BRASÍLIA e RIO – Em dificuldades após o escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato e da queda do preço do petróleo, a Petrobras foi a grande beneficiada pela visita do premier da China, Li Keqiang, ao Brasil. Após tomar emprestado US$ 3,5 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China (CDB) em abril, a estatal assinou dois acordos, num total de US$ 7 bilhões. Um deles é um financiamento de US$ 5 bilhões, com o CDB. O outro é um acordo de US$ 2 bilhões, com o China EximBank, que não prevê desembolso imediato, mas parcerias em projetos.
Foi fechado um acordo de cooperação para a criação de relacionamento de longo prazo entre Petrobras e Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), mas detalhes não foram divulgados. Técnicos envolvidos na confecção dos documentos asseguram que não se falou em contrapartidas como exigência de compra de equipamentos chineses ou fornecimento de petróleo.
“Convidei o governo chinês a participar na área de petróleo e gás de investimentos, tanto em refinarias quanto em estaleiros. Os acordos demonstram a confiança na Petrobras, mas ampliam a parceria que temos com as empresas chinesas CNPC e CNOOC no Campo de Libra na extração de petróleo do pré-sal” disse a presidente Dilma Rousseff.
No encerramento do fórum empresarial Brasil-China no Itamaraty, Dilma convidou os cerca de 200 empresários chineses a investir em infraestrutura e logística no Brasil:
— A China é um parceiro que investiu fortemente em infraestrutura na última década e busca novos caminhos. O Brasil, por sua vez, precisa dar um salto de investimentos.
Para analistas, os acordos eram a única saída da Petrobras diante da necessidade de recursos da companhia e do momento difícil no mercado externo.
— Pode resolver o sintoma, mas não a causa. Aumenta o endividamento — disse um executivo de banco estrangeiro que pediu para não ser identificado.
Para Thiago Buscuola, economista da RC Consultores, a operação dá fôlego à empresa, mas não muda o cenário:
— Não se sabe como será a política de preços de combustíveis, se continuará a forte ingerência política na gestão da estatal.
Para Buscuola, a China adota estratégia de investimento de longo prazo, com aposta nas reservas do pré-sal.
Neste ano, a Petrobras já captou R$ 41,4 bilhões. Da China, foram US$ 10,5 bilhões (R$ 31,9 bilhões), incluindo os valores divulgados nesta terça. Em abril, a estatal anunciou a captação de R$ 9,5 bilhões junto a Banco do Brasil, Caixa e Bradesco. Houve ainda um acordo para venda de plataformas de US$ 3 bilhões com o Standard Chartered Bank.
Outra empresa a se beneficiar da visita, a Vale acertou a venda de oito navios gigantes a duas empresas chinesas, além de financiamento de outros navios. A medida sacramenta a abertura dos portos do país a embarcações operadas pela Vale.
Um dos acordos prevê a venda de quatro Valemax (com capacidade de transporte de 400 mil toneladas de minério de ferro) à China Ocean Shipping Company (Cosco) por US$ 445 milhões. A Vale fechou acordo de cooperação com a China Merchants Energy Shipping (CMES) para a venda de mais quatro navios gigantes. Um memorando de entendimento com o Banco Industrial e Comercial da China prevê linhas de crédito de até US$ 4 bilhões para a mineradora. A Vale fez acordo com Cosco, CMES e Eximbank da China para que o banco possa fornecer crédito de até US$ 1,2 bilhão a cada uma das empresas, visando à prestação de serviços de transporte marítimo do minério da Vale.