RIO E BRASÍLIA – Com elevado nível de endividamento, a Petrobras vai apertar os cintos novamente. Nesta segunda-feira, a estatal informou que a previsão de investimentos em 2015 foi reduzida de US$ 28 bilhões para US$ 25 bilhões. Para 2016, o orçamento previsto passou de US$ 27 bilhões para US$ 19 bilhões. Ou seja, a companhia cortou US$ 11 bilhões em novos investimentos em dois anos. Assim, o Plano de Negócios 2015-2019, que era de US$ 130,3 bilhões, passou para US$ 119,3 bilhões — um recuo de 8,4%. De acordo com especialistas, os cortes vão prejudicar o aumento de produção de petróleo para os próximos anos.
A diretoria tomou a decisão de anunciar o corte na tarde de segunda-feira após avaliar que era preciso dar mais um sinal forte ao mercado de que a empresa fará o que for preciso para equilibrar as contas. Para a cúpula da estatal, mesmo após o anúncio de reajuste da gasolina em 6% nas refinarias, a percepção do mercado é que o aumento não seria suficiente para resolver problemas de caixa da estatal. A companhia não pretendia formalizar o corte de investimentos este mês. Como definiu uma fonte do governo, a ideia era “segurar no braço”, ou seja, conter o gasto, mesmo sem um anúncio oficial. Após a reunião da diretoria, porém, foi decidido antecipar o anúncio.
Cortes em todas as áreas
Como parte da tentativa de recuperar a credibilidade da estatal, todas as áreas serão atingidas pelos cortes, inclusive Exploração e Produção, menos afetada até então. Desta vez, a restrição afetará a contratação de sondas, exploração e projetos que estavam em banho-maria. A intenção é reforçar três pilares: política de preços independente, cortes de investimentos e venda de ativos.
No comunicado, a Petrobras atribui os cortes ao preço do petróleo e à taxa de câmbio. O plano da empresa previa o preço do barril de petróleo a US$ 60 este ano. Na segunda-feira, ele fechou a US$ 49,15. Além disso, a estatal esperava câmbio a R$ 3,10 no ano. Na segunda, o dólar fechou a R$ 3,902.
— A redução de investimento é positiva. Mas não há clareza nesse nível de corte. Uma preocupação é como a companhia vai impulsionar a produção futura, sobretudo no pré-sal, onde há muito trabalho a fazer — avalia Claudio Pinho, professor da Fundação Dom Cabral.
A estatal informou que manteve inalteradas suas metas de produção para esse ano, de 2,125 milhões de barris por dia, e de 2,185 milhões de barris diários em 2016. David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), lembrou que, como reflexo do menor volume de investimento, as metas de produção futuras serão comprometidas. Antes da Operação Lava-Jato, a estatal previa produzir, em 2020, 4,2 milhões de barris diários, número que caiu para 2,8 milhões, em previsão feita em junho.
— A dívida é o principal problema. Só com sua geração de caixa, a Petrobras não consegue administrar isso. Ela continua importando combustível, o que pesa nas contas — destacou Zylbersztajn.
Segundo previsão de consultorias, a dívida da estatal chegará a R$ 500 bilhões em setembro, ante R$ 415,5 bilhões em junho. A estatal disse que cortará outros US$ 7 bilhões até 2016 em custos. Em relação ao plano de desinvestimentos, manteve a meta de vender US$ 15,1 bilhões em ativos até o fim de 2016, dos quais US$ 700 milhões neste ano. A empresa disse que tem “compromisso em atuar com disciplina de capital e rentabilidade”.