Em sua segunda operação no mercado externo desde o início do ano, a Petrobras captou ontem US$ 8,5 bilhões por meio de uma emissão de bônus seniores denominados em dólares. A demanda dos investidores superou US$ 23 bilhões, permitindo que os papéis ficassem levemente mais baratos para a companhia do que a indicação que ela própria havia dado ao mercado. Ainda assim, o custo subiu em relação à megacaptação de US$ 11 bilhões feita pela Petrobras em maio do ano passado, refletindo a piora na percepção de risco de países emergentes e da estatal em particular.
Os recursos serão usados para financiar o plano de investimentos da estatal para 2014- 2018, que soma US$ 221 bilhões, e também para o pagamento antecipado de dívidas. Ainda está em discussão que compromissos serão quitados.
Com a nova emissão, a estatal já captou US$ 20,5 bilhões no exterior neste ano, incluindo bônus e empréstimos, o que supre suas necessidades para 2014. Em janeiro, a Petrobras fez uma emissão de bônus denominados em euros e em libras com a qual levantou o equivalente a US$ 5,2 bilhões. Foram emitidos títulos em quatro tranches, com vencimentos em quatro, sete, 11 e 20 anos.
A operação de ontem foi dividida em seis tranches e prazos de três, seis, dez e 30 anos. Os bônus com os dois vencimentos mais curtos foram ofertados em duas tranches cada – uma com taxa fixa e outra com taxa flutuante. “Esse tipo de demanda mostra que há apetite por crédito da Petrobras”, afirmou Alexei Remizov, diretor de mercado de capitais do HSBC, que coordenou a operação ao lado de Bank of China, BB Securities, Bradesco BBI, Citi e J.P. Morgan.
A nova captação da Petrobras já era aguardada desde o fim do ano passado. O volume, porém, ficou acima da expectativa da empresa, que previa levantar entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões. “Foi muito bom, mas a companhia foi responsável [apesar de haver demanda para mais]”, disse Remizov.
Segundo ele, a Petrobras poderia ter captado um volume maior, mas optou por tomar apenas os recursos necessários mais uma margem de flexibilidade.
A Petrobras não se pronunciou sobre a emissão de bônus.
Captar mais implicaria custos adicionais e poderia aprofundar o temor dos investidores sobre o tamanho da dívida da estatal. Os bônus saíram com spreads sobre os títulos do Tesouro americano bem acima do patamar pago pela estatal em maio de 2013. Na tranche de dez anos, por exemplo, a Petrobras captou ontem US$ 2,5 bilhões com spread de 350 pontos-base sobre os Treasuries. No ano passado, a estatal levantou US$ 3,5 bilhões com spread de 260 pontos.
O movimento reflete uma alta nos custos de captação para países emergentes, mas também uma piora na percepção de risco do Brasil e da Petrobras.
Em junho, o Federal Reserve (Fed) começou a sinalizar a retirada de seu programa de estímulos monetários, o que provocou um deslocamento dos investidores para ativos mais seguros. “Com a redução dos estímulos do Fed, o risco dos emergentes aumentou e isso abriu os spreads e a curva do Tesouro”, afirmou Remizov.
Para um gestor de recursos, a Petrobras também pagou mais caro por questões inerentes à empresa. Há no mercado a leitura de que a estatal é instrumento de controle da inflação. Além disso, os investidores sabem que a empresa precisa de dinheiro e cobram por isso.
Fonte: Valor Econômico – Aline Oyamada e Talita Moreira | De São Paulo