Os reflexos negativos do fim do contrato do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) com a Sete Brasil serão mais fortes do que se imaginava. Os US$ 6 bilhões cancelados para a construção de sete navios-sonda marcam uma fatia considerável da receita do EAS. Para se ter ideia, representam quase o mesmo valor que os 22 navios petroleiros da encomenda da Transpetro ao EAS.
O resultado é desemprego em breve, já que um contrato não supre a falta do outro. São 1,3 mil trabalhadores com o emprego em xeque, apostando as fichas na possível retomada do acordo. A Sete Brasil, por sua vez, afirmou por nota que o jurídico da empresa ainda está analisando a carta de intenção de cancelamento do Estaleiro Atlântico Sul antes de responder que decisão tomará a respeito. Além disso, tem qualquer nova negociação financeira proibida por estar sob investigação da operação Lava-Jato.
O presidente do sindicato dos metalúrgicos de Pernambuco, Henrique Gomes, após a reunião de representantes da categoria com a diretoria do EAS ontem, disse que a empresa assegurou ser impossível aproveitar completamente a mão de obra que atuava no contrato da Sete Brasil para atuar nas encomendas da Transpetro.
“Primeiro, porque apesar de maior quantidade, as encomendas da Sete Brasil são mais rentáveis ao estaleiro que as da Transpetro. Segundo, porque a mão de obra que atua na construção de navios-sonda é mais qualificada que a navios petroleiros, ou seja, as demissões virão inevitáveis. “Tentamos negociar os dias sem atividade dos trabalhadores com o fim do contrato, que não receberiam até os acordos se restabilizarem, mas não houve acordo. É um contrato muito forte. É como se fosse o filé da indústria naval. Um navio-sonda e como uma plataforma de petróleo, vale três vezes o valor de um navio petroleiro”, complementou.
Hoje, a Sete Brasil tem reunião marcada com frentes sindicais da indústria naval e da metalurgia de vários locais do Brasil. Há, inclusive, uma manifestação nacional agendada para 4 de março, cujo pleito é que os empregos e os acordos firmados no segmento sejam mais sustentáveis e garantam a segurança do trabalhador. Ainda não há local definido em Pernambuco, mas será em frente ao Estaleiro Atlântico Sul ou da Petrobras. O EAS não se posicionou sobre qualquer assunto da reportagem.
A suspensão do contrato foi anunciada e confirmada pelo estaleiro na última sexta-feira por falta de pagamento por parte da Sete Brasil, empresa criada para construir navios-sonda e alugá-las à Petrobras. Os repasses estavam atrasados desde novembro do ano passado. A possibilidade viria de aporte do Banco Nacional do
Desenvolvimento (BNDES), com o qual a Sete Brasil tem empréstimo aprovado no valor de US$ 8,8 bilhões desde 2013 e não liberados por falta contrato. O BNDES não divulgou data para assinatura, mas garantiu não ser “a perder de vista”.