Entidade considera que ausência de incentivos à construção no Brasil levam empresas a importarem navios e plataformas no exterior , provocando uma série de prejuízos à indústria brasileira em geral.
O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) lamentou a falta de uma política setorial que evite a contratação de encomendas de embarcações ou plataformas a estaleiros no exterior. Em nota, a entidade manifestou que respeita a decisão de qualquer empresa de encomendar ativos em qualquer parte do mundo, porém entende que não existem incentivos no Brasil para dar competitividade e ajudar a reter projetos em estaleiros nacionais. O comunicado foi emitido após a Log-In anunciar, na última quarta-feira (13), a encomenda de dois porta-contêineres ao estaleiro chinês Zhoushan Changhong International Shipyard.
“Lamentamos este fato, que se soma a diversos outros desde que foi tomada no Brasil a decisão de direcionar para o exterior, principalmente a China, a construção de embarcações e plataformas marítimas para as quais o Brasil tem estaleiros perfeitamente capacitados e com instalações que não ficam nada a dever às instalações dos países asiáticos”, manifestou em nota o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha.
O Sinaval alertou que esses movimentos ocorrem quando o mercado de trabalho assume condições críticas no Brasil, ao mesmo tempo em que há uma indústria local, de construção naval e offshore e de navipeças, em condições de atender a diversas modalidades de navegação e de serviços marítimos, porém desprestigiada e condenada à estagnação nos últimos governos. “Essa atitude, assistida passivamente e até mesmo estimulada pelo governo brasileiro, concorre para a exportação de milhares de empregos que deveriam ser dos competentes e capacitados trabalhadores brasileiros”, criticou Rocha.
O presidente do Sinaval considera que essa transferência seria compreensível se houvesse razões tecnológicas inatingíveis pelos estaleiros brasileiros e suas indústrias fornecedoras, ou por deficiência da capacidade produtiva, porém a indústria já atingiu elevados níveis de excelência, com conteúdo local agregado a navios e plataformas de alta qualidade. Rocha salientou que essas entregas apresentaram qualidade superior à observada em países como a China, em que foram constatadas deficiências nos produtos entregues ao Brasil, atrasando e prejudicando a execução de projetos importantes.
Cada navio encomendado pela Log-In terá capacidade nominal de 3.158 TEUs e aproximadamente 200 metros de comprimento total e 35 metros de boca. De acordo com a Log-In, a previsão de entrega é de dezembro de 2023 e maio de 2024, respectivamente. O Sinaval cita o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), como uma unidade de construção nacional em condição de entregar as embarcações anunciadas, dada a elevada capacitação atingida pela empresa e o sucesso na construção de grandes navios petroleiros de alta complexidade tecnológica, que hoje operam regularmente para a Transpetro.
O Sinaval avalia que falta vontade política para viabilizar novas obras no Brasil, principalmente para reduzir a diferença de custos que impossibilita estaleiros e demais empresas nacionais de atingirem condições de competitividade frente aos países asiáticos. A entidade compara que as indústrias nos outros países são incentivadas e protegidas por seus governos. “Não é uma tarefa que pode ser deixada apenas aos estaleiros brasileiros. É um projeto de Brasil, da sociedade brasileira, que tem que decidir se o país deve, ou não, renunciar aos objetivos econômicos, sociais e estratégicos de ter uma indústria naval forte e florescente”, finalizou Rocha.