Depois da totalmente inesperada e muito bem-vinda sinalização, dada pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que a Petrobras poderá tomar conta de sua própria política de preços de combustíveis daqui para frente (ou pelo menos terá mais autonomia do que antes), a próxima notícia que os acionistas da estatal querem ler nas manchetes dos jornais é o anúncio de um relevante corte no plano quinquenal de investimentos da companhia, que tem rondado os US$ 200 bilhões nesta década.
Motivos para isso não faltam. A empresa não tem balanço publicado e não pode acessar o mercado de capitais para tomar crédito, está com sua nota de grau de investimento ameaçada e o petróleo é negociado hoje por metade do era vendido há pouco mais de três meses.
Uma decisão como essa, segundo investidores, passaria importantes sinais para o mercado. O primeiro, mais no plano das expectativas, seria a confirmação (somada à mudança na política de preços) de que a orientação do acionista controlador de fato mudou e que a empresa será preservada – e não usada, além de sua capacidade, para controlar a inflação e sustentar o crescimento econômico.
Além disso, seria uma medida relevante para deixar o endividamento da companhia administrável (claro que tudo depende do tamanho do corte). Nos últimos anos, a Petrobras vem investindo cerca de US$ 40 bilhões por ano, o que representa o dobro do caixa gerado com sua operação. Esse processo fez a dívida líquida da companhia se multiplicar por três desde o fim de 2010, alcançando US$ 109 bilhões em junho.
Uma dívida sob controle tem o condão de afastar a necessidade de uma nova capitalização da companhia, que teria consequências dramáticas especialmente para os minoritários, com as ações abaixo de R$ 10.
O analista Gustavo Gattass, do BTG Pactual, admitiu em relatório a clientes que ficou positivamente surpreso com a notícia de que a Petrobras vai manter os preços dos combustíveis na refinaria. Mas ele teme que a manutenção dos preços seja usada como desculpa para evitar um “necessário” corte nos investimentos.
Gattass calcula que, mantidos os preços do petróleo, dos combustíveis vendidos pela Petrobras e a taxa de câmbio em R$ 2,65, a estatal vai gerar lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de US$ 33,6 bilhões neste ano, o que deixaria a relação dívida líquida/Ebitda em 4 vezes em dezembro de 2015 e em 4,5 vezes no fim do ano que vem. Ou seja, o endividamento seguiria em processo de elevação.
“Arrumar o balanço da Petrobras exige mais (do que manter os preços dos combustíveis)”, diz Gattass. Para ele, a companhia precisa primeiro ser autorizada a cortar duas despesas de capital de forma relevante, para apenas então o risco de um novo aumento de capital poder de fato ser afastado.
O analista destaca que o preço-alvo apontado nos relatórios do BTG, de US$ 11 por ADR da Petrobras, resulta de uma média ponderada de dois cenários. O primeiro, para o qual o banco atribui chance de 80%, contempla a existência do aumento de capital e coloca o valor justo do papel da Petrobras em US$ 8. O segundo, sem a necessidade do aporte de recursos pelos acionistas, e com probabilidade de 20%, segundo o BTG, indica um preço de referência de US$ 21 por ADR.
Como o recibo da ação da companhia é negociado hoje pouco abaixo de US$ 7,5 em Nova York, fica evidente o interesse dos investidores em ler uma notícia que assegure que o risco de aumento de capital está fora do radar.
Fonte: Valor Econômico – Fernando Torres