RIO – Com US$ 40 bilhões em encomendas até 2020, a maioria para o setor de óleo e gás, a indústria naval brasileira vive o melhor momento de sua história. Operam no país 44 estaleiros com capacidade para produzir embarcações de aço com mais de mil toneladas. Eles estão montando 370 navios – inclusive 14 plataformas de petróleo e 28 navios-sonda, além de graneleiros, porta-contêineres, comboios fluviais e rebocadores – e empregando 78.136 pessoas, volume recorde, segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). Outros seis estaleiros estão sendo concluídos e podem agregar até 30 mil postos de trabalho.
Esse cenário se desenhou com o crescimento da demanda e a criação de programas de incentivo. A produção brasileira de petróleo e gás acontece, cada vez mais, em plataformas offshore: os equipamentos embarcados atingiram 85% do volume total produzido no país em 2002. Também houve mudanças regulatórias: a exploração e a produção de petróleo e gás deixaram de ser monopólio da Petrobras em 1997 e passaram a se apoiar em contratos de concessão.
A primeira rodada, em 1999, tinha regras que consideravam os índices de conteúdo nacional como um dos critérios de escolha do vencedor, com o objetivo de estimular a compra de partes e contratação de serviços no país. Também naquele ano foi lançado o Programa de Renovação da Frota de apoio Marítimo 1 (Prorefam 1). Assim, o setor já chegava ao século 21 com perspectivas auspiciosas.
A partir da sétima rodada, em 2005, os índices de conteúdo local passaram a ser obrigatórios. A descoberta do pré-sal, em 2007, foi um salto de expectativas. A Petrobras lançou então a terceira etapa do Prorefam, com requerimentos de conteúdo local mínimo. E, em 2010, criou o Programa Empresa Brasileira de Navegação (EBN). Além disso, realizou licitações para a construção de 40 plataformas e de 33 sondas de perfuração no Brasil.
– A construção naval só existe como projeto do governo e da sociedade. Na China, os estaleiros são estatais. Na Coreia do Sul, o governo financia tecnologia e formação – diz Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval.
Maior empregador do setor
A regulamentação do transporte aquaviário, que deu preferência às empresas de bandeira brasileira nas contratações de fretes e serviços de apoio, também contribuiu para sustentar os portfólios.
– As perspectivas são muito boas, graças ao setor de óleo de gás. Em 2014, vamos crescer mais de 10% –diz Arnaldo Calbucci, vice-presidente da Wilson Sons. – Duplicamos a capacidade de produção. O crescimento da cabotagem aquece o semestre.
E, se está bom para o país, está ainda melhor para o Rio, que combina, na expansão dos negócios, as riquezas produzidas pela extração de petróleo e gás – a atividade responde por 35% do PIB industrial do estado – com os investimentos para apoiá-la. O estado tem 386 construções navais em andamento em 22 estaleiros. Em 2012, o Rio voltou a ser o maior empregador do país no setor , com 31 mil trabalhadores.
– Da Bacia de Campos sai a maior parte, 96%, do petróleo offshore brasileiro e 80% de todo o petróleo produzido no país – diz Jerson Carneiro Gonçalvez Jr, professor de Direito Administrativo do Ibmec-RJ. – Os poços ultraprofundos demandarão submarinos, e o Brasil entrará numa atividade extremamente restrita.
Mas o setor ainda tem muito para avançar, superando os atrasos nas entregas, devido a problemas de gestão, e a falta de pessoal qualificado. Empresas como a Wilson Sons, que inaugurou uma nova unidade em abril, com 180 funcionários – contingente que deve chegar a 600 -, estão criando escolas de solda e montagem.
– A indústria precisa de capacitação, pois não encontra técnicos bem formados – diz Edson Bouer, da consultoria AT Kearney