Para câmara setorial de equipamentos navais da Abimaq, carência de infraestrutura de fornecedores e distribuidores de material e serviço apontam para potencial a ser desenvolvido, caso aumente demanda ou complexidade dos projetos locais
A Câmara Setorial de Equipamentos Navais, Offshore e Onshore da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) identifica um grande potencial de crescimento a partir do escoamento de grãos pelo Arco Norte, além da demanda por renovação da frota de navegação interior existente. A CSENO também observa que a descarbonização no transporte aquaviário e os requisitos de atendimento à sustentabilidade têm provocado a busca por soluções tecnológicas para atender as características de combustíveis utilizados atualmente nas embarcações que operam na região. Além disso, os desafios de mudanças para a matriz de energias renováveis e de menor emissão de carbono têm aumentado muito devido às pressões externas dos próprios contratantes do transporte de cargas e mesmo pelas empresas que precisam se adequar às novas exigências de mercado e governamentais.
“E, se o plano do polo naval de Manaus sair do papel, com certeza esta combinação de fatores geraria empregos, renda, inovação tecnológica, entre outros benefícios em efeito cascata para toda a cadeia da construção naval e a população”, completou o vice-presidente da CSENO e coordenador do grupo de trabalho (GT) Naval da Abimaq (Marine e O&G), Jairo dos Guimarães e Souza (WEG Digital and Systems). Ele ressaltou que os desafios são grandes, desde a falta de regulamentação local e de investimentos governamentais de incentivo ao setor naval, até a questão logística devido às grandes distâncias envolvidas, bem como a falta de mão de obra capacitada em estaleiros mais distantes e, até mesmo, as burocracias fiscais das legislações locais, como é o caso do Amazonas.
A CSENO/Abimaq entende que houve queda da atividade nos últimos anos, porém não na mesma proporção que em outras regiões voltadas à construção de embarcações para o setor offshore, pois o Norte não teve a mesma demanda que o segmento offshore teve nos primeiros anos de exploração do pré-sal. “A região Norte segue com um volume de projetos mais estável, balizada pelo seu mercado regional e focada no transporte fluvial, que busca embarcações com missão e propósito diferenciados da construção offshore”, disse Elisângela Melo dos Santos, vice-presidente da CSENO e diretora de vendas da Vulkan do Brasil.
Na percepção da CSENO, não houve grandes investimentos ou esforços por parte da indústria voltada à região Norte nos últimos anos. A leitura é que existem empresas globais que se instalaram na região há alguns anos, mas com estruturas pequenas e estoque local. “Nos parece que existe uma carência de infraestrutura por parte de fornecedores e distribuidores de material e serviço, apontando para um potencial a ser desenvolvido caso aumente essa demanda ou mesmo a complexidade dos projetos locais”, analisou Elisângela.
A CSENO/Abimaq observa que, em linhas gerais, essa indústria tem procura por meios como empurradores, barcaças para transporte de diversos tipos de produtos, barcos de passageiros, lanchas de alumínio, voadeiras, barcos hospitais/escola e outros, bem como investimentos estruturais em terminais e diques flutuantes. Entre os destaques na construção naval da região estão estaleiros como o Rio Maguari (PA) e Juruá (AM), que despontam na construção de barcaças, empurradores e rebocadores.
O presidente da CSENO/Abimaq, Leandro Nunes Pinto, acrescentou que a redução das alíquotas do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) a partir do BR do Mar (Lei 14.301/2022) pode piorar a situação dos estaleiros e armadores nacionais no que se refere à competitividade. “Vemos discussões encabeçadas pela Suframa [Superintendência da Zona Franca de Manaus] no contexto do projeto ‘Amazônia 2040’ sobre o tema, mas ainda são discretas as ações efetivas para o desenvolvimento e expansão do polo naval de Manaus”, comentou Pinto, que é diretor-geral da empresa Raytheon Anchütz do Brasil.
Ele salientou que a CSENO/Abimaq vê com bons olhos a realização da Navalshore Amazônia, que contou com o apoio da câmara setorial e da associação na divulgação, e que considera essa primeira feira regional um facilitador para fomentar mais essas discussões. A feira é organizada pela Navalshore Organização de Eventos e tem como principal parceira a Revista Portos e Navios, provedora do conteúdo e referência editorial da indústria marítima no Brasil, fundada em 1958. O evento, que acontece na próxima semana, entre os dias 24 e 26 de maio, em Manaus (AM), vai discutir o potencial e as oportunidades para o crescimento do polo naval.