O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) dá um panorama atual do segmento e atualiza projeções, em entrevista ao Portal e TV Fator Brasil com o presidente Ariovaldo Rocha e o secretário-executivo, Sérgio Leal.
Portal e TV Fator Brasil: Qual a expectativa para a indústria naval & offshore neste momento?
– Sinaval: a expectativa é positiva, tendo em vista os pronunciamentos do Presidente da República e dos Presidentes da Petrobras e da Transpetro quanto à retomada das atividades da indústria naval brasileira e à recuperação dos milhares de empregos perdidos de 2014 até o presente.
FB: Qual a maior possibilidade para as demandas de construções: barcos de apoio, grandes navios, FPSOs, reparações, descomissionamentos.
– S: acreditamos que as demandas serão para a construção de navios de transporte de petróleo e gás para a Transpetro, navios de apoio marítimo, módulos para plataformas FPSOs e desmantelamento de embarcações e plataformas após seu descomissionamento.
FB: Hoje o grande entrave no Brasil para Construção Naval & Offshore: Tecnologias Verdes; Automação; Aportes Financeiros Governamentais e/ou Privados; Mão-de-Obra Qualificada; Custo Brasil, como o aço, por exemplo, entre outros componentes para embarcações, comente.
– S: os principais entraves já identificados são a falta de mecanismos eficazes de garantia dos valores envolvidos nas construções (falta de um Fundo Garantidor, por exemplo), o preço do aço nacional e outros fatores devidos ao Custo Brasil.
FB: A indústria naval pensa em atrair novamente grandes estaleiros internacionais para parcerias?
– S: os contratos anteriores do Promef, o modelo previa a participação de estaleiros estrangeiros para acompanhamento e assistência aos estaleiros brasileiros, vários deles recém-construídos. Quando forem lançados os Editais para as novas construções teremos a resposta a sua pergunta.
FB: Qual a expectativa real de contratos com empresas como a Petrobras, grandes navios com a Transpetro, Marinha, entre outras?
– S: a expectativa é que os “Editais” da Transpetro sejam lançados em janeiro de 2024. É provável que, também a partir de 2024, haja contratos com a Petrobras para a construção de módulos para os FPSOs já contratados ou em fase de contratação, bem como para o desmantelamento de plataformas (atividade já iniciada este ano com a P-32 e a P-33). Também estamos na expectativa do lançamento de Editais para construção de navios-patrulha para a Marinha do Brasil, que tem um programa permanente de construção de meios flutuantes.
FB: Fale mais sobre os descomissionamentos, é uma boa saída para os estaleiros que estão com dificuldades? Muitos trabalhando durante a recuperação judicial?
– S: acreditamos que a etapa de desmantelamento de plataformas após a etapa de descomissionamento prosseguirá em 2024 e nos anos seguintes, conforme previsto no Plano de Negócios da Petrobras. É uma atividade que certamente beneficiará os estaleiros em Recuperação Judicial, como já vem ocorrendo com o Estaleiro Rio Grande, onde será desmantelada a plataforma P-32.
FB: A Petrobras fala em construção de 36 barcos de apoio, a Transpetro em oito grandes navios, isso é realidade para 2024?
– S: só poderemos ter certeza quando houver a divulgação oficial das quantidades e dos tipos de navios a serem contratados.
FB: Acredita que a partir de 2024, dois anos para acabar este governo a indústria naval pode reerguer novamente com tipo, chegou para ficar, novos rumos, sem ser afetada por qualquer governo?
– S: nossa expectativa é que, a partir de 2024, já esteja devidamente sedimentado o conceito de política de Estado para os assuntos referentes à Indústria Naval e Offshore brasileira, para que a indústria não dependa de decisões de cada Governo e possa desenvolver-se com consistência e perenidade. Estamos trabalhando para isso junto ao Governo atual. E certamente haverá muito mais atividade nos estaleiros do que existe hoje.
FB: O que o senhor acha disso: há perspectivas reais de que não haja grandes petroleiros e transportadores de gás transitando pelo Canal do Panamá a partir de 2024, isso afeta a indústria naval?
– S: acreditamos que, quaisquer que sejam as rotas decididas internacionalmente para o transporte marítimo, continuará sendo necessária a construção dos navios transportadores. Isso não deverá afetar a indústria naval mundial, em nosso entendimento.
FB: Fale sobre a estrutura geral de estaleiros a nível Brasil, e qual o Estado, tem a grande estrutura — independente da história neste segmento como é o caso do Rio de Janeiro?
– S: como é de seu conhecimento, há estaleiros de grande e médio porte localizados ao longo da costa brasileira e na Amazônia que deverão participar do esforço de recuperação deste segmento industrial como um todo. A particularidade histórica de a indústria naval brasileira ter sido iniciada no Estado do Rio de Janeiro provavelmente não influirá na escolha dos estaleiros que assinarão os futuros contratos de construção de navios e de módulos de plataformas ou de desmantelamento, nem em sua localização geográfica.
FB: Como senhor analisa todos os pontos para alavancar a indústria naval brasileira, — lembrando que a Marinha do Brasil, Wilson Sons, e mais alguns continuaram a caminhada com sucesso, qual o segredo, se é que tem?
– S: lembremos que os efeitos mais severos da crise vivida pela indústria naval e offshore brasileira recaíram sobre os estaleiros de maior porte, que estavam construindo os navios para a Transpetro e as plataformas e seus módulos para a Petrobras. Os estaleiros de médio porte que se especializaram na construção de navios de apoio marítimo também sofreram com a interrupção do Prorefram, programa da Petrobras que foi um sucesso desde seu início, pouco antes do ano 2000. Mas os segmentos de rebocadores portuários e a construção de barcaças para atendimento ao agronegócio mantiveram-se em atividade, embora em menor escala do que antes de 2014. No caso citado da Wilson Sons, deve ser levado em conta que a empresa constrói e repara os navios para a frota da empresa de seu próprio grupo empresarial. No caso da Marinha do Brasil, o programa de construção de submarinos e, posteriormente, os programas de construção das Fragatas da Classe Tamandaré e do Navio de Apoio Antártico prosseguiram sem interrupção, não sendo afetados pela crise e, sim, pela disponibilidade de recursos da Marinha.
FB: O mercado da indústria naval & offshore no mundo não parou, exemplos: Singapura, China, Coreia do Sul, Países Baixos, entre outros, e o Brasil?
– S: é evidente que a necessidade mundial de novas plataformas e de grandes navios de transporte continuou a existir. O Brasil, com a decisão de afretar plataformas e navios aliviadores nos estaleiros da Ásia, ajudou a manter aquecido o mercado internacional. Mas, evidentemente, nossos estaleiros e seus trabalhadores não se beneficiaram dessa política de compras no exterior.
FB: Enfim, está aberto o canal para que o senhor diga o que deseja para o mercado, coisas talvez que não conseguimos captar, ou que está sendo construído por trás das câmeras.
– S: não há nada a acrescentar. Acreditamos que as respostas anteriores cobriram adequadamente os principais aspectos da atualidade brasileira quanto à indústria naval e offshore. Fazemos votos de que as expectativas surgidas com este Governo se concretizem e que, novamente, voltem a ser criados os empregos de qualidade que esta indústria pode proporcionar, além da geração de renda nos Estados em que há estaleiros instalados.
FB: Qual foi a impressão que a Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval entre outros representantes teve ao visitar os estaleiros no Rio de Janeiro? Qual o diagnóstico? O senhor pode adiantar alguma proposta mais concreta que vai ser colocada para inflar o segmento?
– S: a Frente Parlamentar está desempenhando um papel muito importante na mobilização das forças que podem influir na retomada deste segmento industrial, desde o Governo até o Parlamento e as entidades empresariais e de trabalhadores. Nesse sentido, temos certeza de que a visita aos estaleiros do Estado do Rio de Janeiro foi muito proveitosa e contribuiu para a conscientização geral quanto à necessidade de recuperação de uma indústria que é tão representativa para este Estado. O Sinaval está apoiando as ações da Frente Parlamentar Nacional e continuará a participar dos eventos que ela tem organizado, como ocorreu no Rio Grande do Sul e, neste momento, está ocorrendo em Santa Catarina, além do Rio de Janeiro. Ressalte-se, inclusive, a criação de Frentes Parlamentares estaduais no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, inspiradas pela Frente Parlamentar Nacional. Acreditamos que muitas mais serão criadas, para dinamizar os esforços de retomada da Indústria Naval e Offshore brasileira.