Em recentes anos, a África começou a se tornar um ponto importante no mapa de estratégia de internacionalização de grandes empresas brasileiras. Quem chegou cedo teve de lidar mais intensamente com turbulências políticas, instabilidades regulatórias e baixo poder de investimento privado e público, entre outros problemas. Mas, lentamente, esse cenário começa a se dissipar e o que passa a chamar mais a atenção das corporações são as oportunidades.
Dos antigos obstáculos, alguns ainda permanecem, como a baixa disponibilidade de crédito no ritmo que se faz necessário, e outros novos surgiram no horizonte, como uma forte concorrência de produtos e serviços asiáticos. Mas há quem acredite que a aposta está valendo a pena.
Entre eles está o grupo WEG. De sua receita de R$ 3,2 bilhões gerada em negócios no exterior no ano passado – pela primeira vez superando o faturamento do mercado interno -, os negócios na África do Sul representaram 15%. “Nossa vendas para a África do Sul começaram há mais de 25 anos, primeiro com um parceiro comercial e mais tarde diretamente”, diz Luis Gustavo Lopes Iensen, diretor da área internacional.
O parceiro comercial, que acabou sendo adquirido pelo grupo brasileiro em 2010, foi de grande importância. “Seu conhecimento local foi estratégico para nos ajudar a desenvolver o mercado e nos tornarmos líderes em motores elétricos no país”, disse. Tanto que a empresa decidiu manter o nome da empresa, Zest, e seus executivos após a compra.
A WEG conta hoje com sete unidades industriais no país africano, atendendo a diversos setores. “Nós percebemos que somente as exportações não eram suficientes e a instalação de fábricas em vários países faz a diferença”, afirma Iensen.
A relação com a África do Sul tornou o país a ponta de lança para alcançar outros mercados. Daquele país a empresa começou a expandir seu atendimento para países da África Subsaariana, como Gana, Zâmbia, Congo e Tanzânia. No Quênia, na Nigéria, em Angola e em Botswana a WEG conta com representantes locais, e para o Egito e Líbia o atendimento é feito via Brasil. As vendas para os países do Norte, como Tunísia, Marrocos e Argélia, são comandadas pelo escritório do grupo em Lyon (França).
Para Iensen, as perspectivas no mercado africano são muito grandes. “São países onde tudo está para ser construído e em alguns casos com muitas similaridades com o mercado brasileiro”, diz. A WEG tem a vantagem de já ser parceira comercial de outros grupos brasileiros, como Odebrecht, Queiróz Galvão, Vale e Petrobras.
Ainda na década de 90, a África do Sul também foi o ponto de partida da Esmaltec, produtora de eletrodomésticos que no mercado brasileiro tem uma forte presença na classe C. Em 2000 foi a vez de expandir para Cabo Verde e no ano passado a empresa teve 32% do seu faturamento de exportação em 16 países africanos. “Os produtos que exportamos são muito bem aceito nesses mercados, principalmente modelos mais básicos que, com algumas adaptações, facilitam nossa penetração”, afirma Annette Reeves de Castro, superintendente da empresa. Os produtos mais vendidos para a África é o fogão a gás.
A executiva está otimista quanto às perspectivas de negócios com os países africanos. “São mercados em franca expansão”, diz. Mas ela ainda sente instabilidade em algumas regiões, o que interfere na programação das vendas “Sentimos uma concorrência acirrada de produtos chineses e turcos”, comenta. Para a Esmaltec, cuja sede e fábrica ficam localizadas no Ceará, há um outro desafio: contar com linhas marítimas dos portos em que ela trabalha, de Pecém e Fortaleza, para esses destinos.
Para quem pretende investir em exportações para a África do Sul e países do Norte da África, Annete recomenda o contato direto com o importador e visitas regulares. Para países menores, a parceria com representantes locais faz toda a diferença. “Eles têm contato mais próximo e frequente com o distribuidor e também toda a responsabilidade pelo crédito aos clientes finais”, diz.