O desenvolvimento das hidrovias no Brasil está em uma encruzilhada. Para parte dos empresários e especialistas em logística, os rios são boas alternativas para escoamento, sobretudo, da alta produção de grãos. Para parte das autoridades, o segmento não é prioritário e o modal fica de fora dos grandes programas de investimento.
O modal foi deixado de lado nos mais de R$ 140 bilhões previstos em todos os projetos do Programa de Investimentos em Logística (PIL) anunciados pelo governo federal.
De acordo com o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, a solução do destravamento da infraestrutura nacional não passa pelos rios do país.
“Hidrovia não é uma solução estrutural para o transporte brasileiro, não temos um rio como o Mississippi. No Brasil as hidrovias são muito periféricas, não passam por grandes centros produtores ou consumidores. A prioridade é criar uma malha ferroviária mais robusta”, afirma.
Prioridades
A mudança da matriz fica bem clara nas prioridades do programa, com quase 40% dos recursos destinados à remodelagem ferroviária no país. No Paraná, o novo corredor ferroviário que corta o estado não deve sair por menos de R$ 9 bilhões – o maior investimento do PIL no estado.
“É uma obra imprescindível e prioritária, mas não podemos abrir mão da integração dos modais”, afirma Sebastião Almagro, membro do conselho de infraestrutura e logística da MV Consultoria. “Os governos sempre optaram por um modal, em vez de investir em vários, criar uma rede de transporte”, avalia o presidente da consultoria Macrologística, Renato Pavan.
No entanto, o projeto não prevê ainda essa integração. “Isso pode até ser considerado no futuro, mas os projetos não estão levando em conta essa complementação nesta fase de desenvolvimento dos estudos”, afirma o gerente-substituto de infraestrutura e transporte ferroviário de cargas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Clauber Campello.
Transbordo
A complementação do transporte pelas duas vias é possível. A Administração da Hidrovia do Paraná (Ahrana) está realizando estudos para ampliar a capacidade de carregamento de cargas pela bacia, que hoje serve como transporte auxiliar ao porto de Santos (SP).
O principal ponto de convergência é Guaíra, na região Oeste do estado, onde o rio Paraná se cruza com o trajeto da futura ferrovia.
A sugestão da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Paraná (Seil) é de que seja construído um porto intermodal, ligado às estradas e à linha férrea prevista para a região. O projeto, que também é referendado pelo Ministério dos Transportes, ainda não tem recursos – públicos ou privados – para sair do papel.
Projetos para o uso de rios estão em fase embrionária
A pedido do Ministério dos Transportes, as administrações das bacias hidroviárias do país estão realizando levantamentos sobre quais são as necessidades de investimentos para ampliar o uso dos rios no transporte de cargas.
Os estudos, no entanto, estão muito mais atrasados do que os demais planos de expansão logística. A defasagem explica, em partes, a falta de atenção a esse tipo de transporte.
Enquanto a regulamentação portuária já está definida e as licitações ferroviárias estão previstas para sair em 2014, os estudos hidroviários não devem ficar prontos neste ano. Além de realizar o levantamento, é preciso encontrar um modelo de parceria público-privada que banque os investimentos.
“Ainda que existam empresários interessados pelo modal, a segurança jurídica de investir em um programa bem definido como o PIL é maior do que entrar em um leilão de um projeto paralelo como o das hidrovias”, afirma Sebastião Almagro, da consultoria logística MV.
Fase de Estudos
Capacidade máxima de cargas na bacia paranaense pode triplicar
Estudos preliminares contratados pela Administração da Hidrovia do Paraná (Ahrana) apontam que a capacidade máxima de transporte de cargas nos rios da bacia anualmente podem saltar dos atuais 12 milhões de toneladas para 19 milhões de toneladas – hoje, só cinco milhões toneladas são transportadas ao ano. De acordo com o representante do consórcio de empresas responsável pelo estudo, Ruy Lopes, com a expansão da malha, ela serviria diversas regiões do país e o Mercosul. “A hidrovia não é o modelo ideal para todas as cargas, mas pode baratear o transporte de muitas delas”, diz. O transporte de cargas pode ser até dez vezes mais barato que em caminhões e três vezes mais em conta que em trens.
R$ 140 bilhões estão previstos em todos os projetos do Programa de Investimentos em Logística (PIL). Hidrovias, porém, ficaram fora do projeto.