Por Ariovaldo Rocha
Decepcionante, é a palavra que melhor expressa a recepção do artigo do Jean Paul Prates no O Globo, dia 13 de dezembro de 2023 sob o título “Novas oportunidades para a indústria nacional”. O artigo foca no descomissionamento, atividade que agrega algum valor para as empresas envolvidas em construção submarina, porém relega aos estaleiros nacionais uma atividade de valor agregado ínfimo, incapaz de remunerar o investimento em instalações.
Em todo o mundo, o descomissionamento é feito em instalações dedicadas a essa atividade e pago pelas petroleiras. A Petrobras optou por usar a falta de oferta de contratos para tentar ocupar os dois grandes diques de construção do país com uma atividade que remunerará esses parques com valores a R$ 100 milhões em todo o período. Escolha-se uma instalação, mas não entupa os diques nacionais.
Não se retoma o conteúdo nacional com sucatas. Para existirem novas oportunidades para a indústria nacional, a Petrobras precisa renovar a frota própria da Transpetro, retomar o seu bem-sucedido programa de construção de barcos de apoio nacional concebido em conjunto com o BNDES.
No caso da construção offshore, retomar as corretas práticas de gerenciamento de contratos separados de construção de casco, integração e construção de módulos com fluxo de caixa neutro, prazo de pagamento das faturas dentro dos padrões normais da indústria e exigência de conteúdo local com indicação de construção dos módulos em qual instalação no Brasil através de contratos próprios.
A política atual de contrato único das plataformas levou à concentração excessiva de contratos com apenas um contratante cingapuriano que as executa na China, Cingapura e distribui migalhas em Angra dos Reis e Aracruz. Deixou toda o resto da Indústria parada.
Não existe justificativa gerencial de suposta e discutível eficiência, se o resultado final é a cartelização e monopólio de fornecimento com exportação maciça de empregos.
É uma estratégia de contratação falida.
Espero que a direção da PETROBRAS reflita sobre o rumo equivocado em que vem tomando suas decisões do ponto de vista do conteúdo nacional.
Ariovaldo Rocha é presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval)