O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) anunciou, no final de novembro, em Belém (PA), investimentos de R$ 4 bilhões voltados à modernização e ampliação da logística hidroviária nacional. O pacote inclui a construção de 400 balsas e 15 empurradores para o transporte de minérios e contratos para melhorias nos portos de Santarém e Vila do Conde, no Pará. Os projetos, financiados pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM), prometem gerar mais de 10 mil empregos diretos e indiretos em diferentes regiões do Brasil e devem aumentar em seis milhões de toneladas por ano o escoamento de minérios no país.
O anúncio incluiu a prorrogação do contrato de arrendamento do Porto de Santarém e a autorização de novos investimentos no Porto de Vila do Conde (PA). As balsas e empurradores serão produzidos e entregues ao longo dos próximos quatro anos. A nova frota ficará alocada em seis estaleiros localizados nas regiões Nordeste, Norte, Sul e Sudeste. Portos e Navios apurou que as balsas estão previstas para construção nos estaleiros Eram e Juruá, no Amazonas, Rio Maguari (PA) e Enseada (BA). Já os empurradores devem ser construídos nos estaleiros Rio Maguari (PA), Wilson Sons (SP) e Detroit (SC).
Cerca de 90% dos investimentos empregados pela LHG Logística Ltda. (R$ 3,7 bilhões) para a construção da nova frota naval e dos estaleiros serão financiados pelo FMM, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esse recurso do agente financeiro do fundo setorial deverá impulsionar a movimentação de matérias-primas, como aço e manganês.
Os novos empreendimentos vão ampliar o escoamento de minérios e agilizar o transporte dos materiais extraídos em Corumbá (MS) e carregados nas barcaças, que percorrerão mais de 2,5 mil quilômetros por hidrovias até atracar no terminal marítimo de Nova Palmira, no Uruguai, onde são embarcados para navios de longo curso. O projeto reforça a importância da hidrovia Paraguai-Paraná para a integração regional entre o Brasil e os países da América do Sul, especialmente Paraguai, Argentina e Uruguai.
No Pará, o Estaleiro Rio Maguari será responsável pela construção de 128 balsas e oito empurradores, com um investimento de R$ 1,6 bilhão. No Amazonas, dois estaleiros construirão 192 balsas mineraleiras, totalizando cerca de R$ 1,36 bilhão em aportes. Além disso, o projeto inclui a construção de embarcações na Bahia, São Paulo e Santa Catarina, somando R$ 1,11 bilhão em investimentos, fortalecendo a indústria naval e promovendo o desenvolvimento regional.
Na área portuária, os contratos assinados contemplam a modernização dos terminais de Santarém e Vila do Conde, melhorando a segurança e eficiência das operações. A expectativa é que essas obras transformem o Pará em um polo logístico estratégico para o escoamento de produtos brasileiros para mercados nacionais e internacionais. O evento de lançamento foi realizado no Estaleiro Rio Maguari (ERM), em Icoaraci, Belém.
“Somente neste projeto, estamos falando de quase mil empregos diretos e cerca de quatro mil indiretos no Amazonas, Pará e Bahia, três das regiões mais carentes de empregos de qualidade no Brasil. Além disso, aproximadamente 400 empregos serão gerados na operação das embarcações na região do Mato Grosso do Sul, o que reforça ainda mais a importância dessa política de Estado, representada pelo FMM”, disse Fabio Vasconcellos, diretor do Estaleiro Rio Maguari e vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), à reportagem.
Um dia após anunciar os R$ 4 bilhões para construção de barcaças, o ministro de portos e aeroportos, Silvio Costa Filho, ressaltou que esse tipo de investimento é importante porque estimula a indústria naval e a liberação de recursos do FMM. Segundo o ministro, esse é um exemplo de muitas operações estruturadas, através do FMM, que estimulam o setor privado para que grandes empreendimentos aconteçam no Brasil.
“Antes, boa parte desse dinheiro ficava no OGU [Orçamento Geral da União]. Agora, ele está liberado para investir na navegação e no setor portuário”, disse Costa Filho a jornalistas, em evento de lançamento do projeto de um novo terminal de contêineres no Porto de Suape (PE). Em seu discurso, o ministro salientou que a indústria naval é uma prioridade do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O BNDES havia aprovado, em setembro, o financiamento de R$ 3,7 bilhões para a LHG Logística a ser utilizado na construção das 400 balsas e 15 empurradores destinados ao transporte hidroviário de minérios de ferro e manganês pelos rios Paraná e Paraguai. Os recursos foram priorizados na 56ª reunião do Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM). De acordo com o BNDES, 87% dos recursos financiados serão aplicados em estaleiros das regiões Norte e Nordeste.
Em outubro, o Estaleiro Enseada anunciou que retomará as atividades de construção naval com o projeto de até 80 barcaças mineraleiras para a LHG Mining do grupo J&F. O escopo prevê unidades com capacidade de transportar 2,9 mil toneladas cada, com recursos do FMM. O projeto será executado em parceria com a Tenenge, do mesmo grupo do estaleiro, e deverá gerar cerca de 300 novos empregos diretos e até 900 indiretos na região do Recôncavo Baiano.
A LHG Mining surgiu em 2022, com a aquisição de minas de ferro e manganês em Corumbá (MS) pelo grupo J&F. A LHG Logística é o braço de logística da mineradora LHG Mining. Em nota, o presidente da LHG Mining, Aguinaldo Filho, avaliou que a operação viabiliza o aumento da eficiência e da capacidade de escoamento de minério da LHG, necessários para fazer frente ao crescimento da produção, além de gerar empregos na construção dos equipamentos navais, na operação da hidrovia e nas atividades mineração.