Empresas acreditam em potencial de crescimento e veem demandas para navegação interior e apoio portuário. Necessidades de renovação da frota se concentram em empurradores para transporte de carga geral.
Fornecedores da indústria naval que atuam na região Norte observam que, apesar dos reflexos da conjuntura econômica sobre a atividade nos últimos anos, os principais estaleiros locais em operação possuem demandas e potencial de aumento de encomendas para construção de novos empurradores, balsas ou terminais. No Amazonas, Eram e Juruá se mantêm com demandas do segmento de transporte de combustível. Já o Beconal segue conforme o aumento da frota do próprio grupo (Bertolini) para transporte de grãos. No Pará, o Estaleiro Rio Maguari possui no portfólio desde demandas do setor de grãos a rebocadores para clientes do Sudeste. O Easa (PA), que teve o plano de recuperação judicial aprovado recentemente, está focado em atender demandas de novos terminais flutuantes. A região de Manaus (AM) também conta com estaleiros de menor porte que constroem embarcações para transporte de carga e passageiros e geram uma demanda regular no mercado.
O diretor-geral da Reintjes do Brasil, André Galvão, observa que, após a finalização das grandes frotas de embarcações para transporte de grãos, o mercado mesclou em sua demanda entre o transporte de cargas e passageiros — que cresce em sua demanda por ferry boats, e o transporte específico de combustível, o qual possui grandes incentivos que favorecem a construção e modernização da frota. Ele acrescentou que o transporte de combustível ainda passou por uma grande mudança nos últimos anos, com empresas assinando contratos expressivos que resultaram em demandas para novas construções.
A Reintjes também percebe melhora na carga geral, segmento em que empresas foram fortemente afetadas em 2015 e agora estão conseguindo se reerguer. O transporte de grãos também vem abrindo oportunidades para armadores menores ou produtores que optaram por construir a própria frota. “A empresa se mantém otimista com o crescimento de sua participação na região, uma vez que nos últimos anos, sobretudo durante a pandemia, ela aumentou o estoque local de equipamentos para pronta-entrega, bem como a equipe local e investimentos na estrutura de manutenção dos equipamentos”, destaca Galvão.
A Sotreq percebe que, com a evolução do transporte de commodities agrícolas pela região Norte nos últimos anos, houve um aumento considerável de projetos e, consequentemente, demanda por equipamentos para esse mercado. A empresa considera que atualmente existem projetos mais pontuais em andamento, mas ainda enxerga um grande potencial de crescimento no escoamento de grãos pelo Arco Norte, principalmente através das hidrovias do Tapajós e Madeira, além da expectativa sobre o derrocamento do Pedral do Lourenço, tornando a hidrovia do Tocantins Araguaia viável para navegação com maior capacidade. “Considerando os armadores locais, responsáveis pelo transporte de carga, passageiros e combustíveis, sempre houve um volume estável para motores de propulsão, principalmente no repotenciamento das embarcações”, comentou o consultor de vendas da Sotreq, Daniel Andrade.
Andrade destacou o mercado para transporte de combustíveis, saindo principalmente de Manaus, além de projetos pontuais para transporte de commodities agrícolas. “Mesmo não sendo considerado uma navegação de interior, existe um aumento nas operações portuárias na região Norte, devido ao fluxo maior de cargas, gerando também oportunidades com rebocadores portuários”, relatou o consultor da Sotreq. Na avaliação da empresa, as principais necessidades de renovação na frota de navegação interior que trafega na região Norte estão em empurradores para transporte de carga geral (Ro-Ro Caboclo), pois a maior parte da frota na região é antiga.
Para Schottel, a região Norte já vem se destacando no setor naval há muitos anos, tanto na construção de novas embarcações, quanto na navegação. Na visão da empresa, os investimentos em infraestrutura, portos, transporte e nas hidrovias fortaleceram o Arco Norte e a indústria naval. “Houve uma demanda inicial grande, a qual tivemos bastante sucesso fornecendo nossos propulsores para as principais empresas de navegação e transporte de grãos. Já estamos nos preparando estrategicamente para o futuro por acreditarmos num grande potencial de crescimento”, projetou o gerente comercial da Schottel no Brasil, David Souza.
Para aumentar a presença local, a empresa apostou na contratação do engenheiro de vendas, Alessandro Castro, com experiência e conhecimento do mercado na região, que fica baseado em Manaus e preparado para acompanhar o ritmo de crescimento da região. Castro disse que, por estar geograficamente mais afastada do restante do país, um dos grandes desafios é a logística, assim como o tempo para liberação fiscal devido à legislação específica da região.
A fabricante também conta com um técnico baseado em Belém (PA) para os atendimentos e com especialistas em logística, para auxiliar na garantia de entrega de peças, muitas vezes no mesmo dia. “Para superar esses obstáculos, desenvolvemos estratégias para atender com agilidade e eficiência a grande quantidade de embarcações com sistemas Schottel no Norte, sejam os empurradores nos rios, sejam rebocadores nos portos”, detalhou Castro.
Souza considera que o segmento de empurradores ainda é o que gera maior demanda, entretanto a Schottel observa o crescimento de consultas por rebocadores com alta capacidade de bollard pull (tração estática) para atender o mercado de cabotagem e embarcações especiais. Na avaliação da empresa, com aumento do transporte, principalmente de commodities, a renovação e incremento da frota se faz necessário, e barcaças e empurradores, incluindo os de manobra, são fundamentais para o crescimento contínuo e a busca da liderança no mercado.
O gerente comercial da Schottel citou entre os investimentos em novas tecnologias, o projeto dos empurradores de manobra elétrico a bateria da Hidrovias do Brasil, com design Robert Allan, que contará com dois propulsores da Schottel cada, e que estão sendo construídos no estaleiro Belov, na Bahia. Esse projeto é apontado como a primeira embarcação deste tipo no mundo e tem previsão de navegar pelos rios do Norte a partir de 2023.
Em 2020, a idade média dos empurradores na região era de 22 anos e a totalidade dessas embarcações representava 26% de toda a frota. Considerando que o tempo médio operacional dessas embarcações é de 25 anos, a Reintjes vê a clara necessidade de novas construções ou modernização imediata, resultando em demandas para os estaleiros e de equipamentos para os players no mercado.
O diretor-geral da Reintjes do Brasil ponderou que o cenário atual impacta essa previsão, especialmente nos armadores de menor porte ou que não contam com nenhum benefício. “O crescimento no escoamento de grãos pelo Arco Norte também agrega aos números o aumento de frota, a qual já vem ocorrendo de forma menos expressiva que o período entre 2012 e 2016, mas que mantém-se em crescimento por parte de algumas empresas”, analisou Galvão.
Para a Reintjes existem desafios atrelados à conjuntura internacional, entre os quais longos prazos de entrega de equipamentos, alta no valor do transporte internacional e o câmbio desfavorável. Como estratégia para diminuir os impactos, a empresa optou por aumentar o estoque de equipamentos prontos no Brasil e na Alemanha, além de se policiar quanto ao estoque local de peças sobressalentes.
A estratégia foi ampliar a pronta-entrega para não permitir que as construções de embarcações na região fossem afetadas no prazo de entrega por falta de equipamentos que podem ser fornecidos pela empresa. “Entendemos que essa estratégia não favorece empresas de comércio de menor porte, porém acreditamos ser a estratégia que melhor favorece os nossos clientes e mantém o mercado ativo”, explicou Galvão.