A Petrobras iniciou no final de agosto um grande estudo para mapear a capacidade de fornecimento da indústria de bens e serviços no país e sua estrutura para atender à demanda da empresa entre 2020 e 2030. O trabalho será usado, de acordo com a estatal, para direcionar ações de fortalecimento da cadeia de fornecedores.
Algo em torno de 70 empresas foram convidadas a participar do estudo, que está sendo comandado pela Gerência de Conteúdo Local do Gabinete da Presidência da Petrobras (Gapre), comandada por Edival Dan Júnior.
Também foram criados grupos de trabalhos multidisciplinares envolvendo as áreas de negócios, a diretoria de Engenharia e o próprio Gapre. “Cada grupo será responsável pela análise dos dados coletados por meio da aplicação de um questionário eletrônico a ser preenchido pelas empresas convidadas. Em alguns casos, além do formulário, poderá ser realizada uma pesquisa presencial”, informa carta enviada por Dan Júnior aos fornecedores no final de agosto.
O estudo elaborado pela Petrobras foi dividido em sete partes: dados cadastrais, plantas industriais e regime de produção, capital humano, dados financeiros e de tributação, características do mercado e de fornecedores, pesquisa, desenvolvimento e inovação e fatores críticos para o sucesso.
No questionário, a Petrobras tenta levantar quais os indicadores de competitividade e produtividade que a empresa usa e também quais os gargalos de cada empresa para competitividade. Também questiona como cada empresa financia seu capital de giro e seus investimentos e os gargalos para obter financiamento.
Entre as convidadas para responder à pesquisa estão empresas envolvidas na Operação Lava Jato incluídas no bloqueio cautelar. Ali estão os principais EPCistas e estaleiros do país.
A Petrobras também estima que o estudo possa ajudar a formar, caso seja identificada demanda, novos fornecedores para o suprimento de bens e serviços no longo prazo.
Esta não é a primeira vez que a petroleira faz um trabalho como este. Em 2010, o Prominp, então coordenado por José Renato de Almeida, realizou o projeto que tinha como objetivo dimensionar a capacidade da cadeia produtiva, e analisou 25 setores da indústria nacional.
O estudo da Petrobras, contudo, foi recebido com certo receio por grande parte da indústria. Teme-se que parte das respostas possa ser usada pela estatal para pedir flexibilização de conteúdo local nos projetos de E&P.
A Petrobras já tem hoje algo em torno de 20 FPSOs a contratar para a próxima década. São 10 novas unidades para produção na área de Libra, a primeira da partilha de produção da Bacia de Santos, e outras 10 quando sair o contrato do Excedente da Cessão Onerosa, que aguarda a revisão da cessão onerosa para ser contratado.
Se entrar nessa conta os outros dez projetos adiados na revisão do seu atual Plano de Negócios (2015/2019), o número sobe para 30 FPSOs. Uma demanda significativa e em linha com o que está programado para toda esta década.
O Plano Decenal de Energia, elaborado pela EPE e que o MME recentemente colocou em consulta pública, prevê a entrada em operação de 30 novos FPSOs no país entre 2020 e 2024, sendo 26 unidades de produção com conteúdo local e outras quatro, sem conteúdo local.
Somente em 2021, a EPE estima que 12 novos FPSOs entrem em operação, o que pode significar um recorde significativo na ampliação de capacidade de produção em um mesmo ano. A estatal, contudo, não informa que projetos estão contemplados em sua previsão.
Desde maio, quando apresentou sua demanda na OTC, em Houston, a Petrobras vem informando aos fornecedores que se preparem para uma nova onda de fornecimento. A contratação do primeiro FPSO definitivo para a área de Libra, atualmente em licitação, deve ser um dos marcos dessa nova onda.
A avaliação interna é que a opção pelo afretamento dos novos FPSOs, aliada às mudanças que estão sendo programadas pela ANP para o conteúdo local e ao conhecimento adquirido nos últimos anos com a contratação e construção de plataformas no país, vão dar maturidade ao mercado de construção.
A decisão de partir para o afretamento das unidades de produção busca tirar da Petrobras e de seus sócios o peso dos investimentos, deixando o risco e os custos para os afretadores de FPSOs. Todas as unidades, porém, continuarão sendo, ao menos, integradas no país.
A Petrobras está inclusive trabalhando para atrair ao Brasil moduleiros para a construção de unidades de remoção de sulfato, remoção de H2S, módulos elétricos e de automação, exportação e compressão de gás natural. A ideia é trazer novas empresas para participar dos projetos de Libra e dos excedentes da cessão onerosa.
A preocupação da estatal com a competitividade fez a empresa reabilitar a SBM Offshore para as licitações dos FPSOs de Libra e Sépia, que têm entrega de propostas prevista pra 10 de dezembro.
A decisão foi tomada após uma autorização prévia dada pela CGU e pelo MPF após questionamento feito pela estatal aos órgãos de controle.
O convite para participação da concorrência do FPSO de Libra ainda depende da aprovação dos sócios da Petrobras no projeto – Total, Shell, CNOOC, CNPC e PPSA. Não é de se esperar que exista resistência dos parceiros da estatal na área de partilha da produção para a entrada de mais um competidor no projeto, ainda mais se tratando de uma plataforma de grande porte com o desafio de uma planta de compressão de gás natural com capacidade para 12 milhões de m³/dia.
Esta ainda não é uma solução definitiva para que a SBM Offshore participe das futuras concorrências da Petrobras. A empresa continua trabalhando com o CGU e o MPF para conseguir um acordo final, que pode sair antes da entrega das propostas, marcada para 10 de dezembro.
A decisão que reabilitou a holandesa – que diga-se de passagem nunca fez parte do bloqueio cautelar – fez as demais empresas envolvidas na blacklist da Petrobras enxergarem uma luz no fim do túnel. E há mais motivos para isso.
A Petrobras já está avaliando as respostas dos prestadores de serviço e fornecedores de equipamentos ao seu questionário de compliance, passo inicial para a liberação de algumas empresas do bloqueio cautelar. Os últimos questionários foram recebidos em meados de setembro e a expectativa da petroleira é ter os pareceres finais até meados de novembro.
A mensagem entre os fornecedores foi de que o questionário fosse respondido de forma bastante criteriosa. Algumas empresas optaram pela estratégia de distribuir o questionário a quase todos os seus funcionários como forma de se resguardar.
Foram solicitadas informações sobre eventuais relações de executivos e funcionários das prestadoras de serviço e fornecedoras com políticos, funcionários da Petrobras e agentes de governo. Também foram requeridas informações sobre a gestão de compliance de cada empresa.
Em conversas informais com fornecedores, executivos da Petrobras têm confidenciado que a proposta é concluir a análise e o posicionamento sobre o futuro de cada empresa até meados de novembro. O aconselhamento às empresas tem sido no sentido de que sigam trabalhando normalmente, pois caso sejam desbloqueadas já estariam prontas para participar de novas licitações.