Avanços tecnológicos impulsionam os sistemas de propulsão híbridos e elétricos na indústria naval brasileira

  • 19/02/2025

O avanço dos sistemas de propulsão tem transformado o setor marítimo, trazendo maior eficiência, sustentabilidade e segurança para as embarcações que operam em águas nacionais.

Tecnologias como a propulsão azimutal, amplamente utilizada em rebocadores e embarcações offshore, e a propulsão a jato d’água, ideal para águas rasas, destacam o protagonismo do país na adoção de soluções que otimizam o desempenho e reduzem o impacto ambiental.

O ano de 2024 marcou um período de transformações significativas na indústria naval, com a introdução de novas tecnologias, crescimento em setores estratégicos como offshore e cabotagem, e iniciativas pioneiras em descarbonização. Empresas como Vale, Naval Group e Volvo Penta destacaram-se por suas inovações, enquanto a retomada de projetos pela Petrobras aponta para um futuro promissor.

A Volvo Penta registrou em 2024 expansão no mercado, impulsionada pela demanda por serviços, manutenção e pós-venda, além do crescimento nas vendas de motores e motores auxiliares. A empresa observou um aumento de 57% na navegação comercial em relação ao ano anterior, que já havia registrado crescimento de 40% em comparação a 2022. Esses números indicam um aquecimento do mercado e uma maior busca por soluções voltadas à eficiência operacional.

Em relação às projeções para novos projetos de construção naval a partir de 2025, a Volvo Penta adota uma postura mais cautelosa. Embora algumas iniciativas tenham começado a ser discutidas em 2024, a expectativa é de que esses projetos levem mais tempo para se consolidar, limitando um crescimento significativo no curto prazo. A empresa projeta um cenário de estabilidade para os próximos anos, sem grandes movimentações imediatas no setor.

O mercado naval brasileiro viveu um ano desafiador em 2024, mas com sinais claros de recuperação. O segmento offshore, em particular, registrou um crescimento expressivo, segundo Alex Nakao, gerente da Kawasaki Heavy Industries: “A demanda por serviços de manutenção e pós-venda tem se mantido estável. Nos últimos anos, o que se destacou foi o aumento na demanda por manutenção de navios porta-contêineres e embarcações offshore, incluindo navios de perfuração (drillships). Por outro lado, a demanda por manutenção de rebocadores e aliviadores (shuttle tankers) continua consistentemente estável”, comentou.

Em paralelo, a Macnor Marine destacou os novos bids lançados pela Petrobras, que prometem revitalizar o setor. “Estamos num momento interessante da indústria, motivado principalmente pelos bids da Petrobras de novas construções, o que não acontecia há 10 anos. Com alguns bids já lançados ano passado, inclusive com resultados, e outros a serem lançados neste início de 2025, teremos um ano especial, com a volta das construções no Brasil. Nós estamos preparados para isso”, disse Pedro Guimarães, diretor da empresa, à Portos e Navios.

Guimarães destacou que, apesar de o Brasil contar atualmente com um número reduzido de estaleiros ativos e prontos para construir imediatamente, o setor está preparado para atender à demanda crescente impulsionada por novos projetos da Petrobras e da Transpetro. “Serão pelo menos 40 navios do tipo Offshore Supply Vessel (PSV, OSRSV, RSV e AHTS) além de um potencial de até 25 petroleiros Handysize para a Transpetro, com as primeiras quatro unidades já previstas”, afirmou.

Além disso, Guimarães enfatizou a relevância de sistemas de propulsão avançados na composição dessas embarcações, incluindo propulsores híbridos e de alta eficiência, que garantem maior economia de combustível e reduzem significativamente as emissões.

No entanto, o setor ainda enfrenta desafios estruturais. Como observou Marcos Porto, coordenador comercial da São Miguel, a crise econômica e a estagnação dos últimos anos resultaram na perda de milhares de trabalhadores qualificados. “Precisamos investir urgentemente na requalificação da mão de obra remanescente para sustentar o crescimento”, destacou. Segundo dados recentes, o setor reduziu sua força de trabalho de 82 mil para 20 mil nos últimos anos, ressaltando a necessidade de políticas públicas e incentivos para reverter esse cenário.

Além disso, o aumento da concorrência internacional e a complexidade regulatória continuam a desafiar as empresas locais. Apesar disso, iniciativas como a modernização dos processos produtivos e a adoção de tecnologias mais eficientes têm ajudado o setor a recuperar sua competitividade.

A introdução de tecnologias avançadas tem sido um dos pilares da transformação do setor naval. A Vale, por exemplo, lidera iniciativas de descarbonização com seu programa Ecoshipping. Recentemente, a empresa iniciou testes com velas rotativas no Sohar Max, um dos maiores navios mineraleiros do mundo.

“Este projeto reforça nossa tradição de investir em inovação para reduzir emissões”, afirmou Rodrigo Bermelho, diretor de navegação da Vale. As velas, desenvolvidas pela Anemoi Marine Technologies, utilizam o efeito Magnus para reduzir o consumo de combustível e as emissões de CO2 em até três mil toneladas por ano.

A demanda por serviços de manutenção e pós-venda no segmento de equipamentos de propulsão cresceu em 2024, acompanhando o aumento do nível de utilização dos equipamentos em mercados como Rio de Janeiro, Nordeste, Norte e Sul do Brasil. As necessidades de manutenção se mantiveram consistentes em setores como operações portuárias, transporte de passageiros e cabotagem, com as empresas focadas em preservar e melhorar seus ativos.

A rede de centros autorizados da Volvo Penta, distribuída em várias regiões do Brasil, foi utilizada para atender às demandas locais. A proximidade desses centros possibilitou o suporte necessário aos clientes, acompanhando o movimento do mercado em direção à conservação e modernização de equipamentos.

No desenvolvimento de novas tecnologias, a Volvo Penta tem priorizado sistemas voltados à eficiência energética e redução de emissões. Um exemplo disso é o IPS40 Inboard Performance System, um sistema de propulsão integrado com previsão de lançamento para este ano, direcionado a embarcações de nova geração. Além disso, a empresa já oferece sistemas híbridos, como soluções elétrico-diesel, em alguns mercados fora do Brasil. A perspectiva é de avançar na implementação dessas tecnologias e atingir emissões zero até 2050, em consonância com as metas ambientais globais.

Esse movimento demonstra a adaptação do mercado às exigências por maior sustentabilidade e eficiência, com soluções voltadas para atender tanto às necessidades operacionais quanto aos compromissos ambientais. “Este movimento de conservação e melhoria foi mais observado em clientes das aplicações portuárias, no transporte de passageiros e de cabotagem”, observou Elpídio Narde, diretor comercial da Volvo Penta.

A Kawasaki Heavy Industries tem apostado em sistemas de propulsão elétrica e híbrida, alinhando-se às demandas globais por maior eficiência e sustentabilidade. “No Japão, acumulamos experiência com a entrega de sistemas de baterias e propulsão para um navio petroleiro totalmente elétrico, bem como sistemas de propulsão híbrida que combinam motores a gás puro e baterias de íons de lítio para um navio transportador de calcário costeiro. Além disso, em 2024, uma empresa japonesa de rebocadores decidiu construir um rebocador elétrico equipado com o sistema de propulsão elétrica da Kawasaki, utilizando um sistema de bateria de íons de lítio de grande capacidade. A entrega da embarcação está prevista para 2027”, disse Alex Nakao, da Kawasaki Heavy Industries.

A eficiência operacional tem sido um foco central no segmento. A Strauhs Equipamentos lançou propulsores azimutais fora de borda, projetados para alta manobrabilidade e baixo custo de manutenção. “A instalação desses propulsores pode ser feita em poucas horas, sem necessidade de modificações no casco”, destacou Marcel Strauhs, diretor da empresa.

Segundo a empresa Macnor Marine, o impulso para a descarbonização é uma tendência que continuará a influenciar o setor nas próximas décadas. As principais iniciativas estão voltadas para reduzir emissões, aumentar a eficiência energética e promover um fornecimento mais sustentável em toda a cadeia de abastecimento.

No segmento de propulsão marítima, diversas ações estão sendo adotadas para atender às regulamentações ambientais, incluindo o uso de motores movidos a GNL, sistemas de baterias e diferentes configurações de propulsão híbrida. Essas alternativas refletem os esforços do setor em direção a soluções mais sustentáveis.

Além disso, a combinação de diferentes tipos de motores, baterias e sistemas de Gearboxes com hélices e propulsores tem proporcionado maior flexibilidade e eficiência. Essa abordagem busca atender às demandas por economia de energia e redução de impacto ambiental, mantendo a performance operacional necessária no setor marítimo.

A Macnor, com a marca Brunvoll, apresentou soluções híbridas que reduziram em 29% o consumo de combustível em projetos recentes. Guimarães, da Macnor, disse que “nós e a Brunvoll possuímos soluções ligadas à eficiência e descarbonização através de fornecimento de propulsão híbrida com bateria, e possuímos o sistema de controle e DP mais avançado do mundo, onde algoritmos trabalham priorizando a melhor eficiência operacional e otimização de consumo de combustível. Podemos fornecer não só para novas construções, mas principalmente, retrofits de navios existentes”.

A Vale também tem investido em tecnologias complementares, como o uso de tintas de silicone para reduzir a resistência ao movimento e sistemas hidrodinâmicos que melhoram a eficiência dos motores. “Essas ações fazem parte de um esforço contínuo para descarbonizar a cadeia de transporte marítimo”, explicou Rodrigo Bermelho. O programa Ecoshipping da empresa já alcançou resultados significativos, destacando-se como referência global em inovação.

Embora o mercado mostre sinais de estabilidade, as empresas se preparam para novos desafios e oportunidades. Segundo Alex Nakao, da Kawasaki, a demanda por manutenção de navios offshore permanece alta, enquanto novas tecnologias como motores a hidrogênio ganham espaço. Já a Volvo Penta prevê um período de consolidação, mas acredita no potencial de crescimento a médio prazo, com foco em repotenciamento de motores e manutenção preventiva.

A Petrobras promete impulsionar o setor com bids para construção de até 40 navios tipo Offshore Supply Vessel e petroleiros. “Estamos prontos para atender à demanda com tecnologia e expertise”, afirmou Pedro Guimarães, da Macnor Marine. Outro aspecto relevante é a crescente digitalização das operações navais. Empresas como a Volvo Penta têm implementado sistemas de monitoramento remoto que ajudam a prever manutenções e reduzir custos operacionais. “Estamos transformando o setor com soluções que combinam eficiência e sustentabilidade”, disse Elpídio Narde. Essa integração tecnológica deve ser um dos principais motores de crescimento nos próximos anos.

A Navalsul, empresa que atua no fornecimento de sistemas de propulsão e serviços no mercado naval, atingiu recordes tanto no mercado interno quanto em exportações, consolidando-se como uma das principais fornecedoras do setor. “Foi um ano excelente. Alcançamos um recorde histórico de faturamento, com receitas de exportação em alta e crescimento em todas as áreas,” destaca Francisco Strauhs Neto, diretor da empresa.

As perspectivas para 2025 seguem otimistas, com a expectativa de uma retomada expressiva no setor offshore, além de novas obras voltadas à navegação interior nas regiões Norte e Sul do Brasil. A empresa também aposta no fortalecimento das exportações, com oportunidades na América do Sul e potenciais parcerias em países da África e na Guiana. “Projetamos mais um ano de receitas recordes, com a retomada de importantes obras no apoio portuário e ótimas perspectivas na região Norte,” comenta Strauhs Neto.

De acordo com o diretor, a demanda por serviços de manutenção e pós-venda aumentou significativamente, reflexo dos desafios nas cadeias de suprimento e da busca por maior eficiência nos equipamentos existentes. “O foco em manutenção e serviços cresceu muito, com muitos upgrades e overhauls de equipamentos, acompanhando as exigências do mercado,” explica o diretor.

A Navalsul também tem investido em inovação para atender às novas demandas, especialmente no desenvolvimento de soluções voltadas à eficiência energética e redução de emissões. Parcerias estratégicas, como a recente colaboração com uma empresa líder na América do Sul em monitoramento de combustíveis, têm fortalecido a oferta de tecnologias que otimizam o desempenho das embarcações.

Em 2024, as exportações tiveram destaques para os mercados na América do Sul, como Paraguai e Guiana, além de operações pontuais nos Estados Unidos. Entre os contratos fechados, destacam-se o fornecimento de sistemas de propulsão para um navio salineiro na região Norte, um navio tanque em Belém e uma série de empurradores fluviais para o mercado nacional e paraguaio.

“Conseguimos consolidar nossa liderança no fornecimento de equipamentos e soluções de manutenção para embarcações na região Norte e no Paraguai. Esses resultados reforçam nossa capacidade de atender às demandas do mercado de forma eficiente e sustentável,” conclui Strauhs Neto.

O ano de 2024 mostrou que, apesar dos desafios, a indústria naval brasileira está em plena transformação. Com perspectivas promissoras para 2025, o setor navega em direção a um futuro mais verde e tecnologicamente avançado.

A recuperação da indústria depende de esforços conjuntos entre governo, empresas e instituições de ensino. Investimentos em infraestrutura, capacitação e inovação serão fundamentais para consolidar o Brasil como referência global no setor naval. Assim, o país poderá alinhar-se às demandas globais por sustentabilidade e competitividade, garantindo sua posição estratégica no cenário internacional.

Fonte: Portos e  Navios – Lorena Parrilha Teixeira
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