O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) deverá conseguir em julho a aprovação final de um aporte de até R$ 400 milhões do fundo de infraestrutura Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS), segundo apurou o Valor. Com isso, o fundo passará a deter uma participação, ainda não definida, no capital empresa que é controlada por Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e pelo grupo de japoneses liderado pela IHI Corporation.
A companhia entrou com o pedido de investimento do FI-FGTS no início do ano passado e, em dezembro em 2013, obteve uma aprovação preliminar dos comitês de avaliação do fundo a partir de um relatório preliminar, chamado de Relatório de Oportunidades de Investimentos (Ropi).
Pelas regras do fundo, o seu desembolso não pode ser superior a 30% do capital necessário para o investimento a ser realizado pela empresa. Assim, pode-se estimar que o EAS tem um projeto de pelo menos R$ 1,2 bilhão. Segundo fontes do setor, o plano de investimento do estaleiro, na época do pedido (fevereiro de 2013), era acima de R$ 2 bilhões. Grande parte desse valor já está contratada ou em negociação com outras instituições de financiamento.
Para que a operação com o FI-FGTS seja concretizada, ainda será necessário um acordo entre os acionistas da empresa e o fundo sobre qual será sua participação no capital do EAS. No momento, está em elaboração o Relatório Final de Investimentos (Refi), de onde sairá o valor da empresa, conforme avaliação do FI-FGTS e de consultorias contratadas pelo fundo para auxiliá-lo no processo.
Geralmente, o FI-FGTS adquire uma fatia que lhe garanta ter participação e voto nas decisões do conselho da empresa. Por isso, fontes do setor estimam que a operação não deverá envolver menos do que 20% do capital do EAS. Todavia, o fundo pode adquirir no máximo 30% do capital.
Assim que o Refi for aprovado pelo Comitê de Investimento do FI-FGTS, a Caixa é autorizada a fazer o aporte. A aprovação final da operação dificilmente vai ser anunciada até o fim de junho, segundo disse ao Valor uma fonte, e só vai se concretizar se houver acordo com os acionistas do EAS sobre a fatia societária que pleitear.
Em 5 de fevereiro, por meio da compra de novas ações, o grupo japonês liderado pela IHI, elevou sua participação no EAS de 25% para 33,3%. O valor do negócio não foi revelado, mas no total os japoneses devem ter desembolsado quase R$ 280 milhões para ficar com um terço do capital do estaleiro. A conta considera o valor pago de R$ 207 milhões por 25% do EAS na primeira fase da operação, em 2013.
A fatia dos japoneses é distribuída entre a IHI, JGC e JMU. Com a entrada dos orientais, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que controlavam o EAS meio a meio, tiveram suas participações diluídas. Agora, se operação do FI-FGTS for concretiza, a tendência é que haverá nova diluição nas parcelas dos sócios.
A entrada da IHI no EAS foi confirmada, no ano passado, depois de o estaleiro ficar sem assistência técnica da coreana Samsung, em 2012. Foi um período de dificuldades para estaleiro, sobretudo na gestão, o que se traduziu em baixa produtividade, mas o quadro vem mudando desde a entrada da IHI. Em maio de 2012, a Transpetro chegou a suspender os contratos de 16 dos 22 navios encomendados ao EAS por um valor total de R$ 7 bilhões dentro do Programa de Modernização e
Expansão da Frota (Promef).
Os contratos foram suspensos justamente pelo fato de o EAS ter ficado sem parceiro tecnológico, problema resolvido com a chegada da nova sócia. A Transpetro informou que foram entregues até o momento três navios tipo Suezmax (João Cândido, Zumbi dos Palmares e Dragão do Mar, o último deles a entrar em operação, em 14 de abril deste ano). Outros quatros quatro navios da mesma classe estão em construção, entre eles, o petroleiro Henrique Dias, em fase de acabamentos e que deverá ser entregue ainda em 2014.
O fim das entregas está previsto para 2019, segundo a Transpetro, o que vai representar um atraso de pelo menos três anos em relação ao planejado inicialmente. Antes, previa-se a entrega do 22º em abril de 2016, mas o atraso de 21 meses na conclusão do João Cândido estendeu o restante do cronograma.
O EAS tem ainda em carteira a construção de sete sondas de perfuração da Sete Brasil, empresa da qual a Petrobras é sócia, em contratos totais de US$ 5,2 bilhões. No entanto, a primeira unidade a Sete Brasil autorizou o estaleiro a fazer parte do casco no exterior, na IHI.
Procurado, o Fi-FGTS informou que não comenta transações em avaliação. O EAS não comentou.
Fonte: Valor Econômico – Olivia Alonso e Francisco Góes | De São Paulo e do Rio