companhia, porém com performance similar de consumo de combustível por contar com tecnologia mais atual e eficiente, auxiliando na redução de emissão de poluentes por TEU transportado. Um comunicado da empresa diz que “A aquisição das novas embarcações é um grande marco do processo de crescimento sustentável e modernização da frota. A futura chegada das novas embarcações está em linha com o planejamento estratégico da companhia, reiterando os valores de segurança, excelência operacional e cuidado com o meio-ambiente durante a prestação de serviços de logística integrada.”
O Sindicato da Indústria Naval, ao tomar conhecimento da informação, reagiu de pronto. Em uma nota assinada pelo presidente, Ariovaldo Rocha, o sindicato faz algumas ponderações e lamenta a escolha de um estaleiro chinês e a possibilidade de se criar empregos no exterior e não no Brasil. Veja a nota na íntegra:
O SINAVAL, em seu papel institucional de representação da Indústria Naval em nível nacional, vem a público apresentar sua posição em relação a encomenda de dois navios porta-contêineres a um estaleiro da China.
- Registramos, inicialmente, que respeitamos a decisão de qualquer Empresa Brasileira de Navegação de encomendar, em qualquer parte do mundo, os navios necessários à sua operação na Cabotagem ou qualquer outra modalidade de transporte aquaviário. Nossa atitude não poderia ser diferente no caso presente, em que a Log-In – tradicional cliente da Indústria Naval brasileira – anuncia a contratação de dois grandes navios porta-contêineres a um estaleiro asiático;
- Apenas lamentamos este fato, que se soma a diversos outros desde que foi tomada no Brasil a decisão de direcionar para o Exterior, principalmente a China, a construção de embarcações e plataformas marítimas para as quais o Brasil tem estaleiros perfeitamente capacitados e com instalações que não ficam nada a dever às instalações dos países asiáticos. Essa atitude, assistida passivamente e até mesmo estimulada pelo governo brasileiro, concorre para a exportação de milhares de empregos que deveriam ser dos competentes e capacitados trabalhadores brasileiros, justamente quando a situação do mercado de trabalho assume condições críticas no Brasil, ao mesmo tempo em que há uma indústria local – de Construção Naval e Offshore e de navipeças – em condições de atender a várias modalidades de navegação e de serviços marítimos, infelizmente desprestigiada e condenada à estagnação nos últimos governos deste País;
- Se fosse por razões tecnológicas inatingíveis pelos estaleiros brasileiros e suas indústrias fornecedoras, ou por deficiência em nossa capacidade produtiva, ainda poderíamos nos conformar com esse estado de coisas. Mas a Indústria Naval e Offshore brasileira e sua cadeia produtiva já atingiram elevados níveis de excelência, comprovados pela construção e agregação de Conteúdo Local nos fornecimentos de muitos navios e plataformas de alta qualidade, superior à observada em países como a China, em que foram constatadas deficiências nos produtos entregues ao Brasil, como noticiado pela imprensa em diversas ocasiões, atrasando e prejudicando a execução de projetos importantes com a única justificativa do preço das unidades produzidas no Brasil – que não é, como todos sabem, de responsabilidade da indústria brasileira;
- Neste momento, não se considera que um estaleiro como o EAS – Estaleiro Atlântico Sul (foto à direita)poderia perfeitamente construir as embarcações anunciadas, dada a elevada capacitação atingida pela Empresa e o sucesso inegável na construção de grandes navios petroleiros de alta complexidade tecnológica, que hoje operam regularmente e sem problemas a serviço de um Armador categorizado como a Transpetro;
- Para viabilizar essas novas obras e outras semelhantes no Brasil, bastaria a vontade política, a firme tomada de posição do governo, com providências eficazes para reduzir a diferença de custos que impossibilita, às empresas nacionais (não só aos estaleiros), atingirem condições de competitividade frente aos países asiáticos, principalmente a China. No nosso caso, não é uma tarefa que pode ser deixada apenas aos estaleiros brasileiros: é um projeto de Brasil, da sociedade brasileira, que tem que decidir se o País deve, ou não, renunciar aos objetivos econômicos, sociais e estratégicos de ter uma Indústria Naval forte e florescente;
- As indústrias congêneres nos outros países são incentivadas e protegidas por seus governos. Só o Brasil, contrariando os interesses legítimos de seu povo e as necessidades de um país de dimensões continentais como o nosso, ainda não despertou de seu sono em berço esplêndido para voltar a cuidar com atenção e respeito de sua Indústria Naval e Offshore.