Depois de um jejum mais de um ano, a Petrobras voltará ao mercado até o início de setembro para afretar dois novos FPSOs de grande porte. A diretoria da petroleira aprovou a liberação das licitações para o afretamento de uma unidade para Sépia e outra para Libra, cada uma com capacidade para produzir 180 mil barris/dia de óleo e programadas para entrar em operação em 2019 e 2020, respectivamente.
Entre as empresas a serem convidadas estão a Bluewater, Bumi Armada, BW, Modec, Saipem, Teekay e Yinson (ex-Fred Olsen). A Petrobras tenta trazer também a CNOCC, grupo chinês que é sócio em Libra. Por conta da operação Lava Jato, Odebrecht, Queiroz Galvão e SBM não serão convidadas. Nos corredores da estatal, comenta-se que as duas licitações devam ser conduzidos pelo sistema Petronet.
As licitações serão realizadas separadamente, sendo que a coordenação ficará a cargo da área de Serviços de Contratação de E&P e não mais da Área de Engenharia, conforme era feito na gestão de Graça Foster. Os dois editais devem ser lançados simultaneamente, com data de entrega de propostas diferenciada, a exemplo do modelo adotado na contratação dos FPSOs de Tartaruga Verde e do TLD de Libra, no início do ano passado.
Tanto no caso de Libra, quanto de Sépia, as unidades exigirão atenção especial à planta de gás e ao topside. Além dos 180 mil barris/dia, o FPSO piloto de Libra terá que ter capacidade para injetar 12 milhões de m³/dia de gás. Destinada à cessão onerosa, a unidade de Sépia terá que processar 5 milhões de m³/dia de gás.
A conversão será feita a partir do casco de VLCCs. A estimativa é de que o topside de cada uma das unidades gire entorno de 28 mil t. As duas unidades terão exigência de conteúdo nacional para atender as especificações contratuais, sendo que Libra terá um compromisso nacional maior que o praticado nos contratos de concessão e da cessão onerosa. Nos dois casos, a conversão será feita no exterior e construção e integração dos módulos no Brasil.
A entrega das propostas deverá ser marcadas para o fim de novembro ou início de dezembro. O plano da Petrobras é concluir o resultado da licitação em março de 2016, meta audaciosa tendo em vista o atual momento do mercado. No caso de Libra, o plano original da Petrobras era lançar o edital em maio.
A empresa vencedora da primeira concorrência poderá disputar a segunda unidade, mas terá garantida a opção de retirar sua proposta, caso julgue não ter capacidade para tocar as duas obras simultaneamente. Não se sabe ainda se a comissão de licitação terá também a mesma opção de desclassificar a proposta da empresa, caso considere que o grupo não tem condições técnicas e financeiras para arcar com a conversão de dois FPSOs.
Com poucas empresas liberadas para assinar novos contratos com a Petrobras, as licitações de Libra e Sépia estão sendo vistas como grande teste aos novos tempos. No mercado, a percepção é de que não será surpresa se as taxas diárias destas licitações girarem na faixa de US$ 900 mil a US$ 1 milhão, apesar da queda de preço do mercado.
Em tempos de Lava Jato e de controle dos procedimentos, a dúvida é como a Petrobras conduzirá as negociação de taxa diária, até então comum em suas licitações. Diante das dificuldades enfrentadas no setor, são grandes as chances de as duas concorrências se arrastarem pelo segundo semestre de 2016.
Informalmente, a Petrobras tem reforçado que está impedida de contratar qualquer empresa que esteja listada no bloqueio cautelar ou citada na Lava Jato, mas que não há restrição para que esses grupos sejam subempreitadas, desde que a empresa contratante assuma todos os riscos de compliance e garantias.
As obras de conversão deverão ter prazo de 30 meses e o prazo de afretamento será de 20 anos. Com os problemas enfrentados pelos estaleiros nacionais, a aposta é de que a etapa de construção dos módulos e integração acabe limitada às instalações do Brasa, Brasfels e Ferrostal. Dependendo do andamento de suas obras, o Estaleiro Jurong Aracruz poderá vir a ser utilizado como opção à etapa de integração.