Fontes do setor naval ouvidas pelo Brasil Econômico prevêem que o Fundo de marinha Mercante (FMM) deve aprovar hoje o caráter prioritário para um número significativo de financiamentos de projetos de construção no país de navios-sondas, equipamentos fundamentais para a exploração de petróleo no mar. O financiamento desse tipo de embarcação pelo FMM não era permitido até junho deste ano, quando o Conselho Monetário Nacional, a pedido do Ministério dos Transportes—responsável pelo gerenciamento do Fundo —, publicou medida autorizando esse tipo de desembolso.
“Até agora, o Fundo tinha competência para financiar construções de embarcações de interior, para apoio marítimo e de cabotagem, além de estaleiros”, explica a fonte, que prefere não ser identificada. “Essa medida visa contribuir com a política de petróleo e gás do governo federal, e deve resolver problemas de empresas como a Sete Brasil e, consequentemente, da Petrobras, principal demandante dos recursos do FMM, que precisará desses equipamentos em seus projetos, sobretudo no pré-sal”, prevê.
A Sete Brasil constrói esse tipo de embarcação no país e tem a Petrobras entre seus investidores. A estatal prevê a entrada em operação de 38 unidades de produção de petróleo e gás natural até o ano de 2020, incluindo navios- sonda e plataformas e embarcações de apoio. “A expansão do mercado de óleo e gás no Brasil, especialmente após o pré-sal, envolve grandes desafios e um dos principais é a baixa disponibilidade de navios-sonda, equipamentos fundamentais para a indústria do petróleo”, diz o vice-presidente de Consultoria Técnica da Forship, Antonio Prates.
“No entanto, é importante que os recursos do fundo, que são limitados, sejam utilizados com equilíbrio, para atender aos interesses nacionais como um todo, e não apenas às necessidades de um segmento específico da cadeia produtiva”, pondera. “Não é má ideia financiar navios- sondas. É, inclusive, uma boa forma de manter os estaleiros brasileiros ocupados. No entanto, o Fundo não é ilimitado e esse tipo de embarcação é caro”. O preço de uma sonda no mercado fica entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões.
“Não seria sábio exaurir os recursos do FMM com um único tipo de embarcação”, pondera Paulo Octavio Almeida, diretor da Aquapar, consultoria naval. Até junho de 2013, o FMM desembolsou, entre empréstimos e financiamentos, R$ 597 milhões. Os maiores desembolsos foram feitos pelo Banco do Brasil (R$ 412 milhões) e BNDES (R$ 183 milhões). Dentre esses desembolsos, os de maior vulto foram destinados à SiemOffshore, empresa especializada em construção submarina (R$ 108 milhões), à Sapura Navegação (R$ 71 milhões) e à Bram Offshore (R$ 37 milhões). No início de julho (1/7), a composição do Conselho Diretor da marinha Mercante (CDFMM) foi alterada.
A partir da reunião de hoje, participarão do conselho representantes dos três principais agentes financeiros do FMM (BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal), da Casa Civil da Presidência da República e da Petrobras. No ano passado, o FMM despendeu US$ 2,4 bilhões em investimentos e teve uma receita de US$ 2,2 bilhões. A Sete Brasil confirmou que deu entrada em um pedido de priorização junto ao FMM para oito de suas 29 sondas, das quais 28 foram contratadas pela Petrobras.
Criada em 2010, a empresa tem como investidores os fundos de pensão Petros, Previ, Funcef e Valia, além dos bancos Santander, Bradesco e o BTG Pactual e a Petrobras, dentre outros cotistas. “Para viabilizar os recursos para a construção dessas 29 sondas, a Sete Brasil busca um série de diferentes fontes de financiamento, dentre as quais se encontra uma parcela de financiamento com recursos do FMM”, diz João Carlos Ferraz, presidente da Sete Brasil.