Disciplina operacional, financeira e no planejamento. Esse foi o recado da diretoria da Petrobras ao detalhar ontem as premissas que balizaram o plano estratégico 2013-2017. Como bem expressou a presidente da empresa, Graça Foster, o objetivo de todas as áreas é “andar junto para não travar a companhia” e serem “criativos sem perder a disciplina”. E parece que é isso que Graça está tentando moldar na Petrobras e deve reforçar no “road show” em Nova York e Londres, que começa hoje pelos Estados Unidos.
Planejar e otimizar, por exemplo, os gastos de US$ 75 bilhões previstos somente para a perfuração de poços, equivalente a 51% do orçamento da área de exploração e produção, ou 36,2% dos investimentos de US$ 207 bilhões dos projetos que serão implantados até 2017.
O novo plano da companhia, prevê investimentos de US$ 236,7 bilhões, mas, desse total, US$ 29,6 bilhões estão em análise de viabilidade econômica. Fazem parte do grupo as refinarias Premium do Maranhão e Ceará e a segunda etapa do Comperj, no Rio de Janeiro. Ainda com previsão de entrada em 2017 e 2018 – prazo que nessa altura deve ser postergado – essas três unidades serão construídas em fases, cada uma com capacidade de processar 300 mil barris/dia.
Graça incumbiu o diretor de abastecimento, José Carlos Cosenza, de apresentar uma definição sobre a viabilidade dessas refinarias até meados deste ano, já que ainda estão em fase de detalhamento do projeto. Elas serão capazes de processar 1,2 milhão de barris/dia e poderão suprir o déficit do mercado brasileiro, que cresce 4% ao ano. Cosenza frisou, entretanto, que o objetivo é que os projetos sejam rentáveis e não levados adiante para atender o mercado a qualquer custo.
A versão 2013-2017 é o segundo plano estratégico de Graça Foster na presidência da Petrobras. Depois de muito tempo de metas não realizadas e investimentos não condizentes com a geração de caixa, o plano traz metas consideradas mais realistas. No horizonte abrangido pelo plano, a estatal já poderá contar com a maior parte das sondas e plataformas que vão garantir o início gradual do crescimento da produção da companhia.
A diferença desse plano para o anterior é que a companhia passou a incorporar uma produção adicional de 750 mil barris de petróleo por dia e duas novas refinarias – RNEST, em Pernambuco, construída em duas etapas que vão entrar em operação em novembro do próximo ano e maio de 2015, e a fase um do Comperj, no Rio, previsto para abril de 2015. A de Pernambuco vai processar 230 mil barris de óleo e continua incerta a participação da PDVSA no projeto. No dia 28 de fevereiro venceu mais um dos incontáveis prazos dados pela Petrobras para que os venezuelanos decidissem sobre sua participação na refinaria.
Na primeira etapa do Comperj serão 165 mil barris. Com 400 mil barris adicionais processados, as duas permitirão à Petrobras dispor de um fluxo de caixa operacional de US$ 165 bilhões no período, descontados os dividendos.
A Petrobras planeja contratar mais 15 plataformas do tipo FPSO até 2020 e duas plataformas menores para testes de longa duração (TLDs) no pré-sal. Para atingir a meta de produção, a companhia já encomendou 24 FPSOs que ajudarão a chegar a 2017 produzindo 2,75 milhões de barris de óleo e líquido de gás natural (LGN), sem contar o gás, por dia. Outras duas FPSOs estão sendo negociadas para o campo de Lula. Serão instaladas em áreas chamadas Lula Alto e Lula Central, no pré-sal de Santos.
Frisando que nos últimos nove meses a companhia aumentou quatro vezes o preço do diesel e duas vezes a gasolina, Graça Foster se disse “satisfeita” com o último aumento no preço do diesel no dia 6 de março, e que não acha apropriado voltar a falar em aumento de preços durante o detalhamento do plano estratégico.
A Petrobras não informa qual o percentual de aumentos de preços dos combustíveis utiliza para balizar o plano. Graça confirmou que a polêmica refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), não será vendida e está fora da lista de ativos que a empresa espera vender por US$ 10 bilhões ainda em 2013. Sobre o atraso na venda de ativos, prevista desde 2010, Graça afirmou o que o mercado já tinha percebido: que a Petrobras sabe comprar, mas não vender ativos, mas está aprendendo.
O diretor de exploração e produção, José Formigli, se disse satisfeito com a procura pelos ativos da companhia, sem detalhar o que está à venda. Além do Brasil, a lista inclui ativos na América Latina, Estados Unidos e África.
O orçamento de US$ 24,3 bilhões para a exploração prevê recursos para aquisição de áreas nos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) este ano. “Traçamos, evidentemente, cenários mais realistas para a 11ª Rodada e trabalhamos alguns cenários para a partilha. Teremos ainda para este ano o leilão para [áreas de] ‘shale gas’. Para cada situação temos cenário diferente”, disse Graça.
Sobre as análises para escolha da logística de apoio para a produção no pré-sal e a possibilidade de utilizar o porto do Açu, do empresário Eike Batista, Formigli respondeu que por algum tempo a base mais importante será o porto do Rio de Janeiro. E que o Açu é uma oportunidade para desafogar o porto de Macaé.
“Temos analisado a costa do sul do Espírito Santo até o Rio de Janeiro, as melhores alternativas para a gente também usar além de Macaé e do Rio. O Porto do Açu certamente é uma oportunidade que temos analisado, da mesma forma que analisamos oportunidade de fazer algo em Santos. Mas se você quer saber de onde vai ser o grosso para o pré-sal, nos próximos anos, é do Porto do Rio”, disse o diretor.