O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) carrega em sua história mais de dois séculos e meio de tradição e relevância para a construção naval militar do Brasil. Fundado em 29 de dezembro de 1763, a instituição foi inicialmente instalada no sopé do Mosteiro de São Bento, com a missão de construir e reparar navios da Marinha de Portugal.
Com uma trajetória marcada por inovações e conquistas, o AMRJ não se limita ao passado. Sua capacidade de adaptação às demandas da Defesa Nacional permitiu que o estaleiro mantivesse relevância estratégica ao longo dos anos. Hoje, a Organização Militar vive um novo ciclo, retomando a construção naval militar com projetos modernos que reforçam a presença da Marinha do Brasil (MB) em águas jurisdicionais e ampliam a proteção da Amazônia Azul.
Segundo o Diretor do AMRJ, o Contra-Almirante (Engenheiro Naval) Mauro Nicoloso Bonotto, a produção paralela dos Navios-Patrulha (NPa) “Mangaratiba” e “Miramar” simboliza a retomada da tradição construtiva e da capacidade do Arsenal de Marinha.

O Navio-Patrulha “Maracanã” foi entregue ao Setor Operativo da Marinha do Brasil em 2022, marcando a retomada da construção naval pelo AMRJ – Imagem: Marinha do Brasil
Do Arsenal da Corte ao AMRJ
Ao longo de sua história, o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro passou por diferentes denominações e momentos de transformação. Com a Independência, em 1822, passou a ser denominado Arsenal de Marinha da Corte, até a Proclamação da República, quando recebeu oficialmente o nome de Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. O crescimento das demandas navais levou, em 1840, à expansão da infraestrutura, com a construção de novas instalações na Ilha das Cobras, incluindo o primeiro dique seco.
A consolidação definitiva na Ilha das Cobras ocorreu em 1938, quando a infraestrutura já superava a existente no continente, dando origem ao Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras. Durante alguns anos, os dois estaleiros funcionaram de forma simultânea, até que, em 1948, apenas o da Ilha permaneceu ativo, adotando definitivamente a denominação de Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, que se mantém até hoje.
Ao longo de sua trajetória, o AMRJ consolidou-se como um polo de inovação e tecnologia naval no País. Desde a construção da Nau “São Sebastião”, em 1763, o estaleiro foi responsável por marcos importantes, como a Corveta “Campista” (1824), o Cruzador “Tamandaré” (1884) e o Monitor Fluvial “Parnaíba” (1936), este último em plena atividade até hoje. Já nas décadas seguintes, destacou-se na produção de Navios-Patrulha Costeiros, Navios de Assistência Hospitalar e Corvetas da Classe Inhaúma, consolidando a capacidade nacional de projetar e construir meios complexos.

Monitor Parnaíba (U17) sendo construído no Arsenal de Marinha, no Rio de Janeiro, em 1936 – Imagem: Marinha do Brasil
Um dos maiores saltos tecnológicos ocorreu a partir de 1982, com o início do programa de construção de submarinos. Fruto de uma parceria com a Alemanha, o projeto possibilitou a formação de gerações de engenheiros e técnicos brasileiros e a transferência de conhecimento de tecnologias. O resultado foi a produção, no próprio AMRJ, de três submarinos da Classe Tupi: “Tamoio”, “Timbira” e “Tapajó”, além do “Tikuna”, entregue à Esquadra em 2006.
Na mesma linha, o Arsenal construiu a Corveta “Barroso”, evolução do projeto da Classe Inhaúma, incorporada à Marinha em 2008 e considerada um marco da capacidade nacional em engenharia naval militar.
Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro divulga entregas previstas até 2028
O AMRJ iniciou o segundo semestre de 2025 com a entrega de duas Lanchas de Operações Ribeirinhas (LOpRib) ao Exército Brasileiro. As duas unidades foram destinadas ao Comando Militar da Amazônia e ao Comando Militar do Oeste. A LOpRib é uma embarcação moderna que alia blindagem e proteção balística à alta mobilidade em águas interiores.

Lancha de Operações Ribeirinhas construída no AMRJ em atuação – Imagem: Exército Brasileiro
Em 2026, o Arsenal já tem em sua agenda a cerimônia de batismo do Navio-Patrulha (NPa) “Mangaratiba” e, no mesmo ano, o navio será incorporado ao Setor Operativo da MB. O planejamento inclui também, para dezembro de 2028, a entrega do Navio-Patrulha “Miramar”. Essas construções se devem à inclusão do Programa de Obtenção de Navios-Patrulha (PRONAPA) no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que garantiu investimentos no processo construtivo e na infraestrutura de oficinas especializadas do AMRJ.

Navio-Patrulha “Mangaratiba” sendo construído no AMRJ – Imagem: Marinha do Brasil
As embarcações desse tipo têm um papel relevante e estratégico na proteção da Amazônia Azul. Os navios-patrulha garantem a segurança do tráfego aquaviário, auxiliam na fiscalização das águas jurisdicionais e atuam no combate a crimes como contrabando, pesca ilegal e tráfico de drogas. Além de contribuir para a geração de empregos, eles também desempenham um papel vital em missões de busca e salvamento e no apoio à população em áreas isoladas.
O Arsenal de Marinha também segue disponibilizando parte de seus serviços para embarcações de uso comercial e atendendo às demandas de manutenção de meios navais da MB, como foi o caso da primeira docagem do Navio-Aeródromo Multipropósito (NAM) “Atlântico” no País, desde sua incorporação à MB. Durante o período de docagem no Dique “Almirante Régis”, iniciado em setembro de 2024 e concluído em março de 2025, foram realizados diversos serviços de manutenção, como parte do período de docagem de rotina do Capitânia da Esquadra.
De acordo com o Diretor do AMRJ: “A primeira docagem do NAM ‘Atlântico’ no Dique ‘Almirante Régis’ foi uma manobra desafiadora, não somente pelas dimensões do navio, mas pelo seu ineditismo no Brasil”, relembra.

Docagem pioneira do NAM “Atlântico” fez revisões das linhas de eixo, hélices, lemes, válvulas de fundo e sistema de proteção catódica, assim como a reaplicação do esquema de pintura anti-incrustante nas obras vivas (parte submersa do casco), entre outros serviços – Imagem: Marinha do Brasil