A queda na demanda de investimentos na indústria de óleo e gás não parece generalizada. O grupo Bravante contraiu empréstimo de US$ 249 milhões avalizados pelo Tesouro dos Estados Unidos para a construção, em um estaleiro da Flórida, de cinco navios da apoio marítimo para as atividades exploratórias de petróleo da Petrobras no Golfo do México e no Brasil. O Bravante 5, primeiro da série, já está em fase de conclusão e deverá ser entregue em outubro. Já a Sete Brasil contratou a construção de 29 sondas para águas ultraprofundas a cinco estaleiros brasileiros. Dois equipamentos já começaram a ser montados em Cingapura e serão finalizados no Brasil para atender às exigências de pelo menos 65% de conteúdo local.
O empréstimo obtido pela Bravante faz parte de um investimento maior, da ordem de R$ 2 bilhões, que o grupo planeja aplicar em cinco anos para ampliar a frota própria de embarcações de apoio marítimo, que passará de doze para 23 navios. A companhia tem 78 embarcações em operação. Quarenta navios estão dedicadas ao transporte de combustível em Paranaguá, Santos, Rio de Janeiro, Vitória e Recife, e 38 são barcos de apoio offshore. Parte dos novos barcos de apoio marítimo serão construídos no estaleiro do grupo, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
A decisão de contratar as cinco embarcações no estaleiro Eastern Shipyard, em Panamá City, na Flórida, levou em conta a velocidade da demanda por esses navios no mercado brasileiro. As embarcações suportam até 4,5 mil toneladas de carga e vão operar em águas rasas e profundas, atendendo às explorações do pré-sal.
Já a Sete Brasil recebeu em agosto a aprovação do Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (FMM) de concessão de uma linha de crédito de até R$ 10,3 bilhões para a construção de oito sondas de perfuração de última geração, parte do portfólio total de 29 equipamentos da empresa hoje em construção em cinco estaleiros brasileiros. Especializada na gestão de ativos para prestação de serviços na indústria de petróleo offshore, a Sete Brasil é uma das maiores empresas mundiais na área de sondas de perfuração especializadas em águas profundas e ultraprofundas. Os recursos aprovados pelo Conselho Diretor do FMM serão repassados mediante a contratação de financiamentos de longo prazo por agentes financeiros autorizados.
Máquinas e equipamentos usados no setor de óleo e gás são fonte de preocupação da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). De acordo com a entidade que representa as companhias de bens de capital mecânico, as empresas que atuam neste segmento estão sentindo a redução dos pedidos da Petrobras, por conta da dificuldade de caixa por que passa a estatal.
A Abimaq não divulga o faturamento das empresas por nichos de atuação, mas a queda das vendas de todo o setor foi de 6,7% neste ano até agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado, e somou R$ 52,2 bilhões. Apenas em agosto, as receitas somaram R$ 7,3 bilhões, valor 2,1% abaixo do volume registrado no mesmo mês de 2012.
Fonte: Valor Econômico: Paulo Vasconcellos | Rio
Encomendas adensam a cadeia produtiva
A finlandesa Wärtsilä, que atua há 23 anos no Brasil, está investindo € 20 milhões, para erguer sua primeira fábrica no país. A unidade será instalada no Superporto do Açu, em São João da Barra (RJ), e produzirá, a partir de 2014, geradores de médio porte e propulsores azimutais, que irão equipar nove navios sonda que atuarão na exploração do pré-sal e serão construídos no Brasil pelos estaleiros Ecovix e Jurong Shipyard.
Robson Campos, presidente da subsidiária brasileira, diz que a fábrica inicialmente irá operar com 40% de conteúdo local, devendo chegar a 60% em seis anos. Para atender a Wärtsilä, a suíça ABB instalou uma linha de produção de alternadores elétricos no país.
Com um orçamento de investimentos de US$ 236,7 bilhões entre 2013 e 2017, e uma política de privilegiar fornecedores instalados no Brasil, a Petrobras e suas controladas têm impulsionado a cadeia produtiva de óleo e gás do país, além de gerar oportunidades para empresas dos mais diversos portes e segmentos. A empresa tem cerca de 20 mil fornecedores diretos e calcula-se algo como 250 mil indiretos, como a Wärtsilä e a ABB. Apenas em encomendas no Brasil, a petrolífera soma US$ 225 bilhões entre 2003 e 2013.
Para viabilizar o adensamento de sua cadeia produtiva, a Petrobras tem adotado desde 2003 uma série de ações que vão de linhas de financiamento a parcerias com instituições de apoio ao empreendedorismo, por meio do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp). A estratégia adotada para facilitar o crédito aos fornecedores é utilizar os recebíveis dos contratos firmados com a Petrobras para reduzir o risco do crédito bancário e, portanto, seu custo. Isso viabilizou, até maio, 1200 operações de crédito a 495 empresas, num total de R$ 6 bilhões em antecipações de recursos.
Outra iniciativa em curso é a capacitação de pequenas empresas para atender as demandas do setor de óleo e gás. Para isso, a Petrobras fechou em 2004 um acordo com o Sebrae, que termina em 2014. O investimento previsto é de R$ 78 milhões, dos quais 50% da petrolífera e 50% do Sebrae. Até o momento, os técnicos do Sebrae já atenderam a 17 mil empresas. Segundo Luiz Barretto, presidente do Sebrae, são empresas dos mais diferentes perfis, algumas de conteúdo tecnológico, outras puramente comerciais, como papelarias e fornecedores de refeições. “Há até o caso de uma pipoqueira, microempreendedora individual, que forneceu pipoca para realização de testes ambientais no entorno de plataformas”, conta o executivo.
Pesquisa realizada pelo Sebrae aponta que entre 2009 e 2012, as empresas que participaram do programa aumentaram em 16% seu faturamento e em 25% o número de trabalhadores contratados. O número de pequenas empresas cadastradas como candidatas a fornecedoras da Petrobras aumentou em 86%.