Por Ariovaldo Rocha
No contexto da indústria naval brasileira, a construção de navios e plataformas deve continuar sendo o pilar fundamental para impulsionar o crescimento econômico e tecnológico do país. Embora o desmantelamento possa desempenhar um papel complementar importante, não é o salvador da nossa indústria. É vital reconhecer que a prioridade deve permanecer na construção naval.
O Brasil possui uma oportunidade significativa de fomentar a geração de empregos e renda por meio da Indústria Naval. O Presidente Lula anunciou no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que o país retomaria a construção de navios em estaleiros brasileiros.
Em seguida, a Transpetro lançou o Plano de Construção de 25 Navios (TP 25). No entanto, existe uma séria ameaça de que essa encomenda não aconteça e que seja direcionada para estaleiros asiáticos.
Em estudos realizados pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM) e disponíveis em seu site, podemos ver que, em um cenário ideal, considerando a construção de 25 navios e 4 plataformas no Brasil (cerca de 3 módulos por FPSO), além da demanda anunciada por outros setores da Construção Naval e Offshore, inclusive o desmantelamento, os estaleiros brasileiros estariam trabalhando com uma ociosidade de 20% da capacidade, ou seja, ainda abaixo do ideal.
Porém, ainda nesse cenário, essas encomendas seriam capazes de gerar, em seu pico de contratação, 48.616 postos de trabalho diretos e mais de 111 mil postos indiretos, totalizando quase 160 mil postos de trabalho. Esses postos gerariam uma movimentação financeira na economia de 900 milhões de reais no ano de pico das construções, contando apenas os salários. Se contarmos impostos e arrecadações, podemos considerar algo em torno de 19 bilhões de reais por ano de movimentação da economia.
Em termos de receitas governamentais, a Indústria Naval é uma fonte significativa de arrecadação de impostos. O crescimento dessa indústria contribui diretamente para a saúde financeira do Estado, permitindo a implementação de políticas públicas e investimentos em áreas essenciais, como educação, saúde e infraestrutura.
Olhando para um cenário sem as embarcações da Transpetro, mas considerando a carteira de encomendas para outros segmentos, o cenário de geração de emprego cai incrivelmente para 27.659 postos de trabalho diretos e para 63.615 de forma indireta, número 43% menor que com as encomendas da Transpetro.
A Indústria Naval, além de fornecer empregos, desempenha um papel vital na desoneração dos serviços públicos. Trabalhadores do setor recebem salários substanciais, acompanhados de planos de saúde abrangentes para suas famílias. Isso resulta em menos demanda por serviços de saúde pública, aliviando a carga sobre o sistema e permitindo uma alocação mais eficiente dos recursos públicos.
O desmantelamento pode, sim, ser uma estratégia eficaz para cobrir vales de construção nos estaleiros, otimizando a capacidade ociosa durante períodos de demanda reduzida. No entanto, é essencial não perder de vista a necessidade de fortalecer a capacidade produtiva para construir e inovar constantemente.
Embora reconheçamos o papel que o desmantelamento pode desempenhar na estabilização dos estaleiros durante períodos de menor atividade, é crucial não perder de vista o potencial transformador e a importância da construção naval para o desenvolvimento sustentável da indústria no Brasil; ela precisa ser trabalhada como um Plano de Estado, sendo
a força motriz para o desenvolvimento abrangente do Brasil. Reduzir o desequilíbrio competitivo com as principais nações detentoras de uma Indústria Naval forte é pavimentar o caminho para um futuro próspero, onde a Indústria Naval e as encomendas da Transpetro desempenham um papel central na construção de uma sociedade mais justa, segura e
tecnologicamente avançada. Os estaleiros brasileiros se modernizaram, ampliaram sua capacidade produtiva e se capacitaram após os problemas enfrentados na década passada. Estamos prontos!
Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) e, vice-presidente executivo da Associação Brasileira das Empresas da Economia do Mar (Abeemar).